Ke Garne? Saiba o que podemos aprender com os Nepaleses sobre resiliência
Uma das primeiras expressões que aprendi em nepalês foi के गार्ने Ke Garne? Pronuncia-se KAY-GAR-NAY.
A cultura fatalista do Ke Garne é a maior expressão linguística da resiliência Nepali.
A tradução literal seria algo como "fazer o quê"!?
É uma pergunta obviamente retórica, geralmente concluindo a história de algum perrengue ou desgraça vivida.
O ônibus em que viajávamos furou o pneu e levaram 8hs pra trocar, Ke Garne?
Faltou luz no albergue em que nos hospedamos e tivemos que tomar banho gelado, Ke Garne?
Embora a tradução dê uma sensação de futilidade, a ideia é mais de resiliência diante das adversidades: o pneu acabou sendo eventualmente trocado; mesmo gelado, você conseguiu tomar banho.
Não há nada que você possa fazer para evitar esses perrengues, e eles não são suficientes para deter você. Essa é a ideia.
cremação pública de cadáver no Templo de Pashupatinath em Kathmandu |
Se você já visitou o Nepal, provavelmente já ouviu o (maldito) Ke Garne muitas vezes; se está planejando uma viagem para lá, prepare-se!
Nós, que não somos acostumados com a cultura do Ke Garne, ficávamos 'doentes', impacientes e ansiosos com aquela passividade, aquele comportamento que, para nós, parecia conformista.
Eles simplesmente se "conformam" com as dificuldades e acreditam que nada podem fazer para mudar a situação em que se encontram.
Acredito eu que a filosofia do Ke Garne tem um pouco a ver com a ideia religiosa de Karma - tanto budistas quanto hinduístas acreditam em Karma - aquele é o seu destino, você estava destinado a passar por aquele perrengue, Ke Garne - fazer o quê?
Você está apenas sofrendo as consequências do que aprontou em outras existências - é a justiça celestial!
Causa e consequência.
mulher fazendo e vendendo guirlandas de flores na frente de um templo hindu em Kathmandu |
Para um país tão pequeno, o Nepal é lar de uma das culturas mais ricas e diversificadas do mundo. São 125 castas diferentes e 123 línguas locais num único país!
Cada casta tem sua própria cultura, e essas culturas têm suas próprias subculturas. É muita cultura para um país tão pequeno!
Mas, apesar de todas as diferenças culturais, tem algo que une todas as castas e os torna todos Nepali: aquela sacudidinha de ombros, e lá vem a frase clichê - Ke Garne.
É o que é, fazer o quê?
Assim é a vida. No Nepal. Ke Garne??
Hoje em dia, não estando lá - e sem estar passando por uma situação de perrengue com a guerrilha maoísta 🤪 - consigo perceber que, na verdade, o Ke Garne é a representação perfeita da cultura descontraída e sem stress dos nepaleses.
Veja também:
Fronteira da Índia com o Nepal: nada é tão ruim que não possa piorar, mas no final tudo dá certo
Quando você lê sobre isso, ou se experimenta essa cultura pessoalmente, às vezes é bem desanimador e frustrante.
Parece até que os nepaleses quase que esperam que as coisas deem errado; eles parecem acreditar que não tem muita chance de as coisas funcionarem como deveriam!
Mas, por trás dessa fachada pessimista da cultura do 'Ke Garne?', há uma outra perspectiva: o Nepal é um país que já passou por intermináveis desafios.
Foram 10 anos de agitação civil e guerras, com toques de recolher, greves, cortes de energia e desastres naturais - terremotos terríveis, avalanches, enchentes, deslizamentos de terra - que testaram a força do povo Nepali de todas as formas, e eles sobreviveram.
Eles foram forçados a seguir o fluxo e aprenderam que, no final, as coisas acabam dando certo.
Depois de 3 viagens pelo Nepal, acho que finalmente acabamos entendendo que os nepaleses simplesmente escolhem uma atitude Ke Garne ao invés de cair em desespero; ao escolher o Ke Garne, eles estão essencialmente escolhendo ter esperança.
Escolher esse caminho nem sempre ajuda a mudar o resultado final, mas, Ke Garne? 🤣
Algumas coisas simplesmente não dependem de nós.
A esperança e a resiliência do povo nepalês são justamente as características que permitem a eles ter um comportamento tão descontraído até mesmo nos tempos mais incertos.
Não sabemos o que o futuro reserva aos Himalaias, que provações eles ainda terão que enfrentar, mas o negócio é manter a esperança e tomar uma xícara de chiya (chá apimentado) enquanto os desafios do futuro não chegam!
Não me parece uma grande ideia, mas...Ke Garne?
Já esteve no Nepal? Sentiu de perto a cultura do Ke Garne?
Por favor, deixe as suas dicas nos comentários abaixo aqui no blog!
mulheres nepalesas carregando material para alimentar o fogo em Namche Bazaar |
ciclo riquixá, um dos poucos países do mundo que ainda oferecem esse tipo de transporte é o Nepal |
Sobre o Trekking ao Acampamento Base do Everest
Trekking ao Acampamento Base do Everest: dia 1 - Kathmandu - Lukla - Benkar
Trekking ao Acampamento Base do Everest: dia 2 - Benkar - Namche Bazaar
Trekking ao Acampamento Base do Everest: dia 3 - aclimatação em Namche Bazaar
Trekking ao Acampamento Base do Everest: dia 4 - Mosteiro de Tengboche
Sobre Kathmandu
Sobre os hotéis onde ficamos em Kathmandu
Dicas para viagens ao Nepal
Assista todos os nossos mini vídeos neste link do Facebook, e os vídeos completos você assiste no YouTube - aproveite e já se inscreva lá nos nossos canais!
Você também nos encontra aqui: Facebook / Twitter / Instagram / Pinterest / YouTube
Comente este Post:
0 comentários: