A viagem que tinha tudo pra dar errado
Senta aí que vem textão para encerrar essa lonnnnga série de posts sobre a nossa viagem à Tanzânia, Quênia e Zanzibar.
Como viajamos durante a pandemia, eu não sabia sequer se sairíamos de São Paulo.
Primeiro, tinha o risco de o voo da Gol para São Paulo ser cancelado (por razões de Covid, muitos voos estavam sendo cancelados) e perdermos o nosso voo internacional.
Se conseguíssemos chegar em São Paulo, ainda tínhamos que passar pelo temido teste de Covid para descobrir se a Qatar Airways nos deixaria embarcar.
Se chegássemos são e salvos a Doha, no Catar, a nossa conexão era tão apertada que não sabíamos se conseguiríamos pegar o voo de conexão para a Tanzânia. E, mesmo que desse certo, será que as malas também seriam embarcadas no voo de conexão a tempo?
[Vocês viram nos stories como foi a nossa conexão a jato em Doha? E sim, as mochilas chegaram no Kilimanjaro Airport junto conosco 🙏]
Logo depois de desembarcarmos na Tanzânia, tínhamos outro desafio: entrar no Quênia, pela fronteira terrestre - o que, em tempos de pandemia, poderia não ser tão fácil quanto parece, especialmente para brasileiros.
Não descobri ninguém que tivesse tentado fazer isso nos meses que antecederam a nossa viagem...tínhamos um hotel e um safari maravilhosos planejados lá no Quênia (a única reserva desta viagem era este hotel, todo o resto era uma grande incerteza!), e o jeito era cruzar os dedos e ir confiando na sorte!
O visto da Tanzânia não me preocupava, pois era aparentemente fácil de comprar - embora eles tenham inesperadamente nos pedido para ver os testes de Covid, o que nos fez PERDER os malditos testes em algum lugar do aeroporto.
O transfer do aeroporto para Arusha também não me preocupava muito, porque estava acertado com o cara que organizou o nosso safari na Tanzânia; mas o transfer de Arusha para Namanga, na fronteira queniana, era uma incógnita: eu não tinha certeza se o cara iria mesmo aparecer, porque descobri ele nas profundezas do Google.
[Ele apareceu, e ainda desencavou 2 girafas no meio da estrada para nos dar as boas-vindas!]
No caminho para o Quênia, quase chegando na fronteira, fui separar os documentos necessários pro visto queniano e cadê os malditos testes de Covid?? Tinham criado pernas e saído voando da minha mochila! E agora??
Simmm, conseguimos PERDER nossos testes negativos de Covid - eu sei, somos 2 idiotas, imagina o desespero depois de todo o esforço que foi para CONSEGUIR os malditos exames!
Veja mais:
Como é fazer o exame de Covid no Aeroporto de Guarulhos
Com certeza eu esqueci da pastinha com os laudos dos testes quando apresentei nossos exames no Aeroporto de Kilimanjaro, apenas algumas horas antes, quando desembarcamos na Tanzânia!
Por sorte, lembrei que eu tinha uma foto do nº de protocolo dos exames no laboratório de Guarulhos e, com o nº de protocolo, consegui entrar no site do laboratório e resgatar nossos testes! Depois foi só descobrir uma biboquinha ali na fronteira, onde pagamos U$ 2 e reimprimimos os testes novamente!
Pura sorte! Mas até atinar essa possibilidade foram momentos de puro pânico 😱
Os vistos quenianos foram, portanto, a função que já imaginávamos: um fim de mundo incrível que é Namanga Border Town e nós atrás de um boteco com impressora para reimprimir os testes, o sol torrando, uma noite mal-dormida no avião, as mochilas pesando nas costas, aquela bagunça e muvuca pesada, pessoas meio mal encaradas, vigaristas de toda espécie, cenário típico de lugares fronteiriços com no man's land...
Para resumir: levou quase 2hs e litros e litros de saliva, muita simpatia brasileira, mas conseguimos sim os vistos quenianos, mesmo sendo o Brasil um dos únicos lugares do mundo que aparentemente estava excluído da lista dos países que podem entrar no Quênia sem quarentena 💪
Embora em tudo que é lugar dissessem que não era necessário apresentar teste negativo de Covid para entrar na Tanzânia - inclusive no site do consulado! - eles exigiram de nós sim! E tiraram a nossa temperatura corporal também, assim como na fronteira terrestre: tinha médico do lado da Tanzânia examinando e médico do lado do Quênia também!
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fronteira entre Quênia e Tanzânia no vilarejo de Namanga |
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visto queniano |
Depois de tudo isso, ainda havia a incógnita de descobrir se a mulher que havia me alugado um carro queniano ia mesmo aparecer lá no posto de fronteira para nos entregar o tal carro!
Pois é, eu também descobri ela nas profundezas da internet, porque parece que nunca nenhum turista alugou um carro em Namanga para devolver em Nairóbi, e NINGUÉM tinha dicas pra me dar!
Enfim, descobri a mulher no Google (o nome dela era Jane) em Nairóbi e a convenci a levar um carro de aluguel até Namanga para me entregar. Ela me cobrou antecipadamente U$ 90 pelo serviço, e foi o único valor que paguei em reservas antecipadas em toda viagem - porque né, eu não sabia nem se iria conseguir sair de Porto Alegre, quem dirá entrar no Quênia...como que eu ia pagar por reservas antecipadas!?
Paguei os U$ 90 rezando que ela aparecesse em Namanga e não me desse um golpe, e ela não só apareceu, como também foi muito querida ao nos entregar o seu querido Toyota RAV 4!
Não foi simples a logística de chegar pelo Aeroporto Kilimanjaro na Tanzânia e inventar de viajar pelo Quênia no mesmo dia, em tempos de pandemia, por conta própria, e de carro alugado, pois não é possível alugar um carro na Tanzânia e levá-lo para o Quênia!
Por fim, viajamos na época das chuvas na Tanzânia e no Quênia, então ainda havia o risco de passarmos dias e dias debaixo de muita chuva 😜
[Logo de chegada, vimos o Monte Kilimanjaro por cima e por baixo e ainda pegamos só dias de sol e céu muito azul!]
Eu nem acreditei quando entramos no Quênia, pegamos nosso carro alugado e saímos acelerando em direção ao Amboseli num dia ensolarado! Parecia que aquele momento nunca ia chegar.
Numa viagem fadada ao insucesso, com tantas coisas que poderiam ter dado errado - e todas elas com grande potencial para destruir nossas férias - TUDO deu 100% certo!
A partir daí, só precisávamos seguir contando com a parceria de São Pedro para nos garantir uma viagem perfeita, e ele fez a parte dele com louvor!
Então, pra definir tudo o que aconteceu, só apelando pro velho ditado popular: a sorte acompanha os audazes!
Se tivéssemos ficado quietinhos em casa, não teríamos passado por todo esse stress, mas também não teríamos feito uma viagem es-pe-ta-cu-lar!
Deu absolutamente tudo certo, mas poderia ter dado TUDO errado. O teste de Covid poderia ter dado positivo, os voos poderiam ter sido cancelados, o Quênia poderia ter nos negado os vistos, as agências de safari poderiam ter nos dado golpes, poderíamos ter contraído malária ou Covid ou, pior ainda, Ebola.
A gente nunca sabe se tomou a decisão certa até sofrermos as consequências de uma escolha malsucedida.
A gente só vai saber se acertou assumindo riscos.
Como escreveu Kierkegaard, atrever-se, assumir riscos, é perder o pé momentaneamente. Não se arriscar é perder-se a si próprio para sempre.
Já esteve no Quênia, Tanzânia ou Zanzibar? Conta pra gente! Deixe as suas dicas nos comentários!
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