Como são as visitas a aldeias Masai no Quênia e na Tanzânia.
Não vá pensando que você vai fazer um ''tour cultural visitando os Masai'', como se eles fossem um item da sua 'bucketlist' para conhecer, e ainda assim terá uma experiência genuína.
Não dá, certamente não vai ser uma coisa autêntica.
Mas, se você aproveitar a sua viagem ao Quênia ou à Tanzânia para fazer uma visita a um povoado Masai com um bom guia, com certeza pelo menos aprenderá muito sobre este povo tão único e interessante.
Se você se interessa por conhecer outros povos e culturas, tradições e costumes, eu recomendo muito uma visita a um povoado Masai - mesmo conhecendo todas as questões "morais" envolvidas e discussões antropológicas sobre "zoológicos humanos" e #PovertyPorn!
Vem comigo, que no caminho eu te explico tudo!
Leia também:
visitando um povoado Masai no norte da Tanzânia |
eta, povo expressivo e fotogênico! |
encare a sua visita a uma aldeia Masai como uma chance única de aprender mais sobre esta etnia de guerreiros |
Masai, Maasai ou Massai
Masai, Maasai ou Massai, qual a escrita correta?
Não sei!
De fato, já pesquisei bastante e já vi escrito de todas essas 3 formas em sites "oficiais", então acho que não há apenas uma forma 'certa' de escrever o nome deste povo.
O Parque Masai Mara, no Quênia, por exemplo, é sempre escrito na forma "Masai".
Em sites e guias escritos em inglês, a forma mais comum é "Maasai". Já em sites e textos escritos em português, a forma mais comum é "Massai" - do que eu acabei concluindo que qualquer uma das 3 formas está correta!
Masai, Maasai ou Massai? |
as mulheres Masai não sossegam enquanto não te vendem alguma bijoux |
guerreiros Masai no norte da Tanzânia |
Como são as visitas às aldeias Masai
Como vocês acompanharam pelos stories, durante a nossa última viagem à África nós fomos conhecer uma Maasai Village.
Para quem visita o Quênia ou a Tanzânia, conhecer os Masai é sempre um item da 'wishlist'. Mas, como escrevi acima, não dá para ir pensando que vamos fazer um ''tour cultural'' e ter uma experiência muito autêntica.
Realmente não rola - não acredite que vai ser um passeio muito genuíno, que neste caso a decepção será grande.
Mas, sim, posso garantir que, se você aproveitar a sua viagem ao Quênia ou à Tanzânia para fazer uma visita a um povoado Masai com um bom guia, certamente irá, no mínimo, aprender muito sobre este povo tão "exótico".
nosso guia Masai - foi ele quem nos 'apresentou' o povoado onde vive, perto de Mto Wa Mbu |
os homens e as crianças tentavam se comunicar conosco; já as mulheres mantêm uma certa distância e evitam o contato |
Vou contar aqui como foi a nossa visita a uma aldeia Masai nos arredores de Mto Wa Mbu, durante nosso safari pelo norte da Tanzânia, mas saiba que existem dezenas de Maasai Villages espalhadas por ambos os países - nós vimos povoados Masai pertinho de Nairobi, perto de Arusha e também na área de conservação Ngorongoro, onde eles estão autorizados a viver.
No Kibo Safari Camp, onde nos hospedamos no Quênia, eles inclusive organizam visitas a uma aldeia Masai que fica bem ali pertinho, nos arredores do Parque Amboseli. Toda vez que entrávamos e saíamos do hotel tinha um Masai ali no estacionamento nos convidando para ir visitar o seu vilarejo.
Ou seja, você pode escolher o vilarejo Masai que quiser visitar - nós optamos por esta vila porque o guia do nosso safari nos recomendou, dizendo que seria uma boa opção.
toda vez que entrávamos e saíamos do Kibo Safari Camp tinha um Masai ali no estacionamento nos convidando para ir visitar o seu vilarejo |
você vai encontrar homens e mulheres Masai por todos os cantos no Quênia e na Tanzânia |
Para visitar o povoado Masai em Mto Wa Mbu, eu e o Peg pagamos 30 mil schilings por pessoa, que dá um pouco menos de U$ 15 (para cada um).
O dinheiro que pagamos para fazer a visita, embora seja um passeio caro, foi bem investido, na minha opinião, e fiquei feliz porque entreguei o $$ direto na mão dos Masai, sem intermediários para explorá-los - ou seja, o nosso dinheiro realmente serviu para ajudar aquela aldeia.
Se puder, vá direto a um povoado e faça a sua visita sem intermediação de agências de viagem - que ficam com mais da metade do dinheiro cobrado - ao invés de repassá-lo aos Masai.
Não tem cabimento você contratar uma empresa de turismo francesa ou inglesa (tem várias), ou mesmo brasileira, para te levar a um vilarejo Masai! Eles vão embolsar a maior parte da grana que você vai pagar pela experiência e os Masai vão te chatear muito querendo te vender artesanato para ganhar algo com a sua visita, entende? Faça um esforço e encontre uma agência local para te levar!
tente entregar o $$ do seu ingresso diretamente em mãos Masai, evitando pagar comissões a terceiros |
Durante a visita, os Masai fazem uma dança típica de boas-vindas, fazem a famosa cerimônia dos pulos, te levam para conhecer as casas deles por dentro, explicam tudo sobre as técnicas de construção das moradias, sobre os costumes das famílias, visitamos a 'escola' das crianças e, finalmente, te levam ao 'mercado'.
Essa é a parte chata da visita, pois eles ficam pedindo insistentemente que tu compres algum artesanato produzido pelas mulheres Masai e, se tu não estás com vontade de comprar nada, fica uma situação meio constrangedora.
Essa parte do passeio eu realmente não gostei, pois já havia comprado tudo o que eu poderia carregar no mercado de Arusha (onde eles também são muitoooo insistentes), mas, como já passei por situações assim muitas outras vezes nesse tipo de "tour cultural", já consigo sair bem destas saias justas.
Acho bom avisar porque, para quem não está acostumado com esse tipo de situação, pode acabar sendo bem constrangedor mesmo. Se você já visitou mercados asiáticos (na Índia, por exemplo) ou africanos (os piores exemplos são o Marrocos e o Egito), ou até turcos ou sul-americanos (Peru, Bolívia), sabe bem do que eu estou falando.
Claro que, podendo comprar alguma coisa, sempre é legal poder ajudar as mulheres. Eu mesma ajudei comprando bijoux, dando dinheiro trocado, distribuindo canetas (elas pedem muito material escolar para os filhos - se puder, leve!), mas, infelizmente, você não vai conseguir acabar sozinha com a fome na África e, quanto mais você dá, mais mulheres vão aparecendo querendo vender seus artesanatos também - então chega um ponto em que você tem que ser firme e dar um basta.
Pense que, no momento em que tu pagas um ingresso de U$ 15 para visitar a vila (que não é nada barato, para os padrões africanos), eles não deviam ainda ficar insistindo nas vendas, porque isso se torna aborrecido e espanta os turistas.
A nossa visita à tribo Masai de Mto Wa Mbu durou pouco menos de 1h, e foi bem interessante e, especialmente, fotogênica.
as mulheres Masai são lindas! |
poucos Masai falam inglês; os sorrisos são a melhor forma de comunicação por lá |
estes colares Masai são um arraso - você não vai se arrepender se comprar um - dá até para colocar numa moldura e pendurar na parede da sua casa! |
a "escola Masai" que visitamos era precaríssima... |
durante a visita, os Masai fazem uma dança típica de boas-vindas |
Onde encontrar Masais e porque visitar uma aldeia
Como mencionei acima, existem dezenas de aldeias Masai espalhadas pela Tanzânia e pelo Quênia que você pode visitar - basta escolher uma!
Mas também vale lembrar que, antes de viajarmos, nós pensávamos que os Masai eram de fato um povo super 'exótico', que fosse raro encontrar um Masai, e que, para ver um Masai ao vivo e a cores, teríamos que, obrigatoriamente, visitar uma aldeia Masai...ledo engano!
Para encontrar Masais na Tanzânia e no Quênia, basta sair do aeroporto e abrir os olhos - eles estão por todos os lados: nas filas de bancos, trabalhando nos hotéis, nas ruas de Arusha, nos acostamentos das estradas, em todo lugar!
Só se vê eles nesta região, por todos os lados!
Viajando pelo interior da Tanzânia e do Quênia de carro, víamos povoados Masai, com suas casas circulares de barro, bosta e teto de palha, e grandes rebanhos de cabras, por todos os cantos!
encontrei mulheres Masai até na fila do banco no Quênia |
para encontrar Masais na Tanzânia e no Quênia, basta sair do aeroporto e abrir os olhos |
os Masai estão por todos os lados |
Então porquê visitar uma aldeia Masai?
Nós realmente nos fizemos esta pergunta - para quê ir visitar um povoado, pagar por um "tour cultural", se já tínhamos visto centenas de Masai nas nossas andanças pelo interior da Tanzânia e do Quênia?
Inclusive, mesmo antes de fazer a visita à tribo Masai de Mto Wa Mbu, já tínhamos plena consciência de que seria um programa meio "enlatado", "para turista ver", e não fomos com expectativas de que fosse ser uma visita muito autêntica ou genuína.
Mas existem duas boas razões para visitar um vilarejo Masai:
1) Para aprender mais - claro que você pode ler, se informar pela internet e tal, mas, para conhecer realmente um povo e suas tradições, nada supera uma visita pessoal, entrar nas suas casas, ver como vivem (ou como viviam), onde dormem, o que comem, como constroem suas casas, etc. E isso a gente não aprende simplesmente vendo os Masais passarem por nós na rua. Não tendo outra alternativa - bom mesmo seria um convite espontâneo de um Masai para conhecermos sua família, mas isso é muito raro, né! - o jeito é fazer uma visita "turística";
a única forma de conhecer uma moradia Masai por dentro é visitando uma aldeia da tribo |
2) Para poder fotografar - fotografar pessoas nas ruas contra a vontade delas é terrível. Às vezes, a gente acaba fotografando alguém de longe, sem que a pessoa veja, sem má intenção, mas, se a pessoa se recusa expressamente a ser fotografada, obviamente você não pode forçar a barra.
Logo que chegamos ao Quênia, estávamos filmando na estrada e, bem adiante, vinha uma mulher Masai pelo acostamento. Continuamos filmando, até que ela nos gritou - e então ficou óbvio que ela não queria ser filmada - e paramos imediatamente de gravar.
Veja aqui: Quênia: vídeo de viagem
logo na chegada ao Quênia, percebemos que os Masai não gostam de ser fotografados sem autorização |
Mas, para quem, como nós, ama fotografar, é muito difícil ver um povo tão lindo, colorido e "exótico" e se conter para não fotografar - chega a dar uma coceira na ponta dos dedos!
Então, depois disso, a solução que encontramos para não desrespeitar ninguém foi sempre pedir autorização às pessoas antes de fotografá-las - e saiba que a maioria dos Masai só se deixa fotografar mediante pagamento.
Sendo assim, uma visita a um povoado Masai é a melhor forma de tirar muitas fotografias "autorizadas" e evitar constrangimentos!
Ah, e se você puder levar uma câmera do tipo Polaroid, é o meu sonho de consumo para estas viagens! Eu adoraria poder imprimir algumas fotografias ali mesmo e deixar de presente para aquelas mulheres - tenho certeza que elas amariam a recordação!
Além, é claro, de todo o material escolar que você puder carregar: se puder, leve lápis de cor, giz de cera, lápis, canetas, cadernos, borrachas, réguas, canetinhas e todas essas coisas úteis para presentear as crianças Masai! Acho que não há presente melhor!
E, se você não gosta de dar esmolas, a melhor maneira de "negociar" uma fotografia com os Masai é trocando a foto por material escolar!
rostos amargurados, vincados pelo sol e pela vida difícil |
os Masai são certamente um dos grupos étnicos mais fotogênicos do mundo |
a tentação de fotografar tudo e todos é gigantesca, a gente precisa se segurar! |
olhares penetrantes |
Quem são os Masai
Tanto no Quênia quanto na Tanzânia existem dezenas de tribos diferentes, mas nenhuma delas é tão conhecida e estudada quanto a dos Masai - talvez justamente devido aos seus costumes e vestimentas tão peculiares, e também ao fato de eles viverem muito próximos aos famosos parques Amboseli, Masai Mara, Serengeti e Ngorongoro, todos muito visitados por turistas do mundo inteiro.É difícil encontrar um folheto de turismo queniano ou tanzaniano que não tenha pelo menos uma foto de um Masai.
nenhuma etnia africana é tão conhecida e estudada quanto a dos Masai |
Os Masai são um grupo étnico africano de seminômades que vive até hoje praticamente como viviam há séculos atrás, no sul do Quênia e no norte da Tanzânia, ao longo do Vale do Rift, em terras semi-áridas e áridas.
É um povo orgulhoso, de pastores e guerreiros corajosos, que migraram progressivamente do Egito (do Vale do Nilo) para o sul, pelo Vale do Rift, chegando às savanas do que hoje são o Quênia e a Tanzânia no final do século 18.
A população total de Masais não chega a 1 milhão, chegando aproximadamente a 453 mil no Quênia e 430 mil na Tanzânia, mas as estimativas das populações Masai em ambos os países não é muito certeira devido à natureza nômade desse povo e ao fato de que eles são o único grupo étnico autorizado a viajar livremente entre as fronteiras do Quênia e da Tanzânia.
Os Masai dividem o seu tempo procurando fontes de água (trabalho das mulheres) e cuidando do gado (trabalho dos homens). Os Masai vivem praticamente da criação de gado, e é daí que obtêm a maior parte dos seus alimentos e recursos para trocas ou comércio.
O trabalho dos homens resume-se ao pastoreio dos animais, a proteger o gado de eventuais ataques de animais selvagens - por isso sempre carregam suas lanças - e a cuidar da segurança do assentamento, chamado de boma.
todos os folhetos de turismo quenianos ou tanzanianos trazem fotos do povo Masai |
o trabalho dos homens Masai se resume a cuidar do gado e da segurança do assentamento, chamado 'boma' |
Tradicionalmente, a moeda de troca deles é o gado e, quanto mais cabeças de gado um Masai tiver, mais rico e importante será - a classe social é determinada pelo número de vacas que cada família possui.
Sendo uma sociedade patriarcal, as decisões importantes são tomadas pelos homens mais velhos.
O trabalho das mulheres é conseguir água, cozinhar, construir as moradias, cuidar dos filhos, recolher lenha, lavar roupas e outras tarefas domésticas. Como a maioria das 'bomas' não possuem fonte própria de água, às vezes elas precisam caminhar léguas para buscar água!
As mulheres só podem casar uma vez na vida; já os homens podem ter quantas esposas puderem sustentar, desde que tenham vacas suficientes para pagar o dote à família da futura esposa.
Hoje em dia os Masai também têm o turismo como fonte de renda - atualmente quase todas as tribos oferecem uma visita guiada no vilarejo, para que os visitantes possam conhecer mais sobre o seu modo de vida.
Hoje em dia os Masai também têm o turismo como fonte de renda - atualmente quase todas as tribos oferecem uma visita guiada no vilarejo, para que os visitantes possam conhecer mais sobre o seu modo de vida.
O turismo é a principal fonte de recursos no Quênia e na Tanzânia, e os Masai obviamente também querem se aproveitar desses recursos.
O idioma Masai é o 'maa' - e é dificílimo pronunciar qualquer palavra. A melhor forma de comunicação numa visita a uma aldeia Masai são os sorrisos.
Os Masai já foram muito temidos e possuem uma beleza muito própria deles: são, na sua maioria, altos e esbeltos, bem magros.
Eles são muito orgulhosos das suas tradições culturais e tentam preservá-las, mas já é fácil perceber a influência do mundo moderno nas suas rotinas - todos eles têm celular, por exemplo!
quanto mais cabeças de gado um Masai tiver, mais rico e importante será |
pra variar, as mulheres Masai ficam com o trabalho pesado: conseguir água, cozinhar, construir as moradias, cuidar dos filhos, recolher lenha e lavar roupas |
Alimentação dos Masai
Os Masai têm realmente alguns hábitos bem exóticos, e talvez o mais bizarro dos costumes Masai que conhecemos seja o fato de beberem sangue de gado.Simmm, além de comer a carne e tomar o leite das vacas que criam, eles também bebem o sangue do gado!
os Masai vivem do turismo e da criação de gado - especialmente bovinos e caprinos - é daí que obtêm a maior parte dos seus alimentos e recursos para trocas ou comércio |
Moradias dos Masai
Um dos Masai da tribo foi nosso guia durante a visita ao vilarejo, nos mostrando como as moradias são construídas - pequenas cabanas circulares feitas de esterco de vaca e de elefante, barro, gravetos de acácia e palha, chamadas Kraal.Ele também nos levou para visitar sua casa, e nos mostrou como são as moradias por dentro - com ventilação mínima.
Dentro da 'Kraal' tinha uma mini-fogueira, onde eles cozinham, dormem e socializam. Fiquei apenas alguns minutos ali dentro, enquanto ouvíamos as explicações dele, sentada na "cama" deles (um couro de animal), e fiquei sufocada!
Até hoje não consegui entender por qual motivo eles cozinham ali dentro, naquele espaço apertado e sufocante - infelizmente não consegui perguntar porque não fazem o fogo e cozinham do lado de fora da cabana...além da péssima circulação de ar, ainda tem o risco de incêndio!
Só de me imaginar vivendo ali dentro daqueles tetos baixos, sem ventilação, com um monte de filhos amontoados, naquele espaço minúsculo, cheio de esterco, cinzas, poeira, um calor dos infernos...já fiquei passando mal!
os Masai vivem em pequenas cabanas circulares feitas de esterco de vaca e de elefante, barro, gravetos de acácia e palha, chamadas 'Kraal' |
fiquei apenas alguns minutos num dos cômodos de uma moradia Masai e quase derreti |
Dentro da cabana também tinha um reservatório de água, que serve de bebedouro tanto para eles quanto para os animais - sim, eles bebem água do mesmo reservatório que os animais, e mantêm alguns animais menores, como cabras, dentro da cabana também!
Como falei antes, quem constrói as casas são as mulheres! E cada esposa tem direito a ter a sua própria 'Kraal' - se o Masai tiver 5 mulheres, terá que bancar as 5 Kraal!
Um grupo de cabanas é construído em formato de círculo dentro de uma área fechada por cercas cheias de espinhos (para afastar os predadores), formando assim uma aldeia, que é chamada de Enkang. À noite, as vacas são levadas para o centro da aldeia, ficando protegidas dos animais selvagens.
Os povoados Masai são quase sempre inteiramente cercados, e os Masai se protegem com lanças afiadas e uns facões enormes - tipo adagas - que todos carregam, até as crianças.
Eles também nos mostraram como fazem fogo, usando apenas pedaços de madeira e pedras.
Eles também nos mostraram como fazem fogo, usando apenas pedaços de madeira e pedras.
Os Masai permanecem na mesma terra enquanto o gado pasta - quando as pastagens terminam, ou as fontes de água se esgotam, eles se mudam - por isso são considerados seminômades e as casas são temporárias.
um grupo de cabanas é construído em formato de círculo dentro de uma área fechada por cercas cheias de espinhos (para afastar os predadores), formando assim uma aldeia |
as aldeias Masai são chamadas 'Enkang' |
dentro da 'Kraal' há uma mini-fogueira, onde eles cozinham, dormem e socializam |
Vestimentas dos Masai
Quase todos os Masais que conhecemos usavam vestimenta mais ou menos tradicional (mesmo carregando seus telefones celulares).
O vermelho é a cor oficial.
Li em algum lugar que eles preferem essa cor porque acreditam que ajuda a espantar os animais selvagens, mas não sei se procede. Para se esconder dos bichos que não é, pois, se fosse para se camuflar, acredito que eles usariam aquelas cores verdinho, caqui, bege, como os militares usam para se camuflar, né?
Os guerreiros vestem uma manta quadriculada, geralmente vermelha e preta ou azulão e preto, chamada shuka, enrolada ao redor do corpo. Usam também grandes tornozeleiras e sandálias feitas de borracha de pneus reciclados.
Em datas especiais, os guerreiros pintam os cabelos com terra vermelha e gordura de carneiro.
Também li que o uso das mantas seria justamente para ajudar a espantar animais selvagens, pois eles abririam os braços com as mantas e dariam ao animal a impressão de que são bem maiores do que realmente são, assustando os bichos, mas não tenho certeza quanto a estas informações, porque esqueci de perguntar a eles 😕
os Masai se protegem com lanças afiadas e uns facões enormes - tipo adagas - que todos carregam, até as crianças |
o vermelho é a cor oficial dos Masai |
os guerreiros vestem uma manta quadriculada, geralmente vermelha e preta, chamada 'shuka' |
o Peg não curtiu muito a 'shuka' dele - ficou suando em bicas |
quase todos os Masais que conhecemos usavam vestimenta mais ou menos tradicional |
nos pés, os Masai usam sandálias feitas de borracha de pneus reciclados |
Já as mulheres têm os cabelos raspados e usam muitos adereços coloridos, colares imensos (lindos, sou apaixonada pelos colares!), brincos e pulseiras.
Demorei a me acostumar com essa diferença: eu via os artesanatos Masai nos mercados e sempre pensava que a figura com cabelão trançado era a 'mama' e a figura de cabeça raspada era o 'papa' (como eles chamam para distinguir a mulher e o homem nos mercados Masai). Pois é exatamente o contrário: a figura com tranças é sempre o homem, e a figura careca é a mulher.
Demorei a me acostumar com essa diferença: eu via os artesanatos Masai nos mercados e sempre pensava que a figura com cabelão trançado era a 'mama' e a figura de cabeça raspada era o 'papa' (como eles chamam para distinguir a mulher e o homem nos mercados Masai). Pois é exatamente o contrário: a figura com tranças é sempre o homem, e a figura careca é a mulher.
Poucas peças de roupas Masai têm costuras: na maior parte das vezes, eles usam apenas panos enrolados no corpo, sempre muito coloridos.
É costume entre os Masai, tanto homens quanto mulheres, arrancar um dente ou fazer algum tipo de marca no rosto - tipo uma tatuagem - para identificar à qual tribo pertencem.
Os homens e as mulheres Masai também furam as orelhas e as alargam com o uso de discos - tudo para serem reconhecidos pelas suas tribos de origem.
nos mercados Masai, a figura com tranças no artesanato é sempre o homem, e a figura careca é a mulher |
os homens e as mulheres Masai furam as orelhas e as alargam com o uso de discos para serem reconhecidos pelas suas tribos de origem |
as peças de roupas Masai dificilmente têm costuras - na maior parte das vezes, eles usam apenas panos enrolados no corpo, quase sempre quadriculados em vermelho e preto |
as mulheres Masai têm os cabelos raspados e usam muitos adereços coloridos - é costume entre os Masai fazer algum tipo de marca no rosto para identificar a tribo à qual pertencem |
deu pra perceber que eu amei os colares Masai, né! |
meu artesanato Masai favorito! |
o turismo é a principal fonte de recursos no Quênia e na Tanzânia, e os Masai obviamente também querem se aproveitar desses recursos |
Rituais de passagem à vida adulta dos Masai
Os Masai ainda mantém alguns estranhos rituais de passagem à vida adulta, tanto para os meninos quanto para as meninas.
Os jovens Masai são iniciados na maioridade através destas cerimônias de passagem.
O principal ritual é a circuncisão - milhares de meninos de uma determinada faixa etária são circuncidados na mesma época.
Há uma outra história, muito propagada na indústria do turismo, de que cada jovem precisa matar um leão nestes ritos de passagem à vida adulta.
Eles me garantiram que isso é mito, mas confessaram que matar um leão gera bastante fama na comunidade Masai ainda hoje.
Há ainda a cerimônia dos pulos, que também é considerada um rito de passagem para os meninos, sobre a qual eu vou contar mais abaixo.
Mas existem alguns "rituais" bem mais feios e bizarros, embora não exclusivos dos Masai.
O mais problemático é a remoção do clitóris nas mulheres durante a puberdade, que ocorre ainda hoje, embora muitas ONGs lutem contra essa prática horrorosa e o próprio governo a tenha proibido.
Sim, mesmo estando atualmente proibida a clitoridectomia, ela continua sendo muito praticada, e muitas mulheres ainda morrem por isso.
As mulheres mais velhas mutilam as meninas de 8 a 12 anos, pois acreditam que só assim a menina se torna 'mulhe'r e gera filhos saudáveis. As meninas acreditam que, se não aceitarem a mutilação, sofrerão bullying e os homens não vão querer casar ou fazer sexo com elas.
Muito triste.
a cerimônia dos pulos é considerada um rito de passagem para os meninos Masai |
algumas ONGs e o governo lutam para que as circuncisões e as clitoridectomias sejam substituídos, como ritos de passagem, por danças e discursos |
Masais no Ngorongoro, Serengeti e Masai Mara
O Serengeti National Park faz parte de um ecossistema transfronteiriço, que inclui a Área de Conservação do Ngorongoro (NCA), o Masai Mara no Quênia, e várias reservas de caça menores.
Os animais se movimentam entre estas áreas livremente, durante a grande migração, e os Masai que vivem nesta região sequer precisam documentar a sua passagem de um país para o outro (quando migram entre o Serengeti, na Tanzânia, e o Masai Mara, no Quênia).
Os animais se movimentam entre estas áreas livremente, durante a grande migração, e os Masai que vivem nesta região sequer precisam documentar a sua passagem de um país para o outro (quando migram entre o Serengeti, na Tanzânia, e o Masai Mara, no Quênia).
Como já mencionei, os Masai têm natureza seminômade, não possuem localização geográfica fixa, e são o único grupo étnico autorizado a viajar livremente entre as fronteiras do Quênia e da Tanzânia, sem precisar documentar a circulação entre os países, seguindo o ciclo migratório dos animais ao longo do Vale do Rift.
Eles se deslocam nestas áreas em busca de pastagens para os seus rebanhos de gado e água e, conforme a necessidade, vão se deslocando por quilômetros e quilômetros, com os seus poucos pertences e muitos animais.
Vale ressaltar que, para os não-nativos, essa regra obviamente não se aplica e, pelo que me disseram, sequer é possível, para um turista, cruzar do Serengeti (Tanzânia) direto para o Masai Mara (Quênia), pois não há nenhum posto de fronteira por ali, então os turistas precisam voltar todo o longooooo caminho até Namanga Border Post, perto de Arusha, para fazer a imigração e poder cruzar de um país a outro - tudo, é claro, para complicar a vida do turista...😛
A 'Ngorongoro Conservation Area' é uma área de preservação que permite assentamentos humanos, e por isso tantos Masai vivem lá nesta região.
Já o Serengeti e a Cratera Ngorongoro são considerados parques nacionais, mais bem protegidos e preservados, e não é permitido ter povoados lá dentro (embora tenhamos visto vários Masai no Serengeti). Explico melhor abaixo.
Antes dos Masai, havia outras tribos que também viviam em Ngorongoro, alguns como pastores de gado, como os Datoga, e outros como caçadores, como os Hadzabe. Já os Masai colonizaram a área em grandes números, e o seu modo de vida tradicional permitiu a eles sobreviver durante muito tempo em harmonia com a vida selvagem e com o meio ambiente.
Hoje em dia, aproximadamente 100 mil Masais vivem na Área de Conservação do Ngorongoro, cuidando de seus rebanhos, tentando não prejudicar (muito) a vida selvagem.
Os visitantes da Área de Conservação do Ngorongoro podem aprender sobre a cultura Masai, tirar muitas fotografias e comprar artesanato original Masai em áreas designadas para isso, conhecidas como bomas culturais.
Para garantir o sustento desse povo e, ao mesmo tempo, conservar a fauna, a NCA (Área de Conservação do Ngorongoro) tem projetos comunitários que apoiam o ecoturismo, e permite que os guias Masai conduzam safáris a pé, por exemplo.
o modo de vida tradicional Masai permitiu a eles sobreviver durante muito tempo em harmonia com a vida selvagem e com o meio ambiente |
Parques nacionais na Tanzânia e no Quênia
As autoridades coloniais alemãs e britânicas não eram totalmente insensíveis ao problema da conservação ambiental - logo perceberam que a população Masai crescia e o número dos seus animais domésticos crescia ainda mais, e então resolveram estabelecer áreas protegidas, também para frear os abusivos safaris de caça dos europeus, tão em moda naquela época.
Os alemães foram os primeiros a estabelecer áreas protegidas em Tanganyka (hoje Tanzânia, depois da independência e da anexação da ilha de Zanzibar), incluindo o Serengeti e o Ngorongoro.
Os britânicos, nos anos 50 e começo dos 1960, estabeleceram (ou confirmaram) várias reservas de vida selvagem e parques nacionais em ambas as colônias (Quênia e Tanzânia). Assim foi que nasceram, entre outros, os parques Nakuru, Amboseli, Masai Mara e Tarangire.
Ocorre que, com a criação dos parques nacionais, os Masai, que eram os "donos" originais destas terras, foram empurrados para fora dos parques nacionais pelos colonizadores, passando a viver nas "bordas" destas áreas, cada vez mais pressionados entre as cidades/civilização e as áreas de proteção ambiental.
Atualmente, grande parte das áreas originalmente protegidas na forma de reservas de vida selvagem estão sendo devolvidas aos Masai, ou sendo consideradas "áreas de conservação", onde o pastoreio de gado é permitido ou, ao menos, tolerado.
Eles concluíram que, ao mesmo tempo em que é necessário proteger o espaço da fauna, também é preciso garantir a sobrevivência dos Masai, que dependem das terras para pecuária e precisam ter acesso às fontes de água para os seus rebanhos.
A pecuária é permitida dentro da Área de Conservação do Ngorongoro, por exemplo. Já dentro da Cratera, só é permitido que o gado tenha acesso à água.
É uma equação bem complicada de se resolver, já que o turismo depende da manutenção de grandes números de animais selvagens para serem avistados nos safaris, e os Masai cada vez mais também dependem do turismo, mas continuam também dependentes da pecuária, que demanda mais terras e fontes de água para o gado.
com a criação dos parques nacionais, os Masai foram obrigados a abandonar suas terras |
No Quênia, a administração do Parque Masai Mara é atualmente inteiramente Masai e, ao que parece, o gerenciamento Masai vem sendo bastante criticado. Seja em virtude de relações pessoais ou de obrigações para com a tribo, há muito desrespeito às leis ambientais, e os guarda-parques só cobram pelos ingressos e aplicam multas, principalmente dos seus desafetos.
Já na Tanzânia, onde a administração dos parques nacionais é do governo, os guarda-parques são muito mais atuantes, tendo até conseguido, por exemplo, recuperar áreas ao oeste do Parque Nacional Serengueti que os caçadores tinham ocupado, depois de muitas brigas.
Leia também:
ao mesmo tempo em que é necessário proteger o espaço da fauna, também é preciso garantir a sobrevivência dos Masai |
Masai 'fake' em Zanzibar
Nas praias de Zanzibar, você verá muitos Masai todos paramentados e de músculos à mostra, caminhando pelas praias no fim de tarde, bem arrumados e sempre prontos para tirar fotos com turistas em troca de $$. Eles podem ser bem fotogênicos, mas não se engane, não são verdadeiros Masai!
Os Masai autênticos vivem nos seus povoados no norte da Tanzânia/sul do Quênia, cuidando do gado, e não nas praias de Zanzibar, tirando fotos com turistas.
Esses garotos das praias de Zanzibar são tanzanianos cujos pais são Masai ou talvez até tenham nascido em uma tribo, mas não vivem mais como Masai. No entanto, se vestem como se Masai fossem, e ficam zanzando em lugares onde tenha muitas mulheres mzungu (gringas).
Os falsos Masai que vimos em Zanzibar usavam os shukas (cobertores Masai tradicionais quadriculados) mais limpos que vimos na Tanzânia, braceletes, tornozeleiras, colares e brincos feitos de miçangas brancas, cabelos trançados arrumadíssimos e sandálias feitas de pneus reciclados novíssimas em folha - isso quando não estavam de sandálias brancas do tipo "Melissinha" 😅😅😅
Dá para imaginar um verdadeiro guerreiro Masai de Melissinha branca na praia??? Tomando álcool? Usando óculos de sol espelhados e super estilosos?
Masai fake de Melissinha branca numa das praias de Zanzibar |
Mas, mais do que tudo, o que denuncia os falsos Masai é que eles cheiram muito bem! Sério! Exalam perfume! E digamos que os Masai verdadeiros não curtem muito um banho. Afinal, eles são pastores de gado seminômades, e não são exatamente famosos por sua limpeza corporal.
Nos ensinaram um "truque" tiro e queda para "diagnosticar" um verdadeiro Masai de um fake: os "originais" sempre têm algum tipo de marca no rosto - tipo uma tatuagem, ou um arrancam um dente, justamente para identificar à qual tribo pertencem - assim fica fácil distinguir o joio do trigo 😝
É claro que existem Masai verdadeiros em Zanzibar também - nem todos eles são fake! Eles às vezes deixam suas tribos para trabalhar com turismo em Zanzibar, e assim conseguem ganhar mais dinheiro para mandar às suas famílias. Mas a grande maioria dos Masai de verdade trabalham como seguranças em hotéis, e não ficam zanzando bonitinhos pelas praias.
De certa forma, é engraçado ver a encenação que rola nos entardeceres de Zanzibar - vimos até um certo turismo sexual rolando entre mulheres 'mzungu' muito nórdicas e homens Masai muito musculosos. Num happy hour em Michamvi, estava rolando alta pegação!
Mas, por outro lado, é triste ver que existem pessoas, até mesmo descendentes de ancestrais tribais, intencionalmente deturpando e se apropriando da cultura e do modo de vida Masai de um jeito tão exploratório.
Enfim...
eles até são bem fotogênicos, mas não se engane, não são verdadeiros Masai |
a maioria dos Masai de verdade que vivem em Zanzibar trabalham como seguranças em hotéis, e não ficam zanzando bonitinhos pelas praias |
#Lipeflix virou comédia
Pois é...até hoje a gente chora de rir cada vez que olhamos as caras & poses do Peg nesta sequência de fotos abaixo, no povoado Masai que visitamos na Tanzânia.
Inclusive concluímos que os próprios Masai devem estar rindo até agora desta criatura, que chegou lá achando que, porque já jogou muito basquete na vida, poderia competir com eles no concurso de saltos! 😜
A famosa cerimônia Masai dos saltos serve como uma demonstração de força, e eles fazem competições para ver quem salta mais alto. Tradicionalmente, esses saltos são considerados uma dança guerreira, que é realizada no ritual de passagem dos adolescentes para a idade adulta.
No 1º salto, até que o Peg foi bem, e aí se empolgou, ficou todo animadão, mas foi só os Masai se "aquecerem" que ele percebeu que ia passar vergonha e...olha as caras de desespero dele!!!
no começo, o Peg estava todo empolgado, levando o concurso Masai de saltos a sério... |
fazendo pose digna para as fotos... |
mas foi só os Masai se "aquecerem" que ele percebeu que ia passar vergonha... |
olha as caras de desespero dele! |
até hoje a gente chora de rir cada vez que olhamos as caras & poses do Peg nestas fotos! |
os próprios Masai devem estar rindo até hoje desta criatura... |
chegou lá achando que podia competir com os Masai no concurso de saltos que eles mesmos criaram há séculos kkkk... |
a cerimônia Masai dos saltos serve como uma demonstração de força... |
mas também serve para humilhar brasileiros hahahahaha... |
Isso para não lembrar que fazia um calor do cão, e os Masai colocaram um cobertor por cima dos ombros dele (os mesmos cobertores que eles próprios usam) e, pra piorar a situação, além das 3 câmeras fotográficas que ele estava (tentando) carregar, ainda arranjaram um cajado para ele segurar!! 😅
Preciso imprimir essa sequência de fotos para quando eu estiver precisando dar umas gargalhadas!
Se você decidir visitar uma aldeia Masai, vá preparado para pular, porque eles vão te fazer entrar na dança!
Mas a vergonhera não parou por aí!
Logo que chegamos lá, teve a dança de boas-vindas dos homens da tribo. Até aí, tudo ótimo, eu estava adorando fotografar tudo aquilo...até que chegou a vez da dancinha das mulheres, e aí é claaaaaro que elas me colocaram na roda, né!
Como eu era a única turista mulher lá, passei toda a vergonha sozinha, tentando imitar as mulheres Masai naquela quebradinha de pescoço e sacudidinha de ombros!
Não é fácil, viu!?
até que chegou a vez da dancinha das mulheres...e aí foi a minha vez de passar vergonha! |
eu era a única turista mulher lá, e então passei toda a vergonha sozinha, tentando imitar as mulheres Masai... |
aquela quebradinha de pescoço e sacudidinha de ombros não é fácil! |
Para saber mais sobre os Masai
Escrevi um post chamado 20+ filmes sobre a África para inspirar sua viagem, onde recomendei o filme A Masai Branca.
Esse filme é sobre o romance real entre uma turista suíça e um guerreiro Masai, e se passa no Quênia.
O filme de Hermine Huntgeburth é baseado no livro autobiográfico da suíça Corinne Hoffmann - a 'Masai Branca' do título - e foi um grande best-seller.
O filme tem cenas bem chocantes e, depois da nossa visita ao povoado Masai de Mto Wa Mbu, não consigo sequer imaginar uma suíça, acostumada com tudo o que há de bom e de melhor no mundo, vivendo naquelas condições tão difíceis 😕
Para mais dicas de filmes passados na África, leia: 20+ filmes sobre a África para inspirar sua viagem
Se vocês tiverem mais tempo no roteiro para uma 'homestay' de 2 ou 3 dias em um povoado Masai, eu descobri uma alemã casada com um Masai que oferece umas experiências no povoado da família dela que me pareceram muito legais - bem mais autênticas e genuínas do que um rápido 'tour cultural' como o que nós fizemos.
Procure mais informações com a Stephanie neste Instagram: masai_story
não é fácil ser uma mulher Masai |
O Drama Moral
Estes passeios são sempre experiências perturbadoras e fascinantes ao mesmo tempo - você tem que escolher entre ir ou não.
Por um lado, assim como quando visitamos uma aldeia Himba na Namíbia, nos incomodava saber que estávamos visitando um povoado cuja cultura e tradições já são super ameaçadas pela influência do mundo moderno; de outro lado, sabíamos que eles sobrevivem grandemente hoje em dia das rendas geradas pelo turismo.
Como expliquei antes, com a criação dos parques nacionais na Tanzânia e no Quênia, os Masai foram gradativamente obrigados a abandonar suas próprias terras, e a vida deles foi ficando cada vez mais difícil, com o empobrecimento crescendo.
A solução encontrada pelo governo e pelas agências de viagens foi incluir visitas aos povoados Masai nos pacotes turísticos - mas muitos viajantes comparam esses passeios culturais a um "zoológico humano", e criticam quem deles participa.
Eu não concordo com esta visão. Pelo contrário: acredito que, se todos pensarem assim, e se recusarem a visitar esses vilarejos, a tendência é a extinção desses povos.
Sei que este é um pensamento simplista, mas a questão é realmente simples e se reduz à vida real: não vejo outras alternativas de sobrevivência para esses povos com costumes milenares no mundo moderno.
As pastagens e as cabeças de gado de cada família diminuem a cada ano. Receber os turistas é hoje uma das poucas fontes de renda que restaram a essa etnia. Ninguém é ingênuo a ponto de não perceber os impactos negativos do turismo, dentre eles a aculturação, mas, por outro lado, é inegável que, atualmente, só o turismo responsável poderá trazer um pouco de desenvolvimento econômico aos Masai.
as tradições Masai são super ameaçadas pela influência do mundo moderno e da globalização |
Mas não é de hoje que vejo críticas contundentes às pessoas que optam por visitar "tribos indígenas que são verdadeiros zoológicos de seres humanos".
Nós já visitamos muitos lugares que poderiam se encaixar nessa descrição, das ilhas Los Uros no Lago Titicaca, Peru, passando pelas tribos das "pescoçudas" Karen em Chiang Mai, no norte da Tailândia, às aldeias Himba e Damara da Namíbia, mas ainda não me sinto iluminada o suficiente para entender onde está a maldade intrínseca das pessoas que, como nós, optam por visitar esses lugares.
Leia mais:
Eu realmente queria que me explicassem qual é a alternativa para essas pessoas, para que eu consiga me convencer de que visitá-los causa prejuízos terríveis a eles. Os Himbas, as mulheres Karen e os Masai devem se alimentar de quê? De vento? Como poderão pagar pelos tratamentos médicos ou dentários?
Podemos impor aos Masai que fujam do processo de globalização?
Manifestações culturais de povos do mundo inteiro estão ameaçadas hoje em dia pela globalização, e o desejo de ter mais qualidade de vida, melhores condições de moradia ou mesmo acesso à internet é direito dos Masai, assim como de todos nós.
Sempre penso muito e me questiono antes de fazer esse tipo de passeio, mas não consigo me convencer de que seja uma má idéia aprender e poder compartilhar com outras pessoas que existem muitas outras culturas no mundo, pessoas que vivem com outras tradições, povos que têm costumes muito diferentes dos nossos, e que precisam ser conhecidos e respeitados para conseguir sobreviver no mundo atual.
Não é assim, conhecendo, que a gente aprende a respeitar as diferenças??
Sim, o turismo leva aos povoados as terríveis lentes das máquinas fotográficas - mas, por outro lado, além da renda extra, também fomenta e serve de incentivo à preservação da cultura Masai!
A verdade é que, no mundo globalizado em que vivemos, as manifestações culturais (Masai ou quaisquer outras) estão fadadas ao esquecimento. Se não houver a devida valorização turística, se perderão para sempre!
o desejo de ter mais qualidade de vida, melhores condições de moradia ou mesmo acesso à internet é direito dos Masai, assim como de todos nós |
"Ah, mas os turistas chegam lá e ficam tirando fotos das pessoas como se fossem animais, que coisa horrível!"
Pois sabe que eles fazem questão que a gente fotografe muitooo? Fazem poses, querem olhar o resultado das fotos que tiramos e ainda pedem que a gente poste bastante no Instagram, porque sabem que, quanto mais aquela aldeia for divulgada, mais turistas aparecerão por lá, levando $$$ para eles - e, num mundo em que eles não podem mais caçar leões nos seus rituais de transição para a vida adulta, é impossível sobreviver sem $$$.
Meio ingênuo defender que os Masai têm que continuar vivendo como há centenas de anos atrás, não? Eles têm que continuar vivendo como há 200 anos atrás pro nosso prazer, fazendo fogo com pedrinhas - nem pensar em usar fósforos! - mas não podem mais caçar ou matar leões, porque o mundo "civilizado" condena essa prática. Ou seja: eles só devem manter as tradições que NÓS achamos legais e aceitáveis. É muita hipocrisia!
Os Masai precisam viver de esmolas do governo, ou de programas sociais? Ou continuar lutando pela sobrevivência na savana, sem acesso aos serviços de saúde? Ou devem ir para Nairóbi ou Arusha trabalhar de frentistas em postos de gasolina? É assim que se sugere que eles preservem a cultura deles?
Se os Masai não receberem turistas e não venderem o seu artesanato, não poderão sobreviver no mundo atual. Simples assim.
Eu sei que já estou repetitiva nesse meu discurso - não é a 1ª vez que me questiono sobre isso - mas, se eles descobriram uma forma de sobreviver nos tempos modernos preservando e tendo a oportunidade de mostrar ao mundo a sua cultura, o que há de tão errado nisso?
Além de criticar a vida que eles escolheram, a forma que eles descobriram de sobreviver; além de querer decidir como os outros devem viver suas vidas, será que poderiam ir um pouco além e me explicar como pretendem que eles sobrevivam, se todos os turistas "escrotos" deixarem de visitar as suas aldeias?
Nós decidimos visitar um povoado Masai, e não nos arrependemos. Você optaria por ir também, ou não?
Foi uma experiência única na vida, e uma oportunidade gigantesca de entender que existem mundos diferentes do nosso, e que as diferenças precisam ser valorizadas e respeitadas.
Se a nossa decisão foi a mais acertada? Não sei, essa é uma decisão muito individual - certas coisas não têm certo ou errado. O que importa é que cada um faça a sua própria escolha com consciência e responsabilidade.
Não precisamos concordar - só precisamos respeitar o povo Masai e as escolhas deles.
é conhecendo que a gente aprende a respeitar as diferenças |
#PovertyPorn
Eu não desconheço o conceito de #PovertyPorn.
Fotos que intencionalmente exploram situações de pobreza com fins escusos são um dos piores exemplos de obscenidade. Acho péssimo, por exemplo, quando retratam as comunidades Masai como incompetentes e dependentes do "salvador branco".
Quando posto fotos de Masai ou de quaisquer outras etnias "exóticas" que visitamos, a ideia jamais é perpetuar estereótipos negativos - muito pelo contrário: eu publico porque acho esses povos absurdamente lindos.
É pela beleza estética.
É pra tentar divulgar outros mundos a pessoas que talvez nunca terão a oportunidade de ir lá conhecer pessoalmente.
Não busco cliques, não busco lucro, nem simpatia, não estou defendendo nenhuma causa, nunca quis "vender" nada. E não acredito que a Tanzânia e o Quênia precisem que um branco aleatório apareça para salvar o dia.
Existem muitos Masai que se importam em melhorar as próprias comunidades - eles não estão de braços cruzados esperando um estrangeiro qualquer chegar para resolver todos os problemas milagrosamente.
Aliás, tenho certeza que a grande maioria dos Masai, orgulhosos como são da sua etnia, certamente não aprovariam ser retratados como um povo miserável que precisa de um heroi para salvá-los.
Achei válido fazer esse esclarecimento aqui porque é comum ver esse tipo de exploração dos Masai.
Se vocês olharem lá no perfil @barbiesavior no Instagram, destinado justamente a criticar o #PovertyPorn, verão que a última foto publicada lá é justamente de um grupo de Masai na cerimônia dos pulos.
Masai durante a cerimônia dos saltos na Tanzânia |
Também vale dizer que, tanto na Tanzânia quanto no Quênia (assim como também acontece no Brasil), os Masai sempre se aproximam dos veículos de safari nas estradas pedindo dinheiro ou comida, mas os guias pedem encarecidamente que os turistas não deem nada a eles, nem mesmo comida, porque isso é prejudicial para eles mesmos...contribui até para a evasão escolar, por exemplo.
Se os turistas derem $$ e comida, ao invés de estarem fazendo as atividades deles, trabalhando na pecuária, ou estudando, os Masai ficarão nas beiras das estradas, pedindo $$ e comida aos turistas.
Inclusive é proibido dar qualquer coisa a eles na Área de Conservação do Ngorongoro, segundo nosso guia.
Não queira ser o salvador branco que ninguém chamou 😉
Se quiser de verdade ajudar, leve bastante material escolar na sua visita à aldeia, pague direto aos Masai, compre artesanato Masai, e pronto.
se quiser ajudar, leve material escolar na sua visita à vila Masai (foi o que eles me pediram) |
Veja aqui nosso 1º vídeo desta viagem maravilhosa, para despertar o seu apetite viajante:
Já esteve na Tanzânia ou no Quênia? Visitou alguma aldeia Masai? Conta pra gente! Deixe as suas dicas nos comentários!
Para mais dicas da nossa viagem pela Tanzânia, Zanzibar e Quênia, veja #LipenaAfrica, #PVnoQuenia e #PVnaTanzania nas redes sociais.
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