O estereótipo de um lugar desértico atolado de petróleo, tapetes persas e cheio de mulás turbantudos com caras emburradas engana. A ideia de que você vai sofrer com um suposto preconceito antiocidental dos iranianos não poderia ser mais equivocada.
O Irã tem uma cultura sofisticada, onde a poesia e a hospitalidade são super valorizadas. É muito mais fácil conhecer iranianos simpáticos, que vão te pedir para fazer selfies contigo, do que encontrar um iraniano carrancudo. O Islã ainda tem um lugar importante no cotidiano das pessoas, mas não interfere tanto na vida do viajante, e os iranianos, que têm passado por tantas provações políticas no decorrer da sua longa história, são otimistas e genuinamente interessados em conhecer viajantes.
Como os famosos tapetes, o Irã também é cheio de cores e texturas que vão te encantar.
No check-in no aeroporto no Brasil, em conversas com os vizinhos passageiros no voo até Doha, entre amigos e, principalmente, nas redes sociais, não foram poucas as pessoas que nos perguntaram: "Mas porquê vocês vão para o Irã? Tem família lá? Nunca fiz check-in de passageiros a caminho do Irã! Jamais iria para lá! O que tem lá?"
Nós mesmos, há tempos atrás, pouco sabíamos sobre o Irã, além da Guerra Irã x Iraque, notícias na tv sobre terrorismo, sanções dos EUA, muito petróleo e violações de direitos humanos. Turismo no Irã? O que tem lá, além de Persépolis?
Eu realmente não sabia muito sobre o Irã, mas o pouco que eu sabia era o seguinte: entre TODOS os grandes viajantes que eu conheço, pessoas que já pisaram em mais de 100 países, a opinião é unânime - o povo iraniano é incrível, gentil, são simpáticos, o Irã é um dos lugares + hospitaleiros do mundo, e o país está nos top 5 de todos eles - totalmente diferente de qualquer estereótipo que se imagina quando as pessoas falam no Irã.
Não há grande viajante que não recomende uma viagem ao Irã.
Todo mundo que esteve no país sempre conta histórias de um lugar sensacional, de um povo mega amistoso e de uma das melhores viagens da vida.
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o Irã foi um dos países mais baratos dos mais de 90 países que já visitei |
Além de toda a história, cultura, arquitetura, inúmeros Patrimônios da Humanidade - sabia que o Irã ocupa o 7º lugar na lista da UNESCO de países com o maior número de ruínas arqueológicas e atrações da antiguidade? - beleza natural dos desertos e gastronomia, o que realmente todo mundo menciona é a lendária hospitalidade persa!
Ficamos no Irã 2 semanas, exploramos umas 13 cidades, ziguezagueando pelo país
de carro alugado de sul a norte, e vimos montanhas, desertos, grandes e sofisticadas cidades, vilarejos de barro esquecidos pelo tempo, excelentes museus, ruínas milenares, mesquitas e até igrejas católicas! Conhecemos pessoas vivendo vidas bem tradicionais, de forma super conservadora, vimos nômades, mas também vimos um pouco de subversão 💪
Descobrimos um país onde haviam áreas de lazer para a população desfrutar, um bom sistema de transportes e segurança pública - o Irã não estava quase entrando em guerra civil quando estivemos lá, obviamente, e crimes como roubos, tráfico de drogas e estupros, que assolam o Brasil, praticamente não existem no país.
Não vimos miséria. Há saúde, alimentação e moradia.
O que falta lá é liberdade.
Eles vivem, sim, numa ditadura, e a liberdade de expressão é bastante restringida, mas uma grande parte da população, especialmente os mais jovens (mesmo os religiosos), não concordam com o "sistema" em vigor, e incrivelmente sempre dão um jeito de contornar as regras impostas para fazer o que bem entendem, desde beber álcool escondido, namorar e fazer festas clandestinas, até usar VPNs para acessar sites de internet censurados e fazer tatuagens.
Sem falar que foi certamente um dos países mais baratos dos mais de 90 países que já visitei! ❤
Eu precisava conhecer esse lugar com meus próprios olhos, pra tirar minhas próprias conclusões, amar ou odiar por mim mesma. Ou vocês preferem ficar com a opinião da mídia e as informações que viram na tv? Eu prefiro viajar e descobrir por conta própria a realidade, ver com meus próprios olhos para desconstruir preconceitos e aprender mais sobre um lugar que quase ninguém conhece, mas muitos pensam que sabem tudo a respeito.
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o Irã ocupa o 7º lugar na lista da UNESCO de países com o maior número de ruínas arqueológicas e atrações da antiguidade |
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a beleza natural do Deserto de Lut, por si só, já justificaria uma viagem ao Irã |
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só a possibilidade de conhecer a Mesquita Nasir ol Molk em Shiraz já seria um bom motivo para viajar ao Irã |
10 curiosidades para saber antes de ir ao Irã
1 Capital: Teerã
2 População: 87 milhões (17º país mais populoso do mundo)
3 Fronteiras: Turcomenistão, Afeganistão, Paquistão, Iraque, Turquia, Azerbaijão e Armênia
4 Companhia aérea nacional: Iran Air
5 Tamanho: 2º maior país do Oriente Médio e o 16º maior país do mundo
6 Localização: sudoeste asiático, entre o Iraque, a oeste, e o Afeganistão e o Paquistão, a leste; banhado pelo Golfo de Omã, pelo Golfo Pérsico e pelo Mar Cáspio
7 Fuso horário: +7h30min em relação ao horário de Brasília
8 Para ler: Persépolis, o livro autobiográfico em quadrinhos da artista gráfica iraniana Marjane Satrapi
9 Para ouvir: Arash - a música 'Tekoon Bede' é uma paixão nacional entre os mais jovens
10 Para assistir: Argo, o filme de Hollywood de 2012 que conta como, durante a crise no Irã em 1980, 6 americanos ficaram refugiados na Embaixada Canadense em Teerã e conseguiram fugir do país - ganhou o Oscar de melhor filme
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conheça o músico iraniano Arash - a música 'Tekoon Bede' é uma paixão nacional entre os mais jovens |
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o fuso horário no Irã é de +7h30min em relação ao horário de Brasília |
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a companhia aérea nacional é a Iran Air |
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Persépolis, o livro autobiográfico de Marjane Satrapi |
Pérsia ou Irã?
Afinal, qual o nome correto deste país? Qual a diferença entre Pérsia e Irã?
Nenhuma.
O que ocorreu é bem simples: o país era conhecido como Pérsia até a década de 30, quando o Xá (Rei) da época decidiu alterar o seu nome e avisar ao mundo que agora a Antiga Pérsia se chamava Irã.
Atualmente, ambos os termos Pérsia e Irão (em Portugal) ou Irã (no Brasil) são usados de forma correta, e o nome "Pérsia" é bem usado em contextos culturais, mas o nome "Irã" ainda é o mais usado oficialmente em contextos políticos.
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o nome "Pérsia" é mais usado em contextos culturais, e o nome "Irã" é mais usado oficialmente em contextos políticos |
Arquitetura Persa ou Islâmica
A arquitetura é um dos maiores legados da Pérsia para a cultura mundial.
A arquitetura Persa influenciou fortemente construções em todo o mundo islâmico, especialmente na Ásia Central, no Afeganistão, Paquistão e Índia.
Provavelmente, o edifício mais famoso de origem persa sobre o qual vocês já devem ter ouvido falar é o icônico Taj Mahal, em Agra, na Índia, projetado por um arquiteto persa da Era Safávida.
No Irã, temos a impressão de que cada pequeno vilarejo tem pelo menos um marco histórico distintivo dos povos e das dinastias que governaram a região durante os últimos 3000 anos.
Respira-se história e arquitetura o tempo todo!
Viajando pelas estradas do Irã, passávamos por povoados minúsculos, onde provavelmente viviam apenas algumas dezenas de fiéis, mas havia sempre uma mesquita enorme com cúpula em formato de cebola em cada um destes povoados.
A maioria dos edifícios grandiosos foram construídos com propósitos religiosos - primeiro pelos zoroastras, e depois pelos muçulmanos (depois do ano 637DC). Por isso, a arquitetura Persa também é comumente chamada arquitetura Islâmica.
No Irã, reconhecemos elementos arquitetônicos que até já conhecíamos de outras andanças pelo mundo (alguns deles), mas nunca tínhamos encontrado com tanta intensidade em nenhum outro país.
E muitos dos ornamentos tipicamente encontrados na arquitetura do Irã têm inspiração na religião muçulmana - como expliquei acima, é a arquitetura Islâmica.
Lá vocês vão descobrir muito mais sobre cúpulas, minaretes, azulejos, as madrassas, as mesquitas Jameh, as muqarnas, o uso de espelhos na decoração, etc.
Se você vai viajar ao Irã, vale a pena aprender antes um pouquinho sobre Muqarnas (estruturas côncavas que parecem estalactites muito usadas em cúpulas de mesquitas), Faiança (espécie de cerâmica que é diferente da porcelana, muito usada na decoração de mesquitas), Iwans (portais retangulares que servem de entrada para as mesquitas a partir do pátio interno), Mihrabs (nicho na parede de uma mesquita, que indica a direção da oração para os muçulmanos), o uso de espelhos na decoração, etc. Esses e tantos outros elementos arquitetônicos e decorativos inspirados na religião muçulmana que você vai encontrar lá.
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a arquitetura é um dos maiores legados da Pérsia para a cultura mundial |
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uso de espelhos na decoração de edifícios religiosos no Irã |
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os iranianos usam e abusam dos espelhos venezianos na decoração de interiores |
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a lindíssima Mesquita Vakil de Shiraz |
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muqarnas na entrada do caravanserai em Shiraz |
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decoração do Bazar Vakil em Shiraz |
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cúpula de bazar no Irã |
Os aspectos que definem a arquitetura Persa são a simplicidade monumental e o uso abundante de cores e ornamentação na superfície.
As plantas baixas dos edifícios persas normalmente misturam apenas alguns elementos padrão: um pátio interno e arcadas, pórticos de entrada e 4 'iwan' (portais abobadados que se abrem para o pátio interno).
Muitos estudiosos acreditam que o modelo arquitetônico com os 4 iwans é uma influência das antigas ideias zoroastras sobre os 4 elementos (terra, ar, fogo e água) e a circulação da vida.
Sobre o
Zoroastrismo, veja mais
aqui.
Essas características básicas e muito simples da construção das mesquitas são muitas vezes tão densamente cobertas de ornamentos e cores, que quem olha pensa que a arquitetura é muito mais complexa do que é na verdade.
As ornamentações são normalmente geométricas, florais ou caligráficas.
A decoração de uma parede às vezes consiste em nada além de
mosaicos - que formam os nomes de Alá, Maomé e Ali - repetidos inúmeras vezes em uma escrita altamente estilizada e caligráfica.
Quando os árabes conquistaram a Pérsia, o Estilo Sassânida não foi abandonado, mas no Período Árabe (642-1051DC) foi introduzido o elemento islâmico que teria o mais forte impacto nas artes persas: nenhuma
representação humana era permitida.
No lugar dos grandes palácios, construídos como símbolos da realeza, surgiram as mesquitas, projetadas como centros da vida cotidiana das pessoas comuns.
Quando os ingredientes Sassânidas e Árabes se fundiram, surgiu um estilo distintamente Persa de arquitetura Islâmica.
A
caligrafia tornou-se a principal forma de decoração arquitetônica. As inovações arquitetônicas incluíam as
estalactites (molduras escalonadas elaboradas usadas para decorar recessos) e uma ênfase no equilíbrio e na escala.
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note a simplicidade estrutural e o uso abundante de cores e ornamentação na superfície |
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nenhuma representação humana é permitida nas artes persas |
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muqarnas são estas estruturas côncavas que parecem estalactites, muito usadas em iwans e cúpulas de mesquitas |
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procure se informar um pouquinho antes de viajar sobre faiança, mosaicos, caligrafia e outros elementos decorativos usados na arquitetura persa |
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a belíssima Mesquita Jameh de Yazd no Irã |
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ornamentos na Mesquita Jameh de Yazd |
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a caligrafia tornou-se a principal forma de decoração arquitetônica, junto com os padrões florais, formas geométricas e grafismos |
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as plantas baixas dos edifícios persas normalmente são simples, mas as fachadas são sempre densamente cobertas de ornamentos e cores |
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as cúpulas das mesquitas e santuários islâmicos são sempre espetaculares |
Arquitetura tradicional iraniana das casas residenciais
Preste atenção também na arquitetura tradicional iraniana das casas residenciais, projetadas e construídas com base em princípios que podem ser encontrados tanto em residências de famílias reais, nobres, quanto nas moradias de pessoas comuns, pois se trata de um modelo arquitetônico que é compatível com o estilo de vida iraniano - tanto da plebe, quanto da nobreza.
Em 1º lugar, é um tipo de arquitetura voltada para dentro, em harmonia com a cultura iraniana.
Em 2º lugar, as variações de temperatura nesse modelo de construção são muito baixas, o que torna os edifícios frescos no verão e aquecidos no inverno.
Vocês vão encontrar elementos comuns a todas essas casas históricas: arcos, cúpulas e telhados simples de madeira chamados 'Asemaneh'.
O modelo-padrão de 4 faces (Chefeteh) é o estilo básico de todas as casas iranianas.
O tipo mais comum é uma casa com um grande pátio interno, chamado Miansara, que funciona como uma área aberta para a luz. Os quartos ficam situados nos 4 lados, ao redor do Miansara. Os lados que se abrem para o sul e sudeste-oeste são usados no inverno e nas estações frias, porque são ensolarados, enquanto que os lados que se abrem para o norte são usados durante o verão, porque ali bate menos sol.
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modelo arquitetônico tradicional iraniano, com um grande pátio interno, chamado Miansara, que funciona como uma área aberta para a luz |
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os quartos ficam situados nos 4 lados, ao redor do Miansara |
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a arquitetura tradicional iraniana é encontrada tanto em residências de famílias reais quanto nas moradias de pessoas comuns, pois esse modelo arquitetônico é adequado ao estilo de vida iraniano, tanto da plebe, quanto da nobreza |
Adobe
Acho interessantíssimo perceber como a arquitetura diz tanta coisa sobre a cultura, a religião, as matérias-primas e até o clima de um determinado lugar!
Caminhando por Yazd, por exemplo, você percebe que a cidade é praticamente toda construída da mesma matéria-prima: adobe!
Para quem não conhece, o adobe é uma técnica de construção em que são usados tijolos de barro (terra e água) com palha (usada para deixar os tijolos mais resistentes).
Esse tijolos são muito simples e baratos de fazer, pois não consomem muita energia na sua produção - são secos no sol, ao ar livre, ao contrário de outros tijolos, que são moldados e queimados no fogo.
Nessas regiões mais desérticas, a matéria-prima para as construções de adobe é facilmente disponível (terra seca) e a vantagem é que construções de adobe são excelentes isolantes térmicos, mantendo a temperatura dos ambientes sempre balanceada.
Além disso, estudos demonstraram que construções de adobe podem absorver até 30x mais umidade do que prédios feitos de tijolo cozido!
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uma parede de adobe em povoado do Irã |
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o castelo de adobe de Saryazd |
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caminhando pelas ruas de adobe de Yazd |
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Castelo Narin em Meybod, uma fortaleza de adobe |
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Naeein tem mais de 2000 anos, o que faz com que a cidade seja um dos assentamentos continuamente habitados mais antigos do Irã, e o seu Forte Narej, todo construído de adobe, é a estrutura mais antiga de Naeein |
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Abyaneh, a cidade de adobe do Irã |
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Abyaneh é uma cidade inteiramente construída de adobe nas montanhas do Irã |
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em Abyaneh, uma placa informa que a arquitetura do povoado é baseada em tijolos de barro, argila, vigas de madeira e o que mais a natureza fornecer |
Caravanserais no Irã
E, já que o assunto é arquitetura, não posso deixar de mencionar os incríveis Caravanserais, antigos alojamentos onde os viajantes da Rota da Seda podiam parar e descansar à noite.
A maioria dos Caravanserais na Ásia são edificações em formato quadrangular, com grandes pátios internos no meio, a céu aberto, rodeados de aposentos, onde os mercadores viajantes costumavam deixar suas mercadorias e gado em segurança.
Esses prédios eram estruturas fortificadas, com muros em toda a volta e um único portão de acesso, largo o suficiente para possibilitar a passagem de animais carregados de mercadorias, como camelos.
É possível encontrar caravanserais em todos os países entre a China e a Turquia, e até no norte da África, ou seja, ao longo da antiga rota de comércio, mas a palavra 'Caravanserai' (ou Caravançarai) originalmente vem do Persa, e significa, literalmente, "palácio de caravanas": uma palavra composta que combina kārvān (caravana, grupo de comerciantes, peregrinos ou outros viajantes envolvidos em viagens de longa distância) com sarāy (palácio).
kārvān (caravana) + sarāy (palácio) = Caravanserais (Caravançarai)
Se você tiver a chance de se hospedar em um Caravanserai, não desperdice a oportunidade!
Visitamos muitos Caravanserais bem autênticos (ou seja, não arrumadinhos-para-turista-ver) nas nossas andanças pelo interior do Irã - alguns deles em péssimo estado de conservação, inclusive, como o de Saryazd.
Se você quer ver um caravanserai bem famoso e de facílimo acesso, super bem preservado - embora um pouco arrumadinho-demais-para-turista-ver - recomendo o lindíssimo Seray-e Moshir no Bazar Vakil em Shiraz.
Ah, e em Meybod há um caravanserai bem legal de visitar, que hoje inclusive é um museu: o Caravanserai Zeilo Museum.
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onde quer que andásemos no Irã, em qualquer micro povoado - como Saryazd - bastava dar uma olhada no Google Maps que sempre encontrávamos um Caravanserai |
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caravanserai em Saryazd |
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caravanserai fortificado da Dinastia Seljúcida, construído por volta do ano 1037DC |
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caravanserai em Meybod |
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fachada do caravanserai de Meybod, onde hoje funciona um museu, com loja de artesanato, restaurante e biblioteca |
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caravanserai bem turístico no Bazar Vakil de Shiraz |
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o caravanserai no Bazar Vakil de Shiraz é hoje um enorme mercado, cheio de lindas lojas de artesanato |
Tapetes Persas e Kilim
Acho que, quando a gente fala em Irã, a 1ª coisa que muita gente lembra é "tapete persa".
Já contei que a pergunta que eu mais ouvia durante a nossa viagem era "vocês não vão comprar um tapete persa?", "como vocês conseguem não comprar tudoooo?"
Ora, gente, é fácil: um tapete persa custa entre U$ 400 e U$ 4000 - em média, mas, é claro, dependendo do tamanho dele, o céu é o limite!
Com esses preços, que se justificam pelo trabalho envolvido na execução de um tapete desses, fica fácil entender como conseguimos "não comprar tudo"🤣
O preço de um tapete persa é definido por vários fatores, principalmente pelo tamanho - cada 10cm podem fazer uma baita diferença!
Um tapete persa pode ser tecido em seda pura e levar mais de um milhão de pontos por m2 na sua confecção, fazendo com que o processo seja muito lento e demore ANOS para ser concluído, já que o processo é todo artesanal.
Às vezes, VÁRIAS mulheres podem passar meses tecendo um único tapete!
Então raciocine assim: ao comprar um tapete persa, você estará remunerando o trabalho artesanal de várias mulheres por vários meses!!
Elas chegam a passar 12hs por dia sentadas no chão, numa posição super incômoda, tecendo aqueles tapetes. Muitas têm vários filhos para sustentar. Muitas delas têm esse trabalho como única fonte de renda da família, são viúvas...tantas histórias...já pensou por esse lado?
Eu experimentei sentar ali por uns minutos e tentar tecer um tapete, elas me mostraram como fazer os nós...e concluí rapidamente que eu me cortaria os pulsos no 1º dia de trabalho, de tanto tédio e ansiedade misturados!
Minhas habilidades manuais se resumem a catar milho num teclado de computador, ou seja, são praticamente nulas, e por isso eu acho que acabaria rasgando o tapete inteiro com os dentes de tanto ódio 😡
Pensando assim, a gente valoriza o trabalho delas como deve ser valorizado e começamos a achar até baratos os malditos tapetes persas hehehehe...
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no Irã, os tapetes são parte tão importante da cultura que merecem até estátuas, como esta no calçadão da Rua Zand em Shiraz |
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a capital iraniana, é claro, também homenageou em bronze, na frente do Bazar de Teerã, seus mercadores de tapetes persas |
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as mesquitas - como a maravilhosa Nasir ol Molk em Shiraz - têm o piso sempre inteiramente forrado de tapetes, onde os fiéis se ajoelham para fazer suas várias orações diárias |
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tapetes persas lindos que cobrem o piso da Mesquita Jameh em Yazd |
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loja de tapeçarias no Bazar Vakil em Shiraz |
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nos bazares, eles vendem não apenas os tapetes prontos, mas também a matéria-prima usada na confecção dessas obras de arte |
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dezenas de tapetes persas empilhados no pátio interno de um importante santuário xiita em Shiraz no Irã |
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os salões cobertos de tapetes persas maravilhosos no Palácio Golestan em Teerã
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Aliás, aqui vai uma dica bem legal: no Irã, isso não é tãooo fácil, mas, se você tiver a oportunidade de visitar uma comunidade nômade, pode tentar comprar um tapete Persa ou Kilim diretamente das mulheres que o teceram!
Além de ser uma sensação completamente diferente a de conhecer as mãos que teceram o tapete que vai vir com você pra casa; além da delícia que é conhecer a história da obra de arte que você está adquirindo; você ainda garante que o $$$ pago pelo tapete vai direto pro bolso da mulher que o teceu por meses a fio.
Caso contrário, é certeza que ela vai receber pela arte dela apenas uma fração mínima do dinheiro que você pagou 😢
Um tapete persa é uma herança para deixar para os netos, e vale cada centavo investido nele - nós mesmos já investimos em tapetes lindos comprados no Egito e na Caxemira Indiana que estão aqui em casa hoje - mas, às vezes, a simples missão de escolher UM entre milhares de tapetes maravilhosos amontoados (ou enrolados) e ainda ter que ficar um bom tempo barganhando o preço se torna tão cansativa, árdua e desgastante que nós até desistimos 🙄
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os bazares têm lojas com centenas de tapetes persas empilhados - chega a dar preguiça de começar a escolher! |
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é muito interessante entender como é trabalhosa a confecção de um tapete persa
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por onde eu começo a desbravar essa floresta de tapetes persas??? |
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salas e mais salas cheias de tapetes empilhados e enrolados |
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o preço de um tapete persa é definido por vários fatores, principalmente pelo tamanho
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me chamem de louca, mas só de olhar essas pilhas todas me dá até uma certa crise de ansiedade e eu já desisto antes de começar a escolher hehehe... |
Outra dica importante se você está disposto a investir em um tapete persa: aprenda a barganhar nos bazares!
Veja mais abaixo neste mesmo texto as minhas dicas infalíveis para barganhar num bazar persa usando o Google Translate.
Assim como em quase todos os lugares onde já estivemos no
Oriente Médio, barganhar nos mercados persas é uma obrigação.
No Irã, a barganha nem é tão exagerada, pois eles não pedem um preço abusivo no início da negociação, mas sempre é possível conseguir um bom desconto, especialmente se você estiver negociando itens mais caros, como tapetes.
Sentar, tomar um chá e aprender tudo o que puder sobre a obra de arte que você está levando pra casa faz parte da "experiência" de comprar um tapete persa! Prepare-se para 'gastar' um bom tempinho negociando para baixar o preço inicial e tomar vários chás - é praticamente impossível negociar um tapete persa sem chá!
A quem tem bala na agulha (também chamado bastante $$$ para gastar), eu recomendo dar uma olhada nos tapetes maravilhosos das lojas que ficam nos arredores do Restaurante Namakdan Mansion em Esfahan. O nome da rua é Posht Matbakh, e ela fica ali ao lado da Praça Naqsh-e-Jahan. Lá eu vi os tapetes persas mais lindos da vida (e mais caros também)! São praticamente galerias de arte.
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uma das inúmeras lojas de tapetes persas no imenso Bazar de Esfahan
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a beleza do tapete desta loja no Bazar de Yazd |
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loja de tapetes em Yazd |
O Irã é o maior produtor e exportador mundial de tapetes feitos à mão, produzindo 3/4 da produção total mundial, com participação de 30% nos mercados de exportação mundiais.
Os tapetes ainda têm muita importância na cultura islâmica, e os mais valiosos são justamente os tapetes persas, que podem ser puramente decorativos ou usados como tapetes de oração.
A tecelagem de tapetes no Irã teve origem na Idade do Bronze, e é uma das maiores manifestações da arte iraniana.
E, por último, uma outra informação interessante para você que está tentado a fazer esse investimento maravilhoso: você vai perceber que alguns tapetes são bem diferentes dos outros - são os Kilim.
A palavra Kilim vem do turco e significa “dupla face”.
Esses tapetes, cujas origens remontam a 8.000AC, não são produzidos como os outros, que são tecidos através do uso de nós. Nos Kilim, os fios são laçados, o que faz com que eles pareçam um bordado, e não têm pêlos, não são aveludados, são mais ásperos.
Os Kilim mais famosos são justamente os feitos por povos nômades no Irã, Paquistão, Turquia, Índia e Afeganistão.
Cada Kilim tem uma história e um estilo diferentes, ligado às memórias e à identidade dos povos que os tecem, variando de acordo com a cultura de cada povo. Cada tribo e localidade têm o seu próprio estilo: cores mais sóbrias ou mais vistosas, desenhos mais simples ou mais complexos, etc.
Os Kilim turcos e iranianos, por exemplo, não têm desenhos de animais ou de figuras humanas, pois seguem a lei islâmica, que não permite essa prática; já os Kilim indianos têm figuras humanas e desenhos de animais estilizados, além de figuras geométricas.
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pátio interno da Mesquita Jameh de Esfahan forrado de tapetes persas
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tapete persa gigantesco no Palácio Golestan na capital Teerã
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tapete da Mesquita Jameh em Yazd |
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desenho da cúpula de uma mesquita num lindo tapete persa tecido em seda pura |
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uma verdadeira obra de arte em seda, com preço compatível com o de uma obra de arte! |
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um dos meus favoritos - note a incrível variedade de cores, desenhos e grafismos... |
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já que não posso comprar, eu fotografo todos tapetes que amo e trago eles todos comigo de volta para casa! |
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tapete do nosso quarto na pousada em que nos hospedamos em Esfahan |
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tapete persa maravilhoso em Jolfa, o bairro armênio de Esfahan |
Irã, o paraíso das compras
Já falei várias vezes e não canso de repetir que o Irã é um dos países mais tentadores para o bolso onde eu já estive, um paraíso para quem ama um bazar e umas comprinhas.
Já escrevi um post aqui no blog com várias dicas de compras no Irã e também expliquei as minhas estratégias para não ir à falência nas nossas viagens...simmmm, eu tenho um truque especial que garante a minha saúde mental e financeira nas viagens!
Além disso, também expliquei lá qual a melhor forma que encontramos para barganhar nos mercados iranianos - dicas imperdíveis para quem vai ao Irã!
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olhinhos brilhando nos bazares persas |
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um dos meus bazares favoritos no Irã: o bazar do cobre em Esfahan |
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narguile = shisha = hookah à venda num mercado persa |
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mercadorias à venda num dos vários bazares que visitamos no Irã |
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artistas trabalhando nos ateliês de Esfahan |
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assistir os artesãos produzindo suas obras de arte foi um dos meus programas favoritos na viagem ao Irã |
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não é incrível descobrir que todo esse trabalho é feito artesanalmente, usando um martelinho!? |
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olha o resultado final do martelinho! |
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o artista e seu ateliê |
Péssimo estado de conservação dos sítios arqueológicos no Irã
Uma coisa que me decepcionou no Irã foi ver o péssimo estado de conservação (e de cuidados) em que se encontram os sítios arqueológicos.
Como expliquei acima, muitas das construções em regiões desérticas são feitas inteiramente de adobe. Apesar de todas as vantagens desse tipo de construção (são térmicas e baratas - veja acima), por serem feitas de puro barro, com o passar dos milênios, esses importantes prédios históricos necessitam de bastante manutenção, pois precisam ser protegidos da umidade, já que o adobe usado na construção vai se desintegrando quando em contato direto com a chuva.
Persépolis, por exemplo, onde ficam as ruínas da antiga capital persa de Dario, o Grande, é uma das grandes maravilhas do mundo antigo, fundada no ano 520AC.
Considerada um Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, é triste ver como o local é mal conservado e subaproveitado.
Sendo um local tão importante, historicamente falando, e percebendo, por outro lado, como as cúpulas das mesquitas de Esfahan, por exemplo, estão sendo restauradas e são bem cuidadas, fiquei sem entender o porquê daquele relaxamento também com outros importantes sítios arqueológicos que visitamos, como Naqsh-e-Rostam, local onde estão 4 túmulos/necrópolis do Império Aquemênida esculpidos nos penhascos, e Pasárgada, a capital de Ciro, o Grande, fundador do Império Persa, onde está seu túmulo.
Afinal, são lugares importantíssimos para a história da humanidade - quem não lembra de ter escutado sobre a antiga Pérsia nas aulas de história? E estão bem mal conservados, super subexplorados turisticamente (podiam estar rendendo um dinheirão), sem informações em inglês...enfim, dá pena de ver!
Foi conversando com uma família de iranianos que conhecemos lá que conseguimos entender o motivo do péssimo estado de conservação destes sítios arqueológicos em especial: eles são de uma época em que o Islamismo sequer existia, e os Aiatolás de hoje não têm nenhum interesse em preservar a história da Antiga Pérsia, cuja religião era o Zoroastrismo, como explico mais abaixo!
Agora vê se isso tem algum cabimento??
Essa família que nos explicou isso usou exatamente essas palavras: "por eles, já tinham passado um trator e destruído tudo isso aqui" 😕
Triste quando a história DA HUMANINDADE fica nas mãos (e dependendo) de um bando de ignorantes e fanáticos religiosos, né?
Embora o estado de conservação das ruínas realmente não seja dos melhores, visitar Persépolis, por exemplo, é como visitar Petra ou Luxor, é como revisitar a história. Não perca de jeito nenhum!
Afinal, não é todo dia que a gente pode conhecer um local que já estava por aqui há mais de 2.500 anos! 😳
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a situação calamitosa das ruínas de adobe do Castelo de Saryazd |
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note como os tetos em abóbada, sem manutenção, estão todos desabados em Saryazd |
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em Qalaat, o péssimo estado de conservação de uma antiga igreja católica |
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em Naqsh-e-Rostam, até nos surpreendemos ao ver andaimes que pressupõem trabalhos de restauração na Tumba de Xerxes, mas soube que os trabalhos estão há muito parados por falta de verbas |
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família de iranianos que conhecemos em Persépolis e que nos explicaram o motivo do péssimo estado de conservação dos sítios arqueológicos Zoroastras do Império Persa |
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a única parte de Persépolis que tem uma cobertura contra os efeitos do sol e da chuva |
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por outro lado, inúmeras cúpulas de mesquitas - obras islâmicas, é claro - estão em pleno processo de restauro 😡 |
Zoroastrismo e o Profeta Zaratustra
Publiquei um post específico aqui no blog sobre esta religião antiga, que era a religião oficial do Irã antes da conquista islâmica.
Antes de ir ao Irã, não deixe de se informar sobre o
Zoroastrismo,
para entender melhor tudo o que você vai ver lá!
Nesse mesmo post, contei tudo sobre as Torres do Silêncio e os Templos do Fogo - veja lá, que eu não vou repetir tudo aqui:
Khan e Takhts
As casas tradicionais restauradas e transformadas em hotéis em Yazd se chamam khan-e sonnati, e são algumas das acomodações mais bacanas e autênticas do Irã. Ficar hospedado em um desses edifícios históricos é uma verdadeira imersão cultural, simplesmente imperdível!
As mesas, em estilo sofá-cama, chamadas takhts, são encontradas por todas as partes do Irã. Esses sofás-cama típicos iranianos dão um charme especial aos pátios internos das mansões históricas.
Em Yazd e em Esfahan, especialmente, nós nos esbaldávamos.
Quando o calor apertava, nos refugiávamos num dos 'takhts' do nosso 'khan' para tomar chá e desfrutar da comida local, como os iranianos têm feito há vários séculos, aproveitando a brisa vinda dos coletores de vento!
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quando o calor apertava, nos refugiávamos num dos takhts (mesas em estilo sofá-cama) do nosso khan em Yazd para tomar chá e desfrutar da comida local, como os iranianos têm feito há vários séculos |
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essas casas tradicionais restauradas e transformadas em hotéis em Yazd se chamam khan-e sonnati, e são algumas das acomodações mais bacanas e autênticas do Irã |
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pátio interno do Fahadan Museum Hotel em Yazd - os sofás-cama típicos iranianos dão um charme especial aos pátios internos das mansões históricas |
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khan-e sonnati Fahadan Museum Hotel em Yazd |
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Mehr Traditional Hotel & Restaurant |
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ficar hospedado em um desses edifícios históricos é uma verdadeira imersão cultural - Fahadan Museum Hotel em Yazd |
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takhts no Bastani Traditional Restaurant em Esfahan |
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Orient Traditional Hotel em Yazd |
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essas mesas em estilo sofá-cama, chamadas 'takhts', são encontradas por todas as partes do Irã
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Badgirs e Qanats no Irã
Ainda falando sobre elementos arquitetônicos, não posso deixar de mencionar 2 estruturas que são muito típicas das regiões desérticas do Irã:
- Badgirs (torres de vento)
- Qanats (aquedutos subterrâneos)
Uma torre de vento (em persa Badgir, Bad = vento + gir = apanhador) é um tradicional elemento arquitetônico persa, usado para criar uma ventilação natural nos edifícios. Um "coletor de vento", ou "apanhador de vento". Em outras palavras, é o ar condicionado natural dos primórdios.
Eu já tinha aprendido sobre os Badgirs quando estivemos em
Dubai, onde eles também são comumente utilizados para ventilação.
Aliás, essas estruturas continuam presentes hoje em dia em muitos países do Oriente Médio com arquitetura tradicional influenciada pela Pérsia, mas a maioria dos historiadores e arqueólogos acreditam que foram os Persas os inventores das torres de vento, pois foram descobertas ruínas de um templo persa de 3.000AC que tem estruturas semelhantes a chaminés, contudo sem quaisquer vestígios de cinzas.
Há 5.000 anos, as pessoas que viviam em climas muito tórridos não tinham nada além de meios naturais para ventilar seus espaços e controlar a temperatura interna, e foi assim que criaram os coletores de vento, elemento arquitetônico tradicional de resfriamento, que tem sido usado há milhares de anos em países com climas extremamente quentes.
As torres de vento têm estruturas semelhantes a uma chaminé, feitas de argila, madeira ou tijolos, e construídas nos telhados de casas, mesquitas ou depósitos, para aproveitar a brisa fresca e direcioná-la para baixo, em direção ao interior.
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torre de vento em Abarkooh, um tradicional elemento arquitetônico Persa usado para criar ventilação natural nos edifícios |
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os bastões de madeira horizontais que você vê aparecendo no meio das torres de vento possuem diversas funções |
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os bastões de madeira são usados para manutenção, como andaimes, como ponto de pouso de pombos e têm até uma função estética, dando equilíbrio e identidade a cada torre |
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os coletores de vento são muito típicos nas regiões desérticas do Irã e em outros países do Oriente Médio com temperaturas extremamente altas |
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o ar condicionado natural dos primórdios |
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a maioria dos historiadores e arqueólogos acreditam que foram os Persas os inventores das torres de vento |
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as torres de vento têm estruturas semelhantes a uma chaminé, feitas de argila, madeira ou tijolos, e construídas nos telhados de casas, mesquitas ou depósitos, para aproveitar a brisa fresca e direcioná-la para baixo, em direção ao interior |
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vale selfie com a torre de vento? |
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para quê ar-condicionado, se o felizardo tinha 4 badgirs para se refrescar em Yazd?! |
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os badgirs de Yazd são esteticamente mais refinados que os de outras cidades |
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badgir no Fahadan Museum Hotel em Yazd com aberturas ornamentadas com argila, gesso e relevos de argamassa |
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famosos badgirs da cisterna do Centro Cultural Saheb A Zaman Zurkhaneh em Yazd |
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à noite, as torres de vento ficam ainda mais bonitas iluminadas |
A região de Yazd possui inúmeros coletores de vento, um mais lindo que o outro, de vários modelos diferentes!
A cidade de Yazd é conhecida como shahr-e bâdgirhâ (cidade das torres de vento), e é famosa pela grande quantidade e variedade dessas estruturas arquitetônicas, algumas das quais datam do Período Timúrida.
Os coletores de vento mais comuns são de 3 tipos:
- Ardakani (captura vento de apenas uma direção);
- Kermani (capturam ventos de 2 direções diferentes); e
- Yazdi (capturam ventos de 4 direções).
Algumas variações de torres podem chegar a capturar ventos de 8 direções diferentes - uma engenharia incrível!
Os bastões de madeira horizontais que a gente vê aparecendo no meio das torres de vento possuem diversas funções - são usados para manutenção, como andaimes, como ponto de pouso de pombos e têm até uma função estética, dando equilíbrio e identidade a cada torre.
Vocês vão ver Badgirs espalhados por toda a Pérsia - vimos vários em Meybod e Naeein, por exemplo - mas, se prestarem atenção nos detalhes, vão perceber que os de Yazd realmente são esteticamente mais refinados, com diversas aberturas ornamentadas com argila, gesso ou relevos de argamassa.
Em Abarkooh, na Aghazadeh Historical House, existem alguns coletores de vento tão famosos por suas proporções estéticas perfeitas que foram parar na cédula de Rials Iranianos!
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quando você descobre que está no lugar histórico retratado na cédula de Rials Iranianos |
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Aghazadeh Historical House, em Abarkooh |
Qanats
Também não perca a oportunidade de conhecer de perto um Qanat - estrutura subterrânea capaz de recolher e canalizar a água das chuvas, transportando-a para as cidades.
Os 'qanats' são um sistema de gestão de água e irrigação usado para garantir um fornecimento estável de água em regiões de clima desértico, funcionando como aquedutos subterrâneos.
Esse sistema incrível foi desenvolvido na Pérsia ainda antes de Cristo, e hoje em dia é considerado um Patrimônio Mundial pela UNESCO.
Visitamos um hotel em Yazd - o Fahadan Museum Hotel - que, por incrível que pareça, tem o seu próprio Qanat, como várias casas antigas de pessoas ricas, que armazenam água fresca em piscinas nos seus porões, conhecidas como sardob.
Imperdível!
Se você quiser se aprofundar no assunto e aprender mais sobre esses aquedutos subterrâneos, visite o Yazd Water Museum, dedicado aos bravos homens que os construíram.
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no Hotel Fahadan em Yazd, você vai ter a imperdível oportunidade de conhecer de pertinho um qanat |
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um qanat é uma estrutura subterrânea capaz de recolher e canalizar as águas das chuvas, transportando-as para as cidades |
Casas de Gelo, Cisternas e Torres de Pombos no Irã
Além dos Badgirs e Qanats, e ainda no tema 'elementos arquitetônicos', não posso esquecer de falar sobre outros 3 tipos de construções muito características dessas mesmas áreas mais desérticas do Irã, que fazem parte da identidade arquitetônica da região de Yazd:
- Casas de Gelo (Yakhchāl)
- Cisternas (ab anbars)
- Torres de Pombas
As Yakhchāl são literalmente 'poços de gelo': yakh significa gelo e chāl significa poço.
São antigos sistema de resfriamento por evaporação, usados para armazenar gelo.
Essas 'casas de gelo' são as antigas geladeiras (ou refrigeradores) do deserto iraniano, são depósitos de gelo típicos da área desértica do Irã, onde é muito quente no verão, mas no inverno costuma congelar.
Eles faziam gelo durante o inverno e usavam o local para depositar tudo aquilo que precisavam manter resfriado durante o verão. Uma engenharia incrível!
Em Naeein, no deserto central do Irã, não muito longe de Yazd, há uma das casas de gelo mais bonitas e bem preservadas do país, toda construída de argila e adobe. Em Abarkooh também vimos uma casa de gelo bem famosa, assim como em Meybod.
Acima do solo, as estruturas arquitetônicas têm esse formato de cúpula que se vê nas fotos e, lá dentro, há um espaço subterrâneo enorme de armazenamento de gelo, usado para guardar comida também. O espaço subterrâneo, unido ao espesso material de construção, resistia ao calor do verão e mantinha tudo lá dentro fresco, isolado das altas temperaturas externas.
É impressionante entrar lá dentro num dia de muito calor e perceber a absurda diferença entre as temperaturas do lado de dentro e do lado de fora. Lá dentro, parecia que tinham ligado um ar condicionado!
Para ventilação, eles usavam as mesmas torres de vento sobre as quais falamos acima.
Quando você for ao Irã, não deixe de aproveitar para conhecer uma casa de gelo!
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casa de gelo em Abarkooh no Irã |
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placa que explica o funcionamento de uma casa de gelo em Meybod no Irã |
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famosa casa de gelo de adobe em Meybod |
Cisternas
Outro tipo de estrutura arquitetônica bem comum de encontrar no Irã são as cisternas, ou ab anbars, que funcionam como tradicionais reservatórios de água potável.
Um 'ab anbar' típico tem 4 elementos: o reservatório subterrâneo, a plataforma, a cúpula e os coletores de vento.
O reservatório subterrâneo, de formato cilíndrico, muitas vezes 10m abaixo do nível da rua, mantém a temperatura baixa e estável da água, bem abaixo da superfície do solo, para fugir do calor do sol do verão.
A cúpula semicircular, revestida de tijolos, é visualmente parecida com uma stupa budista, e tem aberturas de escape no centro para resfriar a água.
E a maioria das cisternas ainda tem 3 ou 4 badgirs adjacentes, para manter a circulação de ar fresco, evitando a deterioração da qualidade da água.
Vimos essas cisternas em diversas cidades iranianas situadas em áreas áridas por onde passamos, como Meybod, Yazd e Naeein.
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cisterna em Yazd no Irã - note como cada 'ab anbar' é bem diferente do outro, embora todos tenham a mesma estrutura |
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cada cisterna, como esta em Naeein, possui 4 elementos: o reservatório subterrâneo, a plataforma, a cúpula e os coletores de vento |
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reservatório de água potável em Meybod no Irã |
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a maioria das cisternas, como esta em Yazd, tem 3 ou 4 badgirs adjacentes, para manter a circulação de ar fresco, evitando a deterioração da qualidade da água |
Como expliquei acima, as regiões desérticas do Irã usam o sistema de Qanats para recolher e transportar as águas das chuvas, e essas cisternas funcionam como a parte terminal desses extensos sistemas tradicionais de abastecimento de água, que possibilitam a existência de assentamentos urbanos mesmo nas regiões mais áridas do deserto do Irã Central.
Os riachos alimentados pela neve nos sopés das montanhas são canalizados através de sistemas de canais subterrâneos (Qanats), e a água dali muitas vezes é transportada por grandes distâncias até ser descarregada e armazenada em reservatórios subterrâneos nos centros das cidades, os ab anbars.
Eles acreditam que as primeiras construções urbanas de abastecimento de água em Yazd datam do Período Sassânida, e a maioria dos 'ab anbars' existentes hoje em dia são dos Períodos Safávida e Qajar.
Existem aproximadamente 90 cisternas sobreviventes em Yazd hoje.
A cisterna mais incrível que nós visitamos na nossa viagem pelo Irã foi a que fica situada onde hoje é o Centro Cultural Saheb A Zaman Zurkhaneh, em Yazd.
Essa cisterna cavernosa, que já abastecia de água a cidade de Yazd há uns 430 anos, foi construída em 1580, e parece um imenso ovo em pé, coroado com 5 badgirs (torres de vento).
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a cisterna mais famosa de Yazd possui 5 coletores de vento |
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placa informativa na cisterna existente onde hoje é o Centro Cultural Saheb A Zaman Zurkhaneh, em Yazd |
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foi super interessante visitar por dentro essa cisterna em Yazd para entender todo o funcionamento da estrutura |
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o reservatório subterrâneo, de formato cilíndrico, vários metros abaixo do nível da rua, mantém a temperatura baixa e estável da água, para fugir do calor do sol do verão |
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este importante reservatório de água de Yazd tem mais de 430 anos e 29m de altura |
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por dentro, a cúpula semicircular da cisterna é revestida de tijolos, com aberturas de escape no centro para resfriar a água |
Hoje em dia, com os sistemas de abastecimento de água encanada modernos, as cisternas de Yazd estão ficando em estado precário de preservação.
Uma outra cisterna que ficou famosa no Irã foi a existente no Forte Arg-e Karim Khan na Praça Shohada, em Shiraz.
Esta fortaleza tem torres circulares lindíssimas de 14m de altura, uma delas no melhor estilo Torre de Pisa: pelo que conta a história, essa torre torta da fortaleza desabou sobre a cisterna que alimentava o banheiro do Karim Khan!
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a "Torre de Pisa" de Shiraz, que entortou ao desabar sobre a cisterna que alimentava o banheiro do Karim Khan |
Torres de Pombos
Ainda um outro tipo de estrutura incrível que você vai ver em vários locais no Irã são as torres de pombos!
A torre de pombos mais bonita e bem preservada que visitamos no Irã foi em Meybod.
O edifício tem forma cilíndrica e é considerado uma das maravilhas da arquitetura persa.
Com uma altura de 8m, a Pigeon Tower tem 3 andares, uma cúpula hexagonal e decorações de gesso e serrilhadas por todos os lados.
Os principais materiais utilizados na construção, assim como em outros edifícios históricos da região de Yazd, são adobe e barro.
No telhado da Torre dos Pombos, pode-se ver 4 pequenas torres com 1,5m de altura, que eram a entrada e saída dos pombos.
Um pombal de respeito!!
A Pigeon Tower Kabootar Dovecote era a maior fábrica de fertilizantes da antiguidade - nela viviam até 4.000 pombas e pombos migratórios, que formavam seus ninhos nos nichos de 20x20cm e passavam o dia produzindo guano - ou seja, 💩 - o melhor fertilizante orgânico que existe!
Esses pombais foram construídos no Irã na época da Dinastia Safávida e o cocô das pombas também era muito usado para tingir couros e até como pólvora!
Quem aí já sabia que cocô pudesse ser tão útil???
A arquitetura da torre de pombos de Meybod ainda garantia um local seguro para essas aves se reproduzirem, pois o formato da entrada não permitia que predadores, como falcões, corujas, ou outras aves de rapina, pudessem entrar para caçar os pombos.
Os ingressos para visitar esse lugar incrível custam IR 50,000, ou seja, menos de U$ 2!
Em Esfahan também existem 'Pigeon Towers' (dovecotes) que você pode visitar.
Aliás, vale dizer que essas estruturas também não são uma exclusividade iraniana: dias depois da nossa visita à torre de pombos de Meybod, estivemos visitando uma outra torre dessas, mas desta vez em
Doha, no Catar!
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Kabootar Dovecote em Meybod no Irã, uma das maravilhas da arquitetura persa |
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esta "fábrica" produzia os melhores fertilizantes orgânicos nos seus 4.000 ninhos de pombos |
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a torre cilíndrica de pombas mais bonita e bem preservada que visitamos no Irã foi em Meybod |
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um pombal de respeito, com 8m de altura e 3 andares |
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selfie no pombal kkkk... |
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a maioria desses pombais foram construídos no Irã durante a Dinastia Safávida, com uma cúpula hexagonal e decorações de gesso e serrilhadas por todos os lados |
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as pombas faziam ninhos nos nichos e passavam o dia produzindo guano, ou seja, 💩 |
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o cocô das pombas era muito usado para tingir couros e até como pólvora! |
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você imaginava que cocô pudesse ter tanta utilidade? |
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no telhado da Torre dos Pombos, pode-se ver 4 pequenas torres com 1,5m de altura, que eram a entrada e saída dos pombos |
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a arquitetura da torre de pombos de Meybod garantia um local seguro para as aves se reproduzirem, pois não permitia que predadores entrassem para caçar os pombos |
Desertos no Irã
E, já que estamos falando em regiões desérticas, preciso dizer que uma viagem ao Irã não fica completa sem uma incursão por um dos 2 desertos do país:
No deserto de Dasht-e Kavir, por exemplo, você vai encontrar uma mistura de areia e sal que "vai te cegar na sua brancura e te ensurdecer no seu silêncio", como eu li em algum lugar.
Contra todas as expectativas, existem oásis em meio a esses desertos, e alguns vilarejos com fácil acesso que você pode visitar.
O mais famoso vilarejo do deserto no Irã talvez seja Khur, mas essa cidade fica super distante e isolada, então, se você não tiver muito tempo, te recomendo visitar outros lugares bem mais próximos e acessíveis, como Kuhpayeh, Toudeshk e Naeein (um dos nossos escolhidos), todos eles situados no trajeto entre Yazd e Esfahan!
Nós já conhecemos muitos
desertos mundo afora, do Atacama ao Deserto de Thar na Índia, do Mojave ao Deserto de Gobi na Mongólia, do Saara ao Deserto de Abu Dhabi...então, quando soube que havia um tal
Deserto de Lut no Irã, pensei que seria só mais um passeio de deserto 🤪
Quanta ingenuidade!
Visitamos o Sinbad Desert Camp, um acampamento no Deserto de Lut a uns 30Km de Yazd, ao norte da cidade, e foi lindo, lindo, lindo...
Conforme o sol vai caindo, vai banhando as dunas de luz, as cores vão mudando...é mágico e emocionante - me arrepio só de lembrar!
Sei que muita gente já fez passeios ao Vale da Lua, no Atacama, ou ao Deserto dos Emirados, em viagens a Dubai, mas posso te garantir que, no Irã, o passeio ao deserto é completamente diferente desses lugares mais conhecidos e turísticos - é bem mais genuíno e autêntico: lá você vai encontrar paz, silêncio, solidão, sem outros turistas apurrinhando na volta, só tu e o deserto abraçados 🧡
Só tem que ter muito cuidado com essas visitas ao deserto iraniano se você viajar no verão, quando as temperaturas médias por lá ficam acima dos 50ºC.
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o Sinbad Desert Camp é um acampamento no Deserto de Lut situado uns 30Km ao norte de Yazd |
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Sinbad Desert Camp em Yazd |
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a beleza natural do Deserto de Lut |
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uma viagem ao Irã não fica completa sem uma incursão ao deserto |
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nos desertos iranianos você vai encontrar paz, silêncio, solidão, e não haverá outros turistas apurrinhando na sua volta - serão só tu e o deserto abraçados |
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conforme o sol vai caindo, vai banhando as dunas de luz, e as cores vão mudando... |
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a visita ao deserto no Irã é mágica e emocionante - me arrepio só de lembrar! |
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no Irã, o passeio ao deserto é bem mais genuíno e autêntico do que em lugares mais turísticos, como Dubai e o Atacama, por exemplo |
Nômades no Irã
As Montanhas Zagros no Irã são lar para muitos Persas, Curdos, Loris e um grande número de nômades, especialmente das etnias Bakhtiyari e Qashqa'i.
As tradições nômades permeiam a vida nas montanhas, onde há algum cultivo, e é interessante observar a diferença dessas áreas para as zonas de deserto nas planícies.
No interior do país, diferentemente das grandes cidades turísticas, poucas pessoas falam inglês e os transportes públicos são escassos.
A melhor época para visitar essas áreas é de abril a novembro, quando os nômades acampam nas colinas.
No inverno, eles vão para os vales ao sul de Shiraz e muitas das estradas nas altas montanhas se tornam intransponíveis pelo acúmulo de neve.
Eu sempre acho que, para realmente ver e entender um país, é preciso sair dos grandes centros turísticos e conhecer o seu interior.
Ver essas cenas ao vivo e a cores não tem preço!
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as Montanhas Zagros, que ficam a noroeste de Shiraz, são um bom lugar para conhecer os nômades iranianos |
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para ver e entender um país, é preciso sair dos grandes centros turísticos e conhecer o seu interior |
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a melhor época para conhecer nômades no Irã é de abril a novembro, quando eles acampam nas colinas com seus rebanhos |
Melhor época para viajar ao Irã
Esta é uma dica importante: as melhores épocas para viajar ao Irã são certamente a primavera e o outono, quando o clima não está tãoooo quente nem tãooo frio.
Os verões no Irã - especialmente entre os meses de junho e agosto - são simplesmente impossíveis de suportar ao ar livre, turistando, com temperaturas altíssimas, que desanimam a gente de qualquer passeio.
Viajamos ao Irã em abril/maio e já passamos bastante calor na região de Yazd, mais desértica - eu jamais recomendaria ir lá no verão, entre a metade de junho e o começinho de setembro, pois você vai aproveitar muito pouco os seus passeios, já que mal dá vontade de sair de perto do ar condicionado! E muito menos com um pano enrolado na cabeça e no pescoço, te asfixiando!
Se decidir cometer o desatino de visitar o Irã no verão, não esqueça de levar óculos de sol, usar muito protetor solar, tomar bastante água para se hidratar e, observando o 'dress code' local, usar roupas leves!
Já o inverno, entre dezembro e março, também pode ser bemmm frio no Irã - talvez você não saiba, mas nas montanhas ao redor de Teerã existem até estações de esqui!
Eu não teria problema nenhum de ir para lá no inverno - é uma época excelente para se vestir de acordo com o 'dress code' iraniano: basta colocar um casacão e enrolar o cachecol na cabeça e está pronta!
Mas, para quem não curte passear no frio, é melhor evitar os meses de dezembro até a metade de março.
Neste caso, vá entre a metade de março e a metade de maio (primavera) ou entre o meio de setembro e novembro (outono) - épocas de temperaturas perfeitas para passear!
Ah, e uma última dica: diferente de mim, não esqueça de verificar, ANTES DE DECIDIR VIAJAR, em qual mês vai cair o Ramadã - assim você poderá ler sobre o assunto e decidir se quer ou não ir para um país muçulmano xiita nessa época.
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leve óculos de sol, use muito protetor solar, tome bastante água para se hidratar e, observando o 'dress code' local, use roupas de tecidos leves, como linho |
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mesmo tendo viajado ao Irã em abril/maio, passamos bastante calor na região de Yazd, mais desértica - os verões lá devem ser insuportáveis |
Os famosos jardins iranianos e a primavera
Já que estamos falando em primavera, justamente a estação do ano em que viajamos, preciso contar que o Irã é um destino que tem, como pontos turísticos, alguns famosos jardins - tão importantes que alguns deles são inclusive reconhecidos pela UNESCO como Patrimônios da Humanidade!
Por isso, a primavera é realmente uma época especial para se visitar o Irã, período em que todos esses jardins estão no seu auge, exibindo toda a sua exuberância e o colorido máximo das flores.
Em Shiraz, por exemplo, você pode visitar os Jardins Eram, tombados pela UNESCO, ou o meu favorito: o Pavilhão Ghavam e seu Jardim Naranjestan.
É realmente de cair o queixo!
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em Shiraz, não deixe de visitar o Pavilhão Ghavam e seu Jardim Naranjestan |
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alguns jardins iranianos são tão elaborados e engenhosos em seus sistemas de irrigação que foram reconhecidos pela UNESCO como Patrimônios da Humanidade |
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Jardim Naranjestan em Shiraz, o meu favorito |
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a primavera é uma época especial para visitar o Irã |
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na primavera iraniana, todos os famosos jardins do país estão no seu auge |
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a placa informa que esse lugar lindíssimo era um prédio do governo, e que encontros políticos e militares aconteciam aqui - hoje em dia é um museu e ponto turístico importante em Shiraz |
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adorei ter viajado ao Irã na primavera, entre abril e maio |
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toda a exuberância e colorido das flores na primavera no Irã |
O Islamismo
Escrevi um post super detalhado aqui no blog com tudo o que você precisa saber sobre o Islã e sobre o Ramadã para viajar ao Irã.
Lá escrevi sobre as diferenças entre Xiitas e Sunitas, o Alcorão, as Mesquitas Jameh, as Muqarnas, o Salaam Aleikum, os espelhos usados em abundância na decoração islâmica, o ritual de despedida dos muçulmanos, o festival do Nakhl Gardani, o ritual do Namaz e muito mais.
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a Mesquita Sheikh Lotfollah em Esfahan é uma das mais bonitas do Irã |
O Iraniano é Árabe?
Uma informação importante para quem vai ao Irã - inclusive para evitar gafes nas conversas com os locais: iranianos não são árabes.
Pois é, muita gente confunde!
O Irã é formado por uma grande mistura de etnias, e a maioria dos iranianos - mais de 60% - são Persas, povo que não tem NADA a ver com os Árabes (que são pouco mais de 2% da população do Irã).
Acredito que se pode dizer que a maioria da população no Oriente Médio é efetivamente Árabe, mas essa região tem tantas e tantas etnias que é preciso ter cuidado para não achar que todo mundo que vem da região é "Árabe" - nada mais distante da realidade!
Acho que foi num texto do Gabriel quer viajar (cujo link não encontrei para colocar aqui, infelizmente 😓), que li uma ótima comparação: dizer que todo mundo que vem do Oriente Médio é Árabe seria mais ou menos como dizer que todo mundo que tem olhinho puxado é chinês, ignorando japoneses, coreanos, mongolianos e tantas outras etnias!
Alguns dos países árabes mais conhecidos no mundo são a Arábia Saudita, Barein, Catar, Egito, Emirados Árabes, Iêmen, Iraque, Jordânia, Kuwait, Líbano, Síria, Marrocos, Omã e Palestina.
Os Árabes vieram originalmente da Península Arábica, onde hoje ficam localizados o Iêmen, Omã, Emirados Árabes, Catar, Bahrein e Arábia Saudita. Já os Persas são descendentes de povos indo-europeus, que chegaram na região onde hoje é o Irã mais ou menos no ano 1000 a.C.
Como já expliquei no post sobre o Islamismo, a maioria dos Árabes e Persas são muçulmanos, mas, mesmo dentro da mesma religião, ainda há uma importante diferença entre eles, causadora de muitos e muitos conflitos na região: de um modo geral, os Árabes são Sunitas, enquanto os Persas, na sua maioria (mais de 90%), são Xiitas.
Veja mais aqui: Islamismo: o que você precisa saber sobre essa religião e sobre o Ramadã para viajar ao Irã
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a maioria dos iranianos são Persas, povo que não tem NADA a ver com os Árabes |
Judeus no Irã
Como a maioria de vocês já sabe, não é permitida a entrada de Israelenses no Irã, e nem mesmo a entrada de pessoas com carimbo de passagem por Israel no passaporte, mas, por incrível que possa parecer, existem muitos Judeus no Irã!
Aliás, você sabia que o Irã tem a 2ª maior comunidade judaica do Oriente Médio, só ficando atrás, é óbvio, de Israel? São quase 9 mil judeus vivendo oficialmente no Irã - embora digam que os números extraoficiais chegam a 30 mil judeus morando no país!
Existem perto de 100 sinagogas no Irã, onde o Judaísmo é praticado legalmente, entre Teerã, Shiraz, Yazd, Esfahan e outras cidades, e o Parlamento do Irã inclusive tem uma vaga garantida para um representante judeu!
Em Esfahan, vimos um judeu ortodoxo passando por nós na rua, e tenho que confessar que quase não acreditei naquela cena - depois disso é que fui pesquisar sobre judeus vivendo no Irã e descobri tudo isso que estou contando pra vocês!
Inclusive, alguns personagens bíblicos judeus do Antigo Testamento, como a Rainha Persa Esther e o Profeta Daniel (aquele mesmo, que sobreviveu na cova dos leões), que foi promovido a cargos de liderança nos governos Babilônico e Persa, estão enterrados no Irã: Daniel no Cuzistão e Esther em Hamadan (o túmulo dela é o local de peregrinação mais importante para os Judeus no Irã).
Sobre as minorias religiosas no Irã, leia mais aqui.
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vimos muitas manifestações pro-Palestina e contra Israel no Irã |
A lendária hospitalidade persa
Como comentei acima, eu não sabia muito sobre o Irã antes de começar a pesquisar para a nossa viagem, mas o pouco que eu sabia era o seguinte: entre TODOS os grandes viajantes que eu conheço, a opinião é unânime: o povo iraniano é incrível, o Irã é um dos lugares + hospitaleiros do mundo, e o país está nos top 5 de todos eles.
Não há grande viajante que não recomende uma viagem ao Irã. Todo mundo que esteve no país sempre conta histórias de um lugar sensacional, de um povo mega amistoso e de uma das melhores viagens da vida.
A hospitalidade persa é lendária! Hospitalidade de verdade, pura e simples.
Acredito que, hoje em dia, isso já não seja mais tão arraigado na mentalidade das pessoas, mas, no Islã, a hospitalidade é um dever sagrado para os muçulmanos. Tratar bem os convidados é uma obrigação religiosa no Islã, um dever com Deus.
Além disso, como os iranianos não podem viajar, eles querem te tratar bem para que você vá e conte ao mundo como é o verdadeiro Irã, aquele que não aparece na mídia internacional.
Tivemos várias oportunidades para experimentar dessa enorme hospitalidade, como nas ocasiões em que eles nos convidavam para participar dos piqueniques de quebra de jejum com as famílias deles.
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esperando o piquenique de quebra de jejum em Esfahan |
Quando queríamos ajuda para alguma coisa, ou simplesmente pedir uma informação, tínhamos que ter cuidado, porque os iranianos saíam totalmente do caminho deles para nos ajudar, e às vezes até exageravam!
Um dia perguntamos para um adolescente onde poderíamos conseguir simcards da Irancell para comprar e, em questão de segundos, juntou uma turma enorme de adolescentes tentando nos ajudar.
Cada vez juntava mais adolescentes na nossa volta, mas o problema é que nenhum deles falava inglês o suficiente para que conseguíssemos estabelecer uma comunicação razoável hehehhe...até que eles tiveram a brilhante ideia de fazer uma videochamada pelo WhatsApp com o amigo de um deles que falava inglês super bem para que ele traduzisse a conversa e então eles pudessem nos ajudar 🤣
Pior que isso foi o que aconteceu depois, em Yazd: perguntamos a um senhor que estava com o filhinho - um gurizinho de uns 6 ou 7 anos - aonde poderíamos encontrar uma loja da Irancell para comprarmos mais dados móveis (nós e nossos problemas de acesso à internet kkkkk).
O problema é que esse senhor também não falava inglês o suficiente para nos explicar o caminho até a loja, e então o que ele fez?!? Mandou o filhinho nos acompanhar até lá!! Quase morri do coração!
Recusei a oferta umas 12 vezes, achando que era Taarof (expliquei sobre a etiqueta do Taarof abaixo), mas não houve jeito, e o próprio menininho já estava com o pé que era um leque para ir conosco!
Acabamos aceitando que ele nos mostrasse o caminho, achando que seria um local na quadra seguinte, ali pertinho...até descobrirmos que seguiríamos aquele gurizinho por umas 12 quadras pelas ruelas de Yazd!
Ele nos deixou na porta da loja da Irancell e desapareceu, como num passe de mágica. É, a hospitalidade iraniana é tão grande que às vezes parece mágica, mesmo!
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esse iraniano super simpático bem que tentou nos ensinar a grudar o pão típico local nas paredes do forno...mas precisaremos de mais um pouquinho de prática kkkk |
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este outro iraniano nos ajudou de todas as formas a colocar simcards locais e créditos de dados móveis nos nossos telefones celulares |
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tivemos várias oportunidades para experimentar da lendária hospitalidade persa durante a nossa viagem pelo Irã |
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fazendo amigos persas em Persépolis |
Algumas das histórias de hospitalidade mais incríveis que vivenciamos foram nas mesquitas, mausoléus e tumbas islâmicas que visitamos.
Quando escrevi sobre o Ramadã e o Islamismo, já contei algumas dessas histórias, mas acho que vale repetir aqui, para ilustrar a hospitalidade persa.
Como regra, os turistas estrangeiros não muçulmanos não podem entrar sozinhos nestes locais sagrados, então cada santuário tem um homem designado especialmente para nos receber, dar as boas-vindas e fazer um tour básico. Depois disso, eles nos deixam à vontade para circular e fotografar.
Nos santuários Shah Cheragh e Bogh´e-ye Sayyed Mir Mohammed (ambos com entrada grátis) que visitamos em Shiraz, assim que avisaram que havia turistas estrangeiros chegando, eles correram para avisar ao funcionário designado, que nos encaminhou para a entrada onde havia um Chador para me emprestarem, sacos plásticos para guardar os nossos sapatos e depósito de volumes para armazenar a máquina fotográfica do Peg (tudo grátis).
Quando chegamos lá, o funcionário apareceu correndo pelo outro lado para nos receber e fazer o tour, e já havia se colocado uma faixa - que dá para ver na foto abaixo - daquelas tipo 'Miss Universo', em que ostentava com orgulho os dizeres "International Affairs".
Se nos sentimos especiais na condição de 'assuntos internacionais' do dia!? O que vocês acham!?!😅
Não sei não, mas será que quem viaja pelo Irã com um guia local ganha toda essa distinção especial que nós ganhamos? Nessas horas, acho que sermos viajantes independentes tem suas vantagens...
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o responsável por nos acompanhar na visita ao santuário com a sua faixa estilo Miss Universo, em que ostentava com orgulho os dizeres "International Affairs" |
Outro exemplo de tratamento especial que recebemos no Irã por sermos viajantes estrangeiros independentes: quando chegamos perto de Abyaneh, vilarejo histórico situado no meio das montanhas (acima dos 2.000m de altitude), era o 1° dia do grande feriado de Eid al-Fitr, que marca o final do Ramadã.
Já havia tantos turistas iranianos lá aproveitando o feriadão para passear que não haviam mais vagas para estacionar no pequeno vilarejo, e eles estavam parando os carros na estrada, fazendo com que as pessoas estacionassem no acostamento e descessem caminhando até a cidade.
Para chegarmos até Abyaneh, seria necessário caminhar vários quilômetros.
Nós não estávamos entendendo nada do que acontecia, pois, até então, nem sabíamos que era feriado, mas, confirmando a velha e boa hospitalidade persa com estrangeiros, um homem local simplesmente entrou pra dentro do nosso carro alugado e foi abrindo caminho para nós até o vilarejo kkkkk...conseguiram uma vaga para estacionarmos bem no centro do vilarejo e tivemos tratamento VIP!
Veja mais: Alugar carro no Irã: tudo que você precisa saber para viajar de carro pelo país
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chegando em Abyaneh no Irã |
Um fato engraçado que também aconteceu na nossa viagem ao Irã foi que, diversas vezes, o Peg era confundido com iranianos!
Enquanto viam só o Peg, não nos davam a menor bola, achando que ele era Persa! Se ele ia pedir alguma informação para alguém, os caras ainda se irritavam, porque não entendiam como que o Peg não falava Farsi, com aquela cara Persa dele 🤣
Isso já havia acontecido conosco várias vezes; acho que o Peg tem uma cara "multiétnica", pois na Índia pensavam que ele era indiano (achavam que eu era turista e que ele era meu guia indiano), na Itália achavam que ele era italiano, etc. Mas, no Irã, eles simplesmente tinham CERTEZA que o Peg era iraniano, e chegavam a duvidar quando ele dizia ser brasileiro heheheh...
Só depois que me viam por perto é que eles acreditavam que o Peg era brasileiro, e aí não só chegavam para conversar, mas também queriam tirar fotos conosco, nos seguir no Instagram, pegar nosso WhatsApp para conversar depois...honestamente, nunca vi gente tão hospitaleira!
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Peg e seus conterrâneos Persas |
O Taarof, a etiqueta da gentileza
O Taarof é uma questão que eu preciso explicar aqui, para que ninguém acabe se "aproveitando" dos iranianos.
Sim, eles são super hospitaleiros, isso é inegável. Mas, às vezes, eles estão apenas praticando o Taarof, uma regra de etiqueta iraniana e, nesses casos, vale a pena ter um cuidado especial para não acabar cometendo a gafe de aceitar algo que eles não tinham a real intenção de te oferecer - era só Taarof (que funciona como um blefe).
O Taarof é um código de comportamento iraniano em que, sempre que alguém te oferecer algo, como um chá, por exemplo, mesmo que você queira aceitar, 1º tem que negar diversas vezes (pelo menos 3 vezes!). Se aquele que está oferecendo continuar insistindo diversas vezes para que você aceite, aí sim, você pode aceitar acreditando que realmente não era só "taarof".
É importante entender esse conceito antes de viajar ao Irã para não acabar ofendendo um iraniano sem querer!
Uma situação em que ficamos super em dúvida se era Taarof ou se era realmente hospitalidade aconteceu justamente em uma dessas tumbas islâmicas revestidas de espelhos venezianos que visitamos: em uma delas - a Imamzadeh-ye Ali Ebn-e Hamze - tivemos direito a uma recepção especial regada a chá e bombons. Ocorre que estávamos visitando o local durante o Ramadã, em plena luz do dia!
Eu e o Peg ficamos nos olhando sem entender nada, e sem saber o que fazer, quando o iraniano que nos recebeu naquele local religioso islâmico começou a nos oferecer chás e bombons no meio da tarde!!!
Negamos 3 vezes, como manda a etiqueta do Taarof, mas ele continuava insistindo veementemente que tomássemos o chá e comêssemos os doces, até que decidimos aceitar e ele ficou bem feliz!
Até hoje eu não consegui entender como é que um muçulmano que trabalha numa tumba islâmica praticamente nos obrigou a quebrar o jejum no meio da tarde! E até hoje ainda fico me perguntando se, no fundo, aquilo não era puro Taarof e cometemos uma super gafe 😜
O que vocês acham?? Era Taarof ou genuína hospitalidade iraniana??
Aqui
neste texto (em inglês) tem uma ótima explicação e vários exemplos do que é o Taarof e como funcionam essas regras de gentileza iranianas.
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no santuário islâmico Imamzadeh-ye Ali Ebn-e Hamze em Shiraz fomos praticamente coagidos a quebrar o jejum com chás e bombons no meio da tarde |
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até hoje estamos em dúvida se era 'taarof' - acho que tantos espelhos nos atordoaram hahaha... |
O fenômeno dos Piqueniques no Irã
Antes de ir ao Irã, eu já havia lido que os iranianos têm uma verdadeira fascinação por piqueniques, mas achei que pudesse ser um exagero de quem escrevia.
Não é exagero: os iranianos de fato são mestres na arte do piquenique!
Não sei se foi por estarmos no Irã em pleno mês do Ramadã, mas, todo dia, quando o sol começava a baixar, o povo já estendia suas toalhas de piquenique pelos parques e praças e começavam a organizar a comilança e, assim que o sol caía e chegava o horário da refeição da quebra do jejum (Iftar), era dada a largada para centenas de piqueniques familiares pelas ruas e parques do Irã.
O piquenique é uma verdadeira tradição iraniana, faz parte da cultura nacional.
Eles fazem piqueniques na beira das estradas durante as viagens, em pontos turísticos famosos e até em cemitérios, ocasiões em que levam frutas e doces para os seus entes queridos, costume que eu acho muito bonito: relembrar os seus mortos com alegria, em grandes piqueniques familiares, e não os deixando abandonados num lugar esquecido que as pessoas visitam uma vez por ano no dia de finados (como é costume por aqui).
Pelo que entendi, o amor dos iranianos pelos piqueniques se deve muito ao fato de que eles não têm bares, não fazem "happy hour" - já que não é permitido o consumo de bebidas alcoólicas - então a forma deles se reunirem e confraternizarem é fazendo piqueniques!
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esperando o sol baixar para começar o piquenique do Iftar na Praça Naqsh-e Jahan em Esfahan |
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onde quer que olhássemos, havia uma família "piquinicando" - mal esperavam o sol baixar e já começavam a comilança! |
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praças e parques cheios de iranianos quebrando o jejum em piqueniques durante o mês do Ramadã |
Pahlevani, o esporte nacional do Irã
No local onde antigamente havia uma cisterna cavernosa (lembram que expliquei acima sobre os ab anbars??), que abastecia de água a cidade de Yazd - isso há uns 430 anos - hoje em dia há um Zurkhāneh, ginásio onde é praticado o Pahlevani, um esporte iraniano sobre o qual eu nunca tinha ouvido falar antes de ir ao Irã!
Fomos ao Centro Cultural Saheb A Zaman Zurkhaneh assistir uma sessão de treinamento desse esporte, que é acompanhada de um tambor tocado pelo Morshed - atleta mais experiente, que lidera o ritual de treinamento.
Só conhecer o edifício da cisterna, construído em 1580, e que parece um imenso ovo em pé, coroado com 5 badgirs (torres de vento), já seria um programa interessante, mas ter a oportunidade de assistir a uma sessão de treinamento do Pahlevani foi especial!
O Peg experimentou levantar os porretes de madeira de 30Kg que eles usam nos treinamentos de Pahlevani e ficou impressionado com o peso 😳
O Pahlevani é um sistema tradicional de atletismo e uma forma de arte marcial originalmente usada para treinar guerreiros na Pérsia na Era Safávida.
Ele combina artes marciais, calistenia, treinamento de força e música, e tem elementos da cultura Persa pré-islâmica e pós-islâmica, principalmente do Zoroastrismo e Gnosticismo, com a espiritualidade do Islamismo Xiita Persa e do Sufismo.
Praticado em uma estrutura abobadada que serve de ginásio chamada Zurkhāneh, as sessões de treinamento consistem principalmente em movimentos rituais de ginástica e o clímax com o combate, uma forma de luta chamada koshti pahlavāni.
E aí, quem já conhecia o Pahlevani??
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Zurkhāneh (ginásio) em Yazd onde é praticado o Pahlevani |
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no local há um mini-museu sobre o Pahlevani, esporte nacional do Irã |
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ter a oportunidade de assistir a uma sessão de treinamento do Pahlevani no Irã foi especial |
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a sessão de treinamento do Pahlevani é acompanhada de um tambor tocado pelo Morshed (no centro da foto, ao fundo), que é um atleta mais experiente, que lidera o ritual de treinamento |
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Centro Cultural Saheb A Zaman Zurkhaneh em Yazd no Irã |
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o Pahlevani é um sistema tradicional de atletismo e uma forma de arte marcial originalmente usada para treinar guerreiros na Pérsia na Era Safávida |
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o Peg experimentou levantar os porretes de madeira de 30Kg que eles usam nos treinamentos de Pahlevani e ficou impressionado com o peso |
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o esporte nacional do Irã combina artes marciais, calistenia, treinamento de força e música |
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o Pahlevani hoje combina elementos da cultura Persa pré-islâmica e pós-islâmica, principalmente do Zoroastrismo e Gnosticismo, com a espiritualidade do Islamismo Xiita Persa e do Sufismo |
Portas iranianas - é homem ou mulher?
No Irã, quando alguém bate na porta de uma casa, a pessoa que está lá dentro já sabe se é um homem ou uma mulher que está batendo, pois as portas iranianas sempre têm 2 "campainhas" diferentes, uma para ser usada pelos visitantes homens e outra para ser usada pelas visitantes mulheres, e cada uma faz um barulho diferente.
Assim, pelo barulho da batida na porta, a mulher que vai abri-la sabe se precisa colocar o Hijab para abrir a porta, no caso de o visitante ser um homem de fora da família, ou se, por outro lado, não precisa colocar o Hijab, se a batida na porta for de uma mulher!
Se o visitante é um homem, ele bate no batente da porta que parece uma barra grossa de metal. Essa batida envia um som para a casa que diz às pessoas lá dentro que o visitante é um homem. Então, ou o homem da casa abre a porta para o visitante, ou a mulher veste o Hijab para abrir a porta.
Caso a visitante seja uma mulher, ela bate no batente que é circular ou em forma de coração, e que tem um buraco no meio. De novo, esse batente faz um som diferente dentro de casa, e o povo sabe que é uma mulher batendo na porta. Assim, a dona da casa não se preocupa em se arrumar e sai como está para receber a sua visitante.
Os 2 batentes obviamente simbolizam a genitália masculina e feminina.
Quanto menor, mais antigo e tradicional o povoado iraniano onde você estiver, mais batentes autênticos e grandes nas portas de madeira você vai ver!
Esquema bem engenhoso, não??
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batente para as mulheres |
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do lado esquerdo, o batente para mulheres; do lado direito, o batente masculino |
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as portas iranianas que antecipam os sexos dos visitantes |
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quanto mais antigo e interiorano o povoado, mais portas tradicionais iranianas você verá |
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nesta porta, do lado esquerdo, o batente para homens; do lado direito, o batente feminino |
Ciro, o Grande
Ciro, o Grande (aquele de Pasárgada), foi o fundador do Império Persa e o maior de todos os governantes que o Irã já conheceu.
Ele ficou famoso por ter sido o 1º rei a unir todas as tribos da região, há 25 séculos.
É conhecido também pelo respeito com que tratava os povos que conquistava, o que se comprova pelo Cilindro de Ciro, um objeto de barro onde está escrito que conquistou a Babilônia e libertou os seus habitantes, dando a eles o direito de venerarem os seus próprios deuses, construírem os seus templos e manterem as suas culturas.
Hoje em dia, o Cilindro de Ciro é considerado a 1ª declaração de direitos humanos da história, tanto que existe uma cópia dele na sede da ONU, em Nova York (e o original está no British Museum, em Londres).
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em Pasárgada, a capital de Ciro, o Grande, praticamente só o que está conservado é o túmulo do fundador do Império Persa
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Bandeira Iraniana
Quem aí lembra como é a bandeira iraniana?
Ela tem 3 cores:
- Verde, que representa o islamismo
- Vermelho, simbolizando o martírio
- Branco, que representa a paz
No meio, o símbolo central representa Alá (Deus).
O formato do emblema foi escolhido para se assemelhar a uma tulipa, em memória das pessoas que morreram pelo Irã - é uma crença antiga no Irã, que remonta à mitologia, que, se um jovem soldado morre pela pátria, uma tulipa vermelha crescerá no seu túmulo. Nos últimos anos, esse tem sido considerado o símbolo do martírio.
Nos limites das faixas, está escrita a expressão "Deus é o maior" 22x (em referência ao dia da Revolução Islâmica).
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é uma crença antiga no Irã que, se um jovem soldado morre pela pátria, uma tulipa vermelha crescerá no seu túmulo, por isso o símbolo central na bandeira do país se assemelha a uma tulipa |
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entre as faixas com as cores da bandeira iraniana, a expressão "Deus é o maior" está escrita 22x, em referência ao dia da Revolução Islâmica |
Calendário Iraniano
No Irã, eles recém chegaram ao ano 1401!
Não é que eles sejam tão atrasadinhos nas contas hehehe, é que eles contam os anos a partir do momento em que o Profeta Maomé fugiu de Meca para Medina - o Calendário Persa, que é um calendário solar, tem como ano 1 a Hégira de Maomé, que aconteceu no ano 622 da Era Cristã.
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fui traduzir este ingresso com o Google Lens e descobri que estava vivendo no ano de 1401! |
A população civil da cidade caiu para perto de zero durante os 8 anos da Guerra Irã X Iraque, e eles dizem que a cidade é parte do Brasil, de tão fanáticos que são pelo futebol brasileiro 😅
Pelo que entendi, a desculpa que eles tentam aplicar pra essa regra maluca é que os pets são vistos como um 'símbolo de ocidentalização', e os cachorros seriam considerados 'animais impuros' pelo Islamismo.
E o drama deles não é só com cachorros e gatos - tartarugas e coelhos também são proibidos!
Mas tenho pra mim que isso é tudo balela - tanto que o Irã foi um dos primeiros países do Oriente Médio a legislar pelo bem-estar dos animais, ainda em 1948.
Até a antiga família real iraniana tinha cachorros como animais de estimação (existem fotos do Xá e sua família posando com cachorros)!
Pelo que entendi, a questão é que eles não produzem rações animais de qualidade no Irã e, com as sanções internacionais impostas, estão proibidos de importar alimentos para animais de estimação.
Embora eles usem o mesmo alfabeto Árabe, a língua é completamente diferente - um Persa e um Árabe jamais se entenderiam numa conversa, por exemplo - e os Persas inclusive precisaram criar letras novas no alfabeto para conseguir expressar alguns sons do Farsi.
Isso é bem fácil de entender: tanto no português quanto no inglês nós usamos o mesmo alfabeto, mas as línguas são completamente diferentes, não é mesmo? Inclusive, no inglês eles têm a letra "Y", que nem é usada no português. Na relação entre o Persa e o Árabe ocorre a mesma coisa!
A palavra "paraíso" deriva do termo persa 'pairi-daeza', que significa 'jardim cercado por um muro'. E a palavra "bazar" se origina do persa 'bāzār', que é o nome dado aos mercados.
Pesquisando sobre as atrações turísticas de Shiraz, descobri que 2 dos mais importantes pontos turísticos da cidade são os Túmulos de Saadi e Hafez, 2 grandes poetas persas.
Shiraz inclusive é conhecida hoje em dia como a "Cidade dos Poetas" por causa desses 2 filhos ilustres.
Meu guia até recomendava que visitássemos esses locais à tardinha, no horário do por do sol, que supostamente seria o horário mais "animado" - é o horário em que os visitantes iranianos se reúnem lá para turistar e recitar os poemas dos grandes poetas.
Aliás, esses Mausoléus são considerados lugares de peregrinação no Irã - dos únicos locais de peregrinação que não são relacionados à religião.
Fiquei sem entender nada.
Afinal, que povo é este que tem como programinha de fim de tarde ir visitar tumbas de poetas!? Alguém aí já viu alguma graça em ir conhecer o túmulo de um Machado de Assis da vida?
Porque os iranianos têm essa paixão pelos seus poetas?
Obviamente fui tentar entender esse fascínio, e descobri que a Pérsia sempre foi uma região muito disputada por conquistadores, tendo sido invadida inúmeras vezes ao longo dos seus milênios de história.
Com todas essas invasões, eles quase perderam sua história, cultura e língua em diversos momentos e, nessas épocas difíceis, os grandes guardiões da identidade do povo persa, da cultura e da língua, eram justamente os poetas, motivo pelo qual eles são tão idolatrados pelo povo iraniano ainda hoje.
Um dos poetas iranianos mais famosos, Ferdowsi, é considerado o 'recriador' da língua persa. Ele escreveu a maior epopeia existente nessa língua entre os anos 990 e 1020 - a Épica dos Reis ou Shahnameh.
Esse poema épico, apesar de escrito há cerca de 1.000 anos, ainda tem enorme importância literária hoje em dia e, como foi escrito em sua quase totalidade em persa puro, foi a chave para reviver a língua persa, então influenciada pelo árabe, contribuindo para a manutenção da identidade cultural iraniana.
Por isso, assim como Shakespeare é considerado o pai do Inglês, Ferdowsi é considerado o pai do Farsi.
Dizem que os poemas destes poetas - em especial os de Saadi e Hafez - são tão importantes para o povo do Irã quanto o Corão (o livro sagrado do Islã), e eles sabem trechos inteiros de poemas de memória! Li também que os livros de poemas deles podem ser encontrados nas casas da maioria dos iranianos, que usam trechos dos poemas como provérbios e ditados até hoje.
Visitando o Mausoléu de Hafez em Shiraz, aprendemos que ele foi um dos poetas mais sofisticados da língua persa.
Dando uma olhada nos livros de poemas dele - eles têm lá versões traduzidas para o inglês - que foram escritos no século 14, dá para perceber o porquê de ainda hoje os jovens iranianos gostarem de declamar poemas destes poetas, que nunca envelhecem: eles falam de temas que nunca perdem a atualidade, como o amor, a vida boemia, o vinho, a hipocrisia daqueles que se colocam como exemplos de retidão moral, e o sentido da vida.
Para as tristezas desta era, para as quais não vejo fim,
Salvo vinho roxo, não conheço outro remédio.
Na verdade, o nome deste poeta - assim como o de tantos muçulmanos - era Muhammad (Maomé), mas desde jovem ele passou a ser chamado de Hafez, que significa (em árabe) "aquele que memorizou o Alcorão".
Vocês sabiam que existem milhões de pessoas ao redor do mundo (hoje em dia) que sabem o Alcorão inteiro de memória!? Sendo que o livro sagrado do Islamismo possui 114 capítulos, 6.600 verículos e mais de 70 mil palavras! Soube de histórias impressionantes de uma menina egípcia de apenas 5 anos que memorizou o Alcorão, histórias de presos em Dubai que decoram o Alcorão para ganhar redução em suas penas...os muçulmanos acreditam inclusive que as pessoas que memorizam o Alcorão terão um status elevado no paraíso.
Há até um aplicativo de celular - o Easy Quran Memorizer - para ajudar quem quizer memorizar o livro sagrado!
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selfie em mausoléu pode? se for no Mausoléu de Hafez em Shiraz pode! |
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a tumba de Hafez em Shiraz é considerada um lugar de peregrinação no Irã - dos únicos locais de peregrinação que não são relacionados à religião |
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o horário do por do sol é o mais "animado" para visitar o Mausoléu de Hafez em Shiraz |
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nas épocas difíceis, os grandes guardiões da identidade do povo persa, da cultura e da língua, eram justamente os poetas, motivo pelo qual eles são tão idolatrados pelo povo iraniano ainda hoje |
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estátua de Hafez na capital Teerã |
Como se comunicar no Irã
No post
quanto custa viajar para o Irã, já contei sobre as dificuldades que tivemos para entender as contas dos restaurantes, que muitas vezes vinham 100% escritas em Persa - inclusive com os números em Persa, só para dificultar a nossa vida hehehehe...
Na hora de barganhar nos bazares, também não era fácil negociar com alguns dos comerciantes que falavam muito pouco inglês.
Mas, de um modo geral, posso dizer que não tivemos nenhum problema sério de comunicação na nossa viagem ao Irã. Além de serem muito solícitos e hospitaleiros, sempre tentando nos ajudar (mesmo quando não falavam uma palavra em inglês), muito iranianos falam aquele mesmo inglês macarrônico falado pela maioria dos brasileiros, então, de alguma forma, sempre dava para se comunicar.
E muitos dos iranianos que trabalham com turismo, como aqueles que trabalham nas recepções dos hotéis, por exemplo, falam um inglês realmente muito bom.
Com o Google Translate em mãos, você não terá nenhum problema para se comunicar no Irã! Aliás, aprenda a usar todas as possibilidades que o Google Translate te oferece e você nunca mais terá problemas para se comunicar em lugar nenhum do mundo!
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usando o Google Translate, você coloca a palavra que quer traduzir na sua língua e ela vai aparecer traduzida na língua local (aqui eu estava traduzindo de inglês para persa, mas poderia traduzir direto de português para persa também, se quisesse) |
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se você clicar ali na câmera do Google Lens (onde circulei de vermelho) e apontar para um texto, o Google vai traduzir o texto - essa é a melhor forma de traduzir cardápios de restaurantes ou textos com informações que você precisa traduzir |
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este texto do meu guia, por exemplo, eu traduzi da forma descrita acima, usando o Google Lens |
O "causo" mais fofo dessa viagem ao Irã se deu com um tiozinho que devia ter uns 80 anos (ou mais) em Saryazd e que foi nosso guia na visita ao castelo local.
Sem falar mais do que 3 ou 4 palavras em inglês, ele nos deu um tour completo e incrível no Saryazd Castle, usando o Google Translate com uma maestria nunca vista, muita mímica e boa vontade!
Ele clicava ali onde diz "tradução em tempo real" no Google Translate e usava o "modo intérprete" para traduzir audios! Ele falava tudo o que queria em persa e aparecia tudo traduzido em inglês para nós! Você pode usar o modo intérprete do Google Translate para traduzir qualquer audio para a língua que quiser! Parece mágica 😂
E pensar que aprendemos a usar o intérprete do Google com um tiozinho de mais de 80 anos nos confins do Irã...
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muita mímica no Castelo Saryazd no Irã |
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boa vontade com o Google Translate |
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o guia do Saryazd Castle nos deu o melhor tour da vida sem falar uma palavra em inglês |
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com o Google Translate, não existem problemas de comunicação |
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o taxista que nos levou até o Pink Lake também descobriu uma forma de "traduzir" os números em persa do telefone celular dele para nós - os iranianos realmente sabem usar a tecnologia a seu favor! |
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para barganhar nos bazares iranianos, eu começava a negociação usando o Google Translate com a minha frase clássica |
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e eles respondiam também usando o Google Translate nos telefones deles!😂 |
Bebidas alcoólicas no Irã
O consumo de bebidas alcoólicas é considerado um Haram (pecado) no Irã.
Pois é, como vocês já imaginam, sendo o país uma teocracia de religião oficial muçulmana, existem inúmeras restrições no Irã de fundo religioso, e é óbvio que o consumo de bebidas alcoólicas é proibido no país - só nos resta respeitar e...a gente vai se virando como pode!
Um brinde com suco de melancia ali, outro brinde com 'pineapple shake' ali, outro com 'Mint Lemonade' aqui...e assim os dias passam nessas férias abstêmias 🤪
Claro que isso não significa que não exista consumo de álcool no Irã - ele só não está à venda! Soube que muita gente produz suas próprias bebidas alcoólicas em casa e o álcool rola solto nas festinhas particulares.
De acordo com os iranianos, o lado bom disso é que, no Irã, ninguém precisa se preocupar de ser pego num bafômetro - eles não existem por lá!
Descobrimos, inclusive, que são muito comuns as festinhas clandestinas no deserto.
Quando visitamos o Sinbad Desert Camp, um acampamento no Deserto de Lut a uns 30Km do centro de Yazd, vimos jovens iranianos - meninos e meninas misturados!!! - subindo as dunas de areia para ver o por do sol, fazer festinha, cantar, dançar, namorar e beber escondido - sim, ou vocês acham que, só porque a venda de álcool é proibida, eles não bebem?!
Basta lembrar que a maconha também é proibida no Brasil...
Havia uma gurizada lá, num local bem isolado entre as dunas de areia, fazendo festinha e pegação - jovens são jovens em qualquer lugar do mundo, não tem aiatolá que segure os hormônios dessa fase boa da vida, ainda bem!😂
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de rooftop em rooftop, quem não tem Mojito vai de Mint Lemonade! |
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um brinde com suco de melancia aqui, outro brinde com 'pineapple shake' ali, e assim passam os dias nestas férias abstêmias! |
Shiraz e o vinho
Eu sempre acreditei que o vinho Shiraz (ou Syrah) era originário de Shiraz - faz todo sentido, né??
Afinal, até a Revolução Islâmica em 1979, quando os aiatolás se "adonaram" do país, o Irã era uma nação de costumes ocidentais, modernos, em pleno Oriente Médio.
Tanto que, como contei acima, um dos temas mais frequentes dos escritos do poeta persa Hafez, que viveu em Shiraz em pleno século 14, era justamente o vinho, as beberagens e a vida boemia!
Se você está cansado deste mundo
e de toda a violência que existe nele,
pegue a taça
e deixe que este líquido amoroso deixe em paz seu coração.
Além de inspirar o poeta Hafez, o vinho aparentemente já teve até uma certa influência na política persa: li que o grego Heródoto relatou que os governantes do Império Aquemênida só discutiam assuntos importantes de estado bebendo vinho. Passada a embriaguez, se ainda estivessem de acordo, então colocavam as decisões em prática 😛
Foi só a partir da chegada do Aiatolá Khomeini ao poder, em 1979, que tudo mudou, e o Irã passou a viver sob uma rígida interpretação da lei islâmica, tornando o consumo de qualquer bebida alcoólica proibido - embora, pelo que me contaram, não seja difícil conseguir bebidas alcoólicas contrabandeadas ou produzidas em casa.
Com a proibição, os vinhedos foram sendo abandonados, pois a produção de vinho no país foi rigorosamente banida, e hoje em dia é raro encontrar uma parreira no Irã. Da antiga região vinícola fértil, que exportava seus vinhos para vários países, não sobraram nem vestígios, e hoje em dia os apreciadores são obrigados a fermentar suas uvas escondidos.
Mas, até então, Shiraz realmente já foi famosa pelos seus vinhos. De acordo com pesquisas arqueológicas, desde pelo menos o século 7AC que já havia produção de vinhos por lá. E, até a década de 70 - pasmem - os EUA eram grandes importadores de vinhos iranianos!
Então não seria de estranhar que a uva Shiraz tivesse origem na cidade de mesmo nome, não é?
Pois então...fui pesquisar e descobri que, embora essa questão já tenha provocado muita polêmica, mais recentemente análises de DNA comprovaram que essa uva - que é marca registrada dos vinhos australianos, onde é chamada de Shiraz, e que os franceses chamam Syrah, sendo a mais usada na produção dos vinhos no Vale do Rhône - é autóctone, ou seja, é nativa da França!
Mas, no fim das contas, eu não estava tão doida assim, pois descobri que a origem da casta Shiraz (como é chamada na Austrália), ou Syrah (como é chamada na França), por ser tão antiga, é mesmo cheia de lendas: até a descoberta científica a partir das pesquisas de DNA, muitos acreditavam que a terra natal desta uva era realmente a cidade persa de Shiraz, e que as uvas teriam sido levadas para a França por cavaleiros das cruzadas, durante a Idade Média.
Olha como a criatividade da mente humana é fértil: já se acreditou inclusive que o Shiraz/Syrah teria sido o vinho servido no Cálice Sagrado na última ceia!!
Pois é, às vezes a ciência chega nos esbofeteando com suas verdades e acaba com a criatividade humana 😒
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a ciência já desmistificou a crença popular de que a uva Shiraz era originária desta cidade persa |
Nao sei como vim parar aqui, mas preciso dizer que o que fizeram aqui é um trabalho magnífico. Parabens ao casal.
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