Islamismo: o que você precisa saber sobre essa religião e sobre o Ramadã para viajar ao Irã
Quase tudo o que envolve a cultura iraniana tem a ver com a religião muçulmana: desde a questão dos direitos (e das vestimentas) das mulheres, a culinária, a arquitetura, a forma como é encarado o homossexualismo, a questão das demonstrações públicas de afeto, a lendária hospitalidade, a Polícia Moral dos Costumes, a proibição do consumo de bebidas alcoólicas, etc.
Afinal, não é por nada que se trata de uma "República Islâmica".
Quase TUDO no dia a dia de um iraniano se baseia no Islã, então, para escrever um post completo sobre o Islamismo no Irã, eu teria que acabar escrevendo um tratado sobre a cultura iraniana, e não é esse o objetivo desse post.
Ainda quero escrever um outro post aqui no blog contando muito mais curiosidades sobre o Irã, mas, aqui, o meu objetivo é fazer um resuminho do que vocês precisam saber sobre o Islamismo para viajar ao Irã.
É claro que vou acabar escrevendo acerca do que eu aprendi sobre o Islamismo de um modo geral em todas as nossas viagens por países de maioria islâmica - e foram muitos!
Se você tem interesse em saber mais sobre o Islamismo, vou passar para vocês aqui o que eu aprendi nas nossas andanças pelo mundo muçulmano - afinal, viajar é a melhor oportunidade de aprender esse tipo de coisa na prática e acabar com nossos pre-conceitos, não é?
Se você vai viajar para o Catar, Omã, Emirados Árabes, Turquia, Marrocos ou até para a Malásia e as Maldivas, também vai aproveitar o meu mini-resumo do que é o Islã - mas o objetivo aqui é focar mais especificamente no Islamismo no Irã. Ok?
Embora todos os viajantes que vão ao Irã acabem percebendo, em algum momento, que o Islã não "interfere" tanto na vida do viajante quanto poderíamos esperar (a não ser pelo maldito uso obrigatório do 'hijab'!), a fé Xiita - 'Shiite', em inglês - ainda permanece como uma parte importante da vida no Irã.
Vambora então!
Veja todas as fotos e dicas desta viagem que publiquei na
#PVnoIra no Instagram! E mostrei tudo nos stories também, tem várias pastas de destaques do Irã lá! ❤
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o Islã, embora seja uma parte muito importante da vida do iraniano, não interfere tanto na vida do viajante - a não ser pelo maldito uso obrigatório do 'hijab'! |
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Mesquita Sheikh Lotfollah em Esfahan |
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viajar é a melhor oportunidade de aprender mais sobre outras culturas e acabar com nossos pre-conceitos |
O Islamismo
O Islamismo é, atualmente, a 2ª maior religião do mundo, com cerca de 1,8 bilhão de fiéis, a maioria deles nos continentes asiático e africano. Seu surgimento data do século 7, na Península Arábica, e ocorreu através das pregações de Mohammed (ou Profeta Maomé, em português).
Islã é a forma "aportuguesada" da palavra em árabe Islam, que significa submissão, e deriva de "salam", que significa paz. E o sentido de paz não é em oposição à guerra, e sim a uma condição de paz entre corpo e espírito.
Os fiéis do Islamismo são chamados de muçulmanos, palavra que também se origina do árabe e vem de "muslim", que significa submisso. Na fé islâmica, muçulmano é aquele que é submisso a Deus (= Allah).
O Islamismo, assim como o Judaísmo e o Cristianismo, é uma religião monoteísta, ou seja, os muçulmanos acreditam na existência de apenas um Deus, que é chamado Allah (Alá).
Essas são as 3 grandes religiões monoteístas do mundo.
Leia também sobre outra religião importante para os Persas: Zoroastrismo: o que você precisa saber sobre essa religião
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o Islamismo é a 2ª maior religião do mundo, com cerca de 1,8 bilhão de fiéis mundo afora |
Como surgiu o Islamismo
O Islamismo surgiu no século 7, através de Mohammed (Maomé), o grande Profeta.
Maomé nasceu em 570DC, em Meca, e perdeu os pais ainda na infância, sendo criado pelo avô, Abu Taleb, que era guardião da Kaaba em Meca.
Ele se tornou comerciante, fez inúmeras viagens ao longo de sua vida (simmmm, um cara inteligente assim só poderia ter sido um grande viajante! kkkkk) e, com 25 anos, se casou com uma viúva rica, chamada Khadija.
Do pouco que se sabe sobre Maomé, contam que ele se isolava com frequência para orar e meditar. Em 610DC, quando estava com 40 anos, durante um desses retiros espirituais no deserto, ele foi para uma caverna no Monte Hira, ocasião em que o Anjo Gabriel teria se revelado a ele, chamando-lhe rasul Allah - enviado de Deus.
Esse acontecimento ficou conhecido como Noite do Destino e deu início às revelações divinas de Allah para Maomé. O Profeta então ficou os 2 anos seguintes sem receber novas revelações, até que elas voltaram a acontecer por volta de 612DC.
Essas revelações foram depois sendo transcritas pelos convertidos ao Islamismo, criando o Alcorão (Corão), o livro sagrado do Islã.
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às vezes, tenho a forte impressão de que eles escolhem as estampas do chador para combinar com a padronagem dos mosaicos das mesquitas 😅 |
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Mesquita Jameh de Yazd |
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Pink Mosque em Shiraz |
A partir desse episódio, Mohammed começou a pregar a mensagem de Allah em Meca, e os primeiros convertidos foram sua mulher, seu primo, chamado Ali Talib, e Abu Bakr (pai da 2ª esposa de Maomé, Aisha).
No entanto, as pregações de Mohammed sobre uma religião monoteísta nas ruas de Meca começaram a incomodar as autoridades da cidade, porque prejudicavam os lucros que a cidade tinha com a peregrinação de fiéis.
Essa peregrinação estava relacionada com a antiga religião que era praticada na Península Arábica nessa época: o paganismo politeísta.
Assim, Mohammed e seus seguidores começaram a ser perseguidos pelas autoridades locais, e isso fez com que alguns fiéis do Islã fugissem para a Etiópia, e Maomé se refugiou em Medina, cidade onde os seus seguidores rapidamente se multiplicaram.
Foi em 622DC que Mohammed se mudou para Medina, e esse acontecimento ficou conhecido como Hégira, evento que deu início ao calendário islâmico. Na época da Hégira, havia cerca de 200 adeptos do Islamismo em Meca.
Em Medina, o Islamismo cresceu rapidamente, tornando-se uma religião influente. Mohammed tornou-se chefe de Medina, e os novos convertidos começaram a se organizar para atacar caravanas de Meca.
Finalmente, em 630DC, Meca foi conquistada pelos muçulmanos, com o retorno triunfal de Maomé.
Depois que Meca foi conquistada, o culto aos ídolos do paganismo foi proibido, e o Islamismo se espalhou por toda a Península Arábica até 632DC, ano em que Mohammed faleceu.
Os seguidores do Islamismo então levaram sua religião para outras partes da Ásia, além de se expandirem pela África e Europa.
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Praça Imam Ali, em Esfahan |
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os Xiitas defendiam que o sucessor do Profeta Maomé fosse seu primo Ali, esposo da sua filha Fátima, que eles consideravam o legítimo herdeiro da autoridade islâmica, e muitas praças e monumentos religiosos no Irã levam o nome do Imam Ali em sua homenagem |
Princípios do Islamismo
O Islamismo é uma religião monoteísta que defende a crença única em Allah.
Os muçulmanos acreditam na onipotência e onisciência desse Deus, além de acreditarem que ele é o criador do Universo, referindo-se a Alá como “o Clemente, o Misericordioso”. Essa referência é encontrada em quase todo o Alcorão.
Os muçulmanos creem nos Profetas enviados por Allah para trazer sua mensagem, sendo Mohammed o mais importante deles. Alguns dos Profetas são: Adão, Noé, Abraão, Moisés, Jesus e o próprio Mohammed.
Os muçulmanos acreditam que Jesus foi um Profeta, o 2º mais importante depois de Maomé. O conceito católico de que Jesus seria o filho de Deus não é aceito pelo Islã.
Também acreditam no conceito de danação eterna, e defendem que aqueles que não se converteram à mensagem de Alá serão condenados ao fogo eterno. O julgamento de todos será conduzido pelo próprio Deus no juízo final, e então as ações de cada um em vida definirão o seu destino.
Os fiéis muçulmanos acreditam em anjos - tanto que a revelação para Mohammed foi feita pelo Anjo Gabriel, e também acreditam que livros como a Torá, os Salmos e a Suna (esta seguida somente pelos muçulmanos sunitas) são sagrados.
Entre os livros sagrados, o Alcorão é o mais importante, tendo sido escrito entre 610 e 632DC.
Os muçulmanos acreditam que 3 cidades são sagradas:
- Meca possui a Kaaba, uma construção sagrada - a mais importante do Islamismo;
- Medina é o local onde está o túmulo de Mohammed, em uma mesquita;
- Jerusalém é o lugar onde o Profeta foi transportado por um ser mítico, que depois levou-o ao 7º céu para encontrar Alá.
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para os muçulmanos, Jesus foi um Profeta, e foi com surpresa que encontrei, em Yazd, uma tapeçaria persa retratando a última ceia |
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livros sagrados em uma mesquita de Shiraz |
5 regras básicas do Islamismo
O Islamismo possui 5 pilares que todo muçulmano deve seguir no exercício de sua fé.
São eles:
- Recitar o credo “não existe Deus além de Alá, e Mohammed é seu Profeta” (Shahada)
- Orar 5 vezes ao dia na direção de Meca (Sunitas) e 3 vezes (Xiitas)(Salat ou Namaz)
- Observar o jejum durante o mês sagrado do Ramadã
- Realizar o Zakat, a doação de 2,5% de seus lucros para os mais pobres
- Fazer a peregrinação à cidade sagrada de Meca uma vez na vida - desde que tenha condições físicas e financeiras para isso - para ser perdoado de todos os seus pecados anteriores (Hajj)
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mulheres muçulmanas rezando em um santuário islâmico em Shiraz |
Xiitas e Sunitas
O Islamismo, como muitas religiões, possui diferentes vertentes, as quais interpretam os textos sagrados e os preceitos da religião de formas diferentes.
Entre os diferentes grupos do Islamismo, os mais conhecidos são os Sunitas e os Xiitas, que correspondem à quase totalidade dos muçulmanos atualmente.
Tanto Árabes quanto Persas, na sua maioria, são muçulmanos, ou seja, seguem o Islã, mas, ainda assim, essa importante divisão entre eles é causadora de muitos e muitos conflitos na região.
A origem desses grupos remonta ao período de surgimento do Islamismo, o século 7.
A divisão aconteceu depois do falecimento do Profeta Mohammed, em 632DC, pois ele não deixou filhos e nem instruções sobre quem deveria sucedê-lo.
Os Sunitas ajudaram a eleger Abu Bakr, pai da 2ª esposa de Maomé (Aisha), amigo do Profeta e um dos primeiros seguidores do Islamismo. Abu Bakr se tornou o 1º Califa e ajudou a expandir a religião para fora da Península Arábica.
Os Xiitas, contudo, eram contrários à eleição de Abu Bakr, defendendo que o sucessor do Profeta Maomé fosse Ali Bin-Abu Talib, primo de Maomé e esposo da sua filha Fátima, que eles consideravam o legítimo herdeiro da autoridade islâmica.
Ali foi passado para trás 3x antes de finalmente se tornar o 4º Califa em 656DC, sendo assassinado apenas 5 anos depois.
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os mulás são clérigos islâmicos locais, líderes de mesquitas ou simplesmente homens educados em teologia e direito islâmico - mais ou menos como os padres dos católicos (em Meybod, Irã) |
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mulheres muçulmanas com o típico chador preto saindo da mesquita em Naeein |
As 2 correntes principais no Islamismo, portanto, são os Sunitas e os Xiitas.
De um modo geral, os Árabes são Sunitas (assim como os Afegãos, Paquistaneses e Turcos), grupo que corresponde a cerca de 90% dos muçulmanos do mundo; enquanto que os Persas, na sua maioria, são Xiitas (mais de 90%).
Entre todos os muçulmanos mundo afora, apenas 10% são Xiitas - a maioria dos Xiitas vive no Irã, Líbano e Iraque.
Por isso, pode-se afirmar que o Irã é um país de maioria Xiita. Mais de 90% dos iranianos são Xiitas, enquanto que pouco mais de 5% são Sunitas e apenas 1% se dividem entre Zoroastras, Cristãos ou Judeus.
Aliás, de acordo com a Constituição Iraniana, o Presidente do país deve ser um muçulmano xiita.
Os Sunitas têm uma interpretação mais flexível do Alcorão e dos textos sagrados. Os Xiitas, por sua vez, defendem uma interpretação literal dos textos sagrados e uma aplicação mais rígida da lei islâmica, a Sharia.
Acredito que é por causa dessa interpretação literal dos textos sagrados e da aplicação mais rígida da Sharia que os Xiitas são conhecidos como o ramo mais "radical" do Islã, o que não é muito verdadeiro, já que o ISIS e a Al Qaeda, por exemplo, são sunitas.
Sim, o grupo terrorista Estado Islâmico é Sunita, e não Xiita, sabia?
Aliás, agora que você já entendeu essas diferenças, pode evitar usar a palavra "Xiita" como sinônimo de "radical", já que isso colabora com o preconceito contra os seguidores desta vertente do Islamismo, que nada tem a ver com terrorismo, por exemplo.
Além disso, como expliquei acima, a divisão dos muçulmanos entre Xiitas e Sunitas se originou de um desentendimento mais político do que de fundo religioso, no meu entender: o fato de que os Sunitas elegeram um amigo do Profeta, o que nunca foi aceito pelos Xiitas, que acreditavam que o Califa deveria ser alguém da família, com o mesmo sangue do Profeta.
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Mesquita Vakil em Shiraz |
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Fahraj, povoado próximo de Yazd, é conhecida por ter a mesquita mais antiga do Irã, cujo minarete servia de farol para as caravanas que vinham pelo deserto |
Islamismo no Brasil
O Islamismo é uma das religiões menos difundidas na América Latina, e isso inclui o Brasil.
De acordo com o censo do IBGE de 2010, existem atualmente cerca de apenas 35 mil muçulmanos no Brasil, um número irrisório proporcionalmente à população brasileira hoje.
Porque tantos espelhos?
Espelho, espelho meu...
Os muçulmanos AMAM decorar seus santuários, especialmente os mausoléus e tumbas islâmicas, com muitos espelhos - venezianos, de preferência - e isso por várias razões:
1 Eles não usam imagens (como as de santos da Igreja Católica ou divindades budistas ou hinduístas, por exemplo), pois não podem adorar a outro que não Allah, então os espelhos são uma alternativa decorativa;
2 Os espelhos remetem à ideia de limpeza e pureza;
3 Nos espelhos desses santuários, as pessoas podem se ver como os Imãs e procurar viver uma vida exemplar como a deles, cumprindo tudo o que ensina o Alcorão, de acordo com a lei islâmica da Sharia (já que os 12 Imãs são os sucessores religiosos e políticos por direito do Profeta Maomé para os xiitas - justamente no que diferem dos sunitas).
Os santuários crivados de espelhos que visitamos em Shiraz, por exemplo, são de Imamzadeh, que são parentes de sangue próximos dos Imãs, seus descendentes, e também são idolatrados pelos muçulmanos xiitas (mais ou menos como os santos católicos). Falarei mais sobre isso adiante.
Eu, particularmente, não posso dizer que gosto desse tipo de decoração espalhafatosa - acho até brega e cafona, que ninguém me ouça - mas é inegável que o efeito é incrível.
Ninguém está imune a ficar BOQUIABERTA quando entra num desses santuários! Bonito não é a palavra certa, mas chocante e impressionante descrevem bem a sensação! Eu nunca tinha visto nenhum santuário muçulmano assim antes, embora já tenha visitado muitas mesquitas mundo afora, e ficava impressionada processando tanta informação 💚
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ficávamos boquiabertos processando tanta informação |
Mas o mais incrível são as histórias de hospitalidade persa que vivenciamos nesses lugares!
Como regra, os turistas estrangeiros não muçulmanos não podem entrar sozinhos nestes locais sagrados, então cada santuário tem um homem designado especialmente para nos receber, dar as boas-vindas e fazer um tour básico. Depois disso, eles nos deixam à vontade para circular e fotografar.
Nos santuários Shah Cheragh e Bogh´e-ye Sayyed Mir Mohammed (ambos com entrada grátis) que visitamos em Shiraz, assim que avisaram que havia turistas estrangeiros chegando, eles correram para avisar ao funcionário designado, que nos encaminhou para a entrada onde havia Chador para me emprestarem, sacos plásticos para guardar os sapatos e depósito de volumes para armazenar a máquina fotográfica do Peg (tudo grátis).
Quando chegamos lá, o funcionário apareceu correndo pelo outro lado para nos receber e fazer o tour, e já havia se colocado uma faixa - que dá pra ver na foto abaixo - daquelas tipo de 'Miss Universo', em que ostentava com orgulho os dizeres "International Affairs".
Se nos sentimos especiais na condição de 'assuntos internacionais' do dia!? O que vocês acham!?!😅
Não sei não, mas será que quem viaja pelo Irã com um guia local ganha toda essa distinção especial que nós ganhamos? Nessas horas eu acho que ser uma viajante independente tem suas vantagens...
E ele ainda fez questão de nos explicar que não é permitida a entrada de máquinas fotográficas grandes e lentes porque já aconteceram ataques em que os terroristas entraram nos santuários com bombas plantadas em câmeras, ferindo muitas pessoas 😳
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nosso guia se colocou uma faixa no melhor estilo 'Miss Universo' com os dizeres "International Affairs" |
Nakhl Gardani
Viajando pelo Irã, em diversas cidades, inclusive nas menores, como Naeein, especialmente na Província de Yazd, nós víamos umas estruturas enormes de madeira, que pareciam "largadas" no meio de praças, e ficávamos nos perguntando o que seria aquilo.
Perguntando daqui e dali, descobrimos que essas estruturas são chamadas Nakhl, e elas simbolizam o caixão de Husayn ibn Ali (Hossein), neto do Profeta Maomé e 3º Imam Xiita, filho de Ali e Fátima, que foi martirizado na Batalha de Karbala.
Lembram que contei acima sobre a divisão do Islamismo entre Sunitas e Xiitas? Pois a rixa se aprofundou justamente quando, em 680DC, aconteceu o massacre do 3º Imam Xiita, Hossein, que era filho exatamente daquele mesmo Ali que os Xiitas queriam que sucedesse Maomé!
E quem assassinou ele? Os Sunitas, claro! Por isso tanto antagonismo entre as 2 vertentes até hoje - foi ali que a divisão entre Sunitas e Xiitas se tornou amarga e permanente.
Hossein foi assassinado junto de 72 seguidores seus em Karbala, no Iraque. O grupo foi cercado durante 9 dias pelos Sunitas e, no 10º dia, Hossein foi assassinado.
O Nakhl Gardani é, portanto, um ritual religioso muçulmano Xiita, que remonta historicamente aos Pré-Safávidas (há quase 450 anos), realizado no Dia de Ashura para relembrar a morte de Husayn ibn Ali.
O martírio de Hossein é celebrado durante 10 dias, e tudo culmina justamente no 10º dia, quando ele foi assassinado, que é o Dia de Ashura.
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o Nakhl é uma estrutura de madeira que simboliza o caixão de Husayn ibn Ali (Hossein), neto do Profeta Maomé e 3º Imam Xiita |
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essas estruturas são utilizadas num ritual Xiita realizado no Dia de Ashura para relembrar a morte de Husayn ibn Ali |
Nesta ocasião, os Xiitas carregam o Nakhl de um lugar para outro, como se fosse a procissão do funeral do Imam. As pessoas que levam o Nakhl nos ombros são guiadas pelos que ficam à volta da estrutura.
A cidade de Yazd é o lar do maior Nakhl do Irã, que precisa ser carregado por centenas de homens - uma estrutura de 8,5m de altura, construída em 1879, que fica exposta ao ar livre na Praça Amir Chakhmaq, e já está em estado de decomposição, não sendo mais utilizado hoje em dia por razões de segurança.
O ritual do Nakhl Gardani é tão comum no Irã que, na maioria das cidades, existe um Nakhl.
A palavra 'Nakhl' significa tamareira, e a estrutura ganhou este nome porque eles acreditam que o corpo de Husayn ibn Ali ficou à sombra de uma palmeira, após sua morte, e depois foi transportado usando um caixão feito de ramos de palmeira, que era o material disponível em Karbala naquela época.
Existem Nakhl de vários tamanhos, desde os mais simples, que podem ser carregados por apenas 2 pessoas, até estruturas enormes, que precisam de centenas de homens para sustentá-las.
Normalmente - como percebemos em Naeein - os Nakhl são mantidos junto de um Hosseniah, que são locais usados nos rituais de celebração da morte do Imam Hossein (Husayn ibn Ali), como é o caso da Mesquita Amir Chakhmaq em Yazd.
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os Nakhl são mantidos junto de um Hosseniah, que são locais usados nos rituais de celebração da morte do Imam Hossein, como este em Naeein |
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o maior Nakhl do Irã fica exposto ao ar livre na Praça Amir Chakhmaq em Yazd - consegue ver a estrutura na frente do complexo, na sombra, à direita? |
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Nakhl no centro histórico de Yazd no Irã |
Os Doze Imãs
Os Doze Imãs são os sucessores espirituais e políticos do Profeta Maomé para os Xiitas.
Imam (ou Imã) significa "líder" - é como se fossem os santos da fé católica.
Os imãs são o aspecto mais visível do Xiismo hoje em dia, e vocês verão imagens do Imã Hossein, especialmente, por todos os lados.
Ali foi o 1º dos Doze Imãs e, como já falamos antes, para os Xiitas ele é o sucessor legítimo de Maomé, sendo sucedido pelos 12 descendentes masculinos de Maomé gerados por sua filha Fátima.
Cada imã é o filho de um imã anterior, com a exceção do 3º Imã, Hossein, que era irmão do Imã anterior.
O dia da morte de cada imã é muito celebrado no Irã, mas especialmente os dias em que morreram Ali, o 1º Imã, Hossein, o 3º Imã, e Reza, o 8º Imã, que é o único que está enterrado no Irã (em Mashhad).
Aliás, uma palavra que você vai ver com frequência viajando pelo Irã é 'Imamzadeh'.
Imamzadehs são os descendentes diretos de um Imã Xiita.
Embora na teologia xiita os parentes dos Imãs - Imamzadehs - tenham formalmente um status inferior ao dos próprios Imãs, o xiismo popular ainda venera fortemente os 'imamzadehs'.
No Irã, por exemplo, tem muito mais sepulturas dos parentes dos Imãs do que dos próprios Imãs.
Os Imamzadehs são considerados próximos de Deus por causa da sua estreita relação com os Imãs.
Os xiitas viajam em peregrinações a santuários de Imamzadehs, como o Santuário de Fátima Masumeh, em Qom, que fica lotado todos os dias do ano com homens, mulheres e crianças xiitas de todo o mundo.
Nós visitamos o Santuário Hazrat-e Masumeh em Qom, que é considerada pelos muçulmanos xiitas a 2ª cidade mais sagrada do Irã, só perdendo no quesito "local de peregrinação islâmica" para Mashhad.
Fátima Masumeh era irmã do 8º Imã Reza e filha do 7º Imã. No Islamismo Xiita, as mulheres são muitas vezes reverenciadas como santas, quando são parentes próximas de um dos Doze Imãs. Fátima Masumeh é, portanto, homenageada como uma santa, e o seu Santuário em Qom é considerado um dos santuários xiitas mais importantes do Irã. Todos os anos, milhares de muçulmanos xiitas viajam para Qom para homenagear Fátima Masumeh e pedir-lhe bênçãos.
A população local é especialmente religiosa - acho que eu era a única mulher nas ruas da cidade que não estava usando um chador preto - pelo contrário, ainda dei azar de usar naquele dia meu lenço florido mais colorido 🙈
Quando visitar Qom, tenha isso em mente e vista-se apropriadamente 🤪
Um outro lugar super sagrado que visitamos no Irã, em Shiraz, foi o Santuário Shah Cheragh, onde fica situado o túmulo de Ahmed bin Musa (um dos 17 irmãos do 8º Imã Reza - o único que está enterrado no Irã).
Esse é o 3º santuário mais importante do Islamismo Xiita no Irã, depois apenas do Santuário do próprio Imã Reza (em Mashhad) e do Santuário de Fátima Masumeh (em Qom).
Ahmed bin Musa viajou para Khorasan para se juntar ao seu irmão Reza, e no caminho se refugiou em Shiraz durante a perseguição aos muçulmanos xiitas, sendo caçado e morto pelo Califado Abássida Al-Ma'mun em 835DC.
Seus restos mortais ficam em um deslumbrante santuário de azulejos espelhados.
Um mausoléu foi erguido pela 1ª vez sobre o túmulo durante o século 12, mas o pátio e os azulejos encontrados ali atualmente são mais modernos, do Período Qajar e da República Islâmica.
A cúpula de azulejos azuis e os deslumbrantes minaretes com pontas de ouro formam um complexo lindo para os rituais xiitas que acontecem nesse importante centro de peregrinação.
O santuário tem a típica cúpula 'Shirazi', em formato de um bulbo, muitos espelhos e 4 pilares de madeira com proporções quase perfeitas.
Num dos cantos do pátio, o mausoléu Bogh'e-ye Sayyed Mir Mohammed abriga os túmulos de 2 irmãos dele.
Viajantes como nós são bem-vindos para entrar no pátio que fica no meio do complexo e tirar fotos discretas (sem câmeras grandes ou tripés).
A entrada nos santuários não era permitida a não-muçulmanos, mas o nosso guia queridão nos deixou entrar - e inclusive me deixou entrar na área reservada aos homens!! #chocada
As mulheres precisam usar chador dentro de todo o complexo do santuário - eles emprestam gratuitamente na entrada.
Shāh-é-Chérāgh é um termo Persa que significa "Rei da Luz". É certamente o local de peregrinação mais importante da cidade de Shiraz, não deixe de visitá-lo!
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a linda cúpula de azulejos azuis, os minaretes com pontas de ouro e os pilares de madeira do Santuário Shah Cheragh em Shiraz |
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esse é o 3º santuário mais importante do Islamismo Xiita no Irã |
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os restos mortais de um dos 17 irmãos do 8º Imã Reza ficam neste mausoléu em Shiraz |
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rituais xiitas importantes acontecem nesse famoso centro de peregrinação no Irã |
Em Shiraz também visitamos o Imamzadeh-ye Ali Ebn-e Hamze, uma tumba islâmica que estava lotada de fiéis muçulmanos.
Construído no século 19 sobre o túmulo de Emir Ali, um sobrinho do Shah Cheragh que também morreu em Shiraz, a caminho de Khorasan para ajudar o Imã Reza, este santuário é o mais recente de vários outros que já foram destruídos por terremotos.
Os destaques incluem a cúpula em estilo 'Shirazi', deslumbrantes espelhos venezianos, vitrais e uma intrincada porta de madeira entalhada.
Viajantes não-muçulmanos são bem-vindos, a entrada é gratuita, chadores são emprestados na porta para mulheres, e fotografias são permitidas.
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Imamzadeh-ye Ali Ebn-e Hamze em Shiraz e sua cúpula Shirazi |
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túmulo de um parente do 8º Imã Reza em Shiraz, cheio de espelhos venezianos |
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detalhes entalhados na porta do Imamzadeh-ye Ali Ebn-e Hamze |
Mesquita Jameh
Em todas as cidades iranianas você vai encontrar uma Mesquita Jameh - visitamos várias delas!
Eu ficava me perguntando o que seria essa tal Mesquita Jameh, até que, pesquisando, descobri que é a mesquita congregacional, a "mesquita de sexta-feira", ou seja, é a principal e maior mesquita de uma cidade, na qual se realiza a Jumu'ah - a oração da sexta-feira, que é como a missa de domingo para os católicos.
Pelo que eu consegui captar, é como se fosse o equivalente à Catedral de uma cidade, para os católicos.
Aliás, vale lembrar que, em árabe, Mesquita = 'Masjid'.
Pra mim, a Mesquita Jameh de Yazd foi a mais emocionante que visitei - sabe aquele lugar que tu já viu inúmeras vezes em fotografias ou na televisão, e fica sonhando conhecer ao vivo? Pois, no Irã, essa mesquita esplêndida era meu sonho de consumo, daqueles que arrepiam quando a gente vê, finalmente, ao vivo e a cores.
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eu e meu chador emprestado fazendo pose com a faiança espetacular da Mesquita Jameh de Yazd |
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uma obra-prima do século 15 💙- vale uma selfie, não vale?? |
Arquitetura Islâmica
A arquitetura é um dos maiores legados da Pérsia para a cultura mundial.
A arquitetura Persa influenciou fortemente construções em todo o mundo islâmico, especialmente na Ásia Central, no Afeganistão, Paquistão e Índia.
Provavelmente, o edifício mais famoso de origem persa sobre o qual vocês já devem ter ouvido falar é o icônico Taj Mahal, em Agra, na Índia, projetado por um arquiteto Safávida.
No Irã, temos a impressão de que cada pequeno vilarejo tem pelo menos um marco histórico distintivo dos povos e das dinastias que governaram a região durante os últimos 3000 anos. Respira-se história e arquitetura o tempo todo!
Viajando pelas estradas do Irã, passávamos por povoados minúsculos, onde provavelmente viviam apenas algumas dezenas de fiéis, mas havia sempre uma mesquita enorme com cúpula em formato de cebola em cada um destes povoados.
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por mais que estivéssemos no meio do nada, sempre havia uma mesquita por perto! |
A maioria dos edifícios grandiosos do Irã foram construídos com propósitos religiosos - primeiro, pelos zoroastras, e depois pelos muçulmanos (após o ano 637DC). Por isso, a arquitetura Persa também é comumente chamada arquitetura Islâmica.
No Irã, reconhecemos elementos arquitetônicos que até já conhecíamos de outras andanças pelo mundo (alguns deles), mas nunca tínhamos encontrado com tanta intensidade em nenhum outro país.
Muitos dos ornamentos tipicamente encontrados na arquitetura do Irã têm inspiração na religião muçulmana - como expliquei acima, é a arquitetura islâmica.
Se você vai viajar ao Irã, vale a pena aprender antes um pouquinho sobre Muqarnas (estruturas côncavas que parecem estalactites muito usadas em cúpulas de mesquitas), Faiança (espécie de cerâmica que é diferente da porcelana, muito usada na decoração de mesquitas), Iwans (portais retangulares que servem de entrada para as mesquitas a partir do pátio interno), Mihrabs (nicho na parede de uma mesquita, que indica a direção da oração para os muçulmanos), o uso de espelhos na decoração, etc. Esses e tantos outros elementos arquitetônicos e decorativos inspirados na religião muçulmana que você vai encontrar lá.
Os aspectos que definem a arquitetura persa são a simplicidade monumental e o uso abundante de cores e ornamentação na superfície.
As plantas baixas dos edifícios persas normalmente misturam apenas alguns elementos padrão: um pátio interno e arcadas, pórticos de entrada e 4 'iwan' (portais abobadados que se abrem para o pátio interno).
O design típico de uma mesquita persa consiste em uma cúpula acima de um iwan de entrada que leva a um grande pátio interno cercado por claustros em arco. Atrás destes estão 4 iwan internos, um deles com um nicho decorado indicando a direção de Meca.
No mundo islâmico, esse nicho é chamado de Mihrab.
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Mihrab da Mesquita Vakil em Shiraz |
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o Mihrab é um nicho na parede de uma mesquita indicando a direção da oração para os muçulmanos, ou seja, a direção da cidade sagrada de Meca |
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púlpito da Mesquita Vakil de Shiraz |
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os Iwans são portais retangulares que servem de entrada para as mesquitas a partir de um pátio interno |
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Mihrab da Mesquita Jameh de Esfahan |
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as mesquitas persas normalmente possuem 4 portais abobadados que se abrem para o pátio interno, chamados iwan |
Muitos estudiosos acreditam que o modelo arquitetônico com os 4 iwans é uma influência das antigas ideias zoroastras sobre os 4 elementos (terra, ar, fogo e água) e a circulação da vida.
Essas características básicas e muito simples da construção das mesquitas são muitas vezes tão densamente cobertas de ornamentos e cores, que quem olha pensa que a arquitetura é muito mais complexa do que é na verdade.
As ornamentações são normalmente geométricas, florais ou caligráficas.
A decoração de uma parede às vezes consiste em nada além de mosaicos - que formam os nomes de Alá, Maomé e Ali - repetidos inúmeras vezes em uma escrita altamente estilizada e caligráfica.
Quando os árabes conquistaram a Pérsia, o Estilo Sassânida não foi abandonado, mas no Período Árabe (642-1051DC) foi introduzido o elemento islâmico que teria o mais forte impacto nas artes persas: nenhuma representação humana era permitida.
No lugar dos grandes palácios, construídos como símbolos da realeza, surgiram as mesquitas, projetadas como centros da vida cotidiana das pessoas comuns.
Quando os ingredientes Sassânidas e Árabes se fundiram, surgiu um estilo distintamente persa de arquitetura islâmica.
A caligrafia tornou-se a principal forma de decoração arquitetônica. As inovações arquitetônicas incluíam as estalactites (molduras escalonadas elaboradas usadas para decorar recessos) e uma ênfase no equilíbrio e na escala.
Um bom exemplo arquitetônico desse período é a Masjed-e Jameh em Naeein.
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estalactites na Masjed-e Jameh em Naeein |
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a Mesquita Sheikh Lotfollah muda de cor ao longo do dia, de acordo com a incidência dos raios solares nos azulejos da sua fachada |
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as ornamentações são normalmente geométricas, florais ou caligráficas |
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às vezes, a ornamentação mistura arabescos, caligrafia e padrões florais com estalactites |
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a construção das mesquitas tem características bem simples e básicas - o que dá o "tchan" são os densos ornamentos e cores que as revestem |
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o elemento islâmico que tem mais impacto nas artes persas é o fato de que nenhuma representação humana é permitida |
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como nenhuma representação humana é permitida, restou aos arquitetos e artistas trabalharem com caligrafia, padrões florais e formas geométricas |
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trabalho em cerâmica na Mesquita Jameh de Esfahan |
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até o piso das mesquitas é decorado - completamente coberto por tapetes persas maravilhosos e muito coloridos |
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a Mesquita Sheikh Lotfollah é famosa pelo seu rico trabalho em azulejos |
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Mesquita do Iman em Esfahan |
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a decoração de uma mesquita às vezes consiste em nada além de mosaicos |
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mosaicos que formam os nomes de Alá, Maomé e Ali, repetidos inúmeras vezes em uma escrita altamente estilizada e caligráfica |
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estilo persa de arquitetura islâmica na Mesquita Sheikh Lotfollah em Esfahan |
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todo o colorido na Mesquita do Iman em Esfahan iluminado à noite |
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arcos e abóbadas na Mesquita Vakil em Shiraz |
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overdose de cores em Shiraz |
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entalhes em madeira na Mesquita Jameh de Yazd |
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a incrível faiança da Mesquita de Yazd |
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as mesquitas iranianas são tão ricamente ornamentadas que, quem olha, pensa que a arquitetura é muito mais complexa do que é na verdade |
Azulejos, Cúpulas & Minaretes
As cúpulas de azulejos coloridos das mesquitas iranianas provavelmente serão uma das suas maiores lembranças de uma viagem ao Irã. Com certeza foi assim para nós, basta ver as centenas de fotografias de cúpulas que tenho no meu HD.
A arte da produção de azulejos persas remonta ao Período Elamita, tendo atingido seu auge durante a Era Safávida (1502-1736DC).
Os ladrilhos da Era Safávida vêm em 2 formas principais: os mais famosos são moarraq kashi (mosaicos) - os padrões são escolhidos em pequenos pedaços de azulejo em vez de serem criados em uma única peça; os mais comuns são os azulejos de haft rangi (7 cores), que são quadrados e com a superfície pintada, e surgiram pela 1ª vez no início do século 17.
Em termos de azulejos coloridos, os edifícios da Era Qajar podem não ter tanta qualidade, mas geralmente compensam em quantidade - o melhor exemplo é o Palácio Golestan em Teerã, quase que completamente revestido de azulejos.
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Palácio Golestan em Teerã |
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tirar fotos com azulejos pode? |
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no Palácio Golestan em Teerã pode! |
O desenvolvimento da cúpula foi uma das maiores conquistas da arquitetura persa.
Os Sassânidas (224-642DC) foram os primeiros a descobrir a maneira de construir uma cúpula no topo de uma câmara quadrada usando 2 níveis intermediários: o octogonal inferior e o superior de 16 lados, sobre o qual a cúpula se apoia.
As cúpulas que vieram depois foram se tornando cada vez mais sofisticadas, incorporando uma cúpula semicircular interna revestida por uma cúpula externa cônica ou em forma de cebola.
Externamente, as cúpulas são quase sempre revestidas de azulejos, com desenhos super elaborados.
Nós ficávamos simplesmente enlouquecidos com essas cúpulas!
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as cúpulas persas foram se tornando cada vez mais sofisticadas |
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as cúpulas dos edifícios religiosos no Irã são quase sempre revestidas de azulejos, com desenhos super elaborados |
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padrões geométricos são muito comuns nas cúpulas de mesquitas e santuários persas |
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cada cúpula disputando em beleza com a vizinha! |
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os mesmos padrões florais e caligráficos são encontrados nas cúpulas das mesquitas persas |
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não é in-crí-vel? |
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e os interiores? |
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a cúpula da Mesquita Sheikh Lotfollah em Esfahan é uma das mais famosas |
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de cair o queixo, literalmente! |
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overdose de cores |
Já o minarete surgiu como uma torre simples que servia para o muezim chamar os fiéis para a oração.
Mas, durante o Período Seljúcida (1051-1220DC), os minaretes foram ficando mais altos e afunilados, com finalidade muito mais decorativa do que prática. Como os muçulmanos não querem que alguém de cima de um minarete possa olhar para as áreas familiares privadas das casas vizinhas, as mesquitas xiitas geralmente têm uma estrutura tipo uma cabaninha no telhado, de onde o muezim faz o chamado para a oração (azan).
A maioria dos minaretes ainda tem uma luz verde - a cor do Islã - lá no alto, luz esta que servia como um farol para direcionar os fiéis que vinham à cidade rezar.
Aliás, é interessante notar como os minaretes de mesquitas situadas no meio do deserto, como Yazd, são super altos - justamente porque tradicionalmente eles serviam como referência para as caravanas cruzando o deserto. Já em cidades cercadas por colinas, como Shiraz, por exemplo, essa função de guia dos minaretes era impossível, então nestes locais os minaretes são mais baixos.
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note como na Mesquita Vakil de Shiraz os 'minaretes' são bem baixinhos - uma mera cabaninha no telhado, de onde o muezim faz o chamado para as orações |
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no Santuário Imamzadeh-ye Ali Ebn-e Hamze em Shiraz, da mesma forma, o minarete é mais baixinho que a própria cúpula |
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e o mesmo ocorre no Santuário Shah Cheragh em Shiraz, uma cidade cercada por colinas, onde os minaretes não têm a função de servir de referência para as caravanas vindas do deserto |
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já em Yazd, uma cidade situada no meio do deserto, todos os minaretes das mesquitas são super altos |
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tradicionalmente os minaretes serviam como referência para as caravanas cruzando o deserto |
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minaretes enormes no complexo Amir Chakhmaq em Yazd |
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minaretes em Yazd |
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os minaretes surgiram como uma torre simples que servia para o muezim chamar os fiéis para as orações, mas foram ficando cada vez mais altos e afunilados, com finalidade muito mais decorativa do que prática |
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Madrassas
Quando fui à
Marrakesh pela 1ª vez, há bem mais de 20 anos, vagando pela Medina, vimos uns homens com coletes da UNESCO trabalhando na restauração super meticulosa de um prédio. Entramos e eles nos explicaram que se tratava de uma
madrassa muito importante. Não querendo exibir toda a minha ignorância, não quis perguntar, e saí dali sem ter a menor idéia do que era a tal 'madrassa'.
Curiosa que sou, obviamente cheguei no meu riad (hotel típico marroquino) e fui direto pesquisar do que se tratava.
Madrassas são escolas muçulmanas, de estudos islâmicos, também conhecidas como escolas 'corânicas' (onde se estuda tudo relacionado ao Corão).
Todas as madrassas que eu já visitei eram lindas e ricamente decoradas - parecem mesquitas! Aliás, muitas delas são construídas como anexos de mesquitas.
O currículo habitual de uma madrassa típica inclui cursos de língua árabe, o ensino da Sharia (a lei islâmica), interpretação e memorização do Alcorão, as narrações do Profeta Maomé e história do Islã, além, é claro, de ensinamentos mais prosaicos, como lavar-se adequadamente antes das preces e cuidar do tamanho apropriado da barba.
A maioria das madrassas são fundamentalistas na abordagem das escrituras sagradas, aderindo às correntes mais radicais do pensamento islâmico, e poucas delas preparam efetivamente os seus alunos para viver numa sociedade moderna. Já foi dito até que algumas madrassas funcionariam como centros de treinamento da Al-Qaida, oferecendo treinamento militar clandestino.
Hoje em dia, em países muçulmanos mais pobres, como o Paquistão ou o Afeganistão, as madrassas também acabam servindo como uma rede de segurança, funcionando em regime de internato, garantindo abrigo, alimentação e roupas para as crianças mais pobres.
No Irã, a madrassa mais bonita e famosa que visitamos foi a Madraseh-ye Chahar Bagh, ao lado do Hotel Abbasi, na Avenida Chahar Bagh Abbasi, em Esfahan.
Foi muito interessante porque os (muitos) alunos estavam todos dê-lhe carregar para a rua os tapetes da escola, se preparando para o festival de quebra de jejum, Eid al-Fitr, que acontece ao fim do Ramadã.
Neste festival religioso, eles fazem orações comunitárias ao amanhecer, e é incrível a visão de centenas de tapetes persas espalhados pelas ruas da cidade.
Agora, quando vocês viajarem para países muçulmanos e visitarem madrassas, já sabem do que se trata, não vão passar a vergonha que eu passei no Marrocos 😜
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a madrassa mais bonita e famosa que visitamos no Irã foi a Madraseh-ye Chahar Bagh, em Esfahan |
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a incrível cúpula de azulejos azuis da importante escola de estudos islâmicos de Esfahan está sendo restaurada |
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os alunos da Madraseh-ye Chahar Bagh estavam carregando para a rua os tapetes da escola, se preparando para o festival de quebra de jejum - Eid al-Fitr - que acontece ao fim do Ramadã |
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neste festival religioso, os muçulmanos fazem orações comunitárias ao amanhecer, e é incrível a visão de centenas de tapetes persas espalhados pelas ruas da cidade |
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tapetes persas espalhados pelas ruas e calçadas de Esfahan - já pensou?? |
Muqarnas
Os "favos de mel" que vocês veem nas fotos abaixo são chamados "Muqarnas" (em árabe: مقرنص; em persa: مقرنس) - uma forma de ornamento arquitetônico em formato de abóbada, típico da arquitetura Islâmica.
Essas estruturas côncavas maravilhosas, que parecem estalactites, não são usadas apenas em cúpulas de mesquitas, mas também, como nessas fotos, podem ser encontradas embelezando Iwans, que são os portais retangulares que servem de entrada para as mesquitas a partir do pátio interno.
As Muqarnas também são usadas para decorar Mihrabs, aqueles nichos na parede de uma mesquita que indicam a direção da oração para os muçulmanos (como se fosse o altar de uma igreja católica).
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Muqarnas que embelezam um dos Iwans da Mesquita Jameh em Esfahan |
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as Muqarnas são uma forma de ornamento arquitetônico em formato de abóbada, típico da arquitetura Islâmica |
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essas estruturas côncavas são usadas em cúpulas de mesquitas, em Iwans e também em Mihrabs, como nesta foto |
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as incríveis Muqarnas da Mesquita do Iman na Praça Naqsh-e Jahan em Esfahan |
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Muqarnas de um dos Iwans da Mesquita Jameh de Esfahan |
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existem Muqarnas de infinitos tamanhos, materiais, formatos e padronagens |
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selfie com as Muqarnas da Pink Mosque de Shiraz |
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a perfeição das Muqarnas da Mesquita Nasir ol Molk em Shiraz |
Salaam Aleikum
Em algumas línguas, os cumprimentos são definitivamente mais bonitos que noutras. É assim com o Namastê, que usamos na Índia e no Nepal, e também com o cumprimento usado por muçulmanos, Salaam.
Salaam Aleikum ou As-Salamu Alaikum ("Salamaleico", na versão aportuguesada), do árabe ٱلسَّلَامُ عَلَيْكُمْ, significa "que a paz esteja sobre vós".
A resposta para essa saudação é Aalaikum As-Salaam ou Waalaykumussalaam, do árabe وَعَلَيْكُمُ ٱلسَّلَامُ, que pode ser traduzido como "e sobre vós a paz".
Não é algo muito melhor a dizer quando você encontra alguém do que um simples "oi", que não significa nada?
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que a paz esteja sobre vós |
Ramadã e o Iftar no Irã
Tenho a impressão de que já havia passado, no período do Ramadã, por alguns lugares majoritariamente muçulmanos antes, mas, como as restrições do mês sagrado do Islamismo de um modo geral não afetavam turistas, mal percebi o que significava viajar por um país de maioria muçulmana nesta época do ano.
Quando fomos à
Indonésia, em agosto de 2011, lembro de nos falarem no hotel que aquele era o mês de Ramadã e, por isso, deveríamos comer bem no café da manhã do hotel, pois não encontraríamos restaurantes abertos durante o dia para almoçar. Aquilo já me soou um pouco surpreendente: "como assim não encontrar restaurantes abertos para almoçar??"
Em Bali, onde estivemos naquela viagem, o hinduísmo é a religião predominante, representando mais de 80% da população, e lá nem se ouvia falar no assunto Ramadã. Mas, em Yogyakarta (também conhecida como “Jogja” pelos mais íntimos), na Ilha de Java, mais de 90% da população é muçulmana, e o Ramadã lá é levado mais a sério.
Mesmo assim, viajamos quase 10 dias pela ilha muçulmana de Java e não me recordo de termos tido problemas para encontrar comida.
Assim, o tal Ramadã foi um assunto que nunca me preocupou - jamais pensei em consultar um calendário para verificar se não era mês de Ramadã antes de marcar uma viagem ao
Oriente Médio.
E foi assim que marcamos a nossa viagem ao Irã para abril de 2022 e compramos as passagens aéreas. Quando já estávamos praticamente de malas prontas, foi que eu fui descobrir que abril seria o mês de Ramadã no ano de 2022!!
Levei um susto!
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restaurante de comida típica iraniana em Esfahan |
Comecei a ler tudo o que eu encontrava no Google sobre o assunto e entendi que, em alguns países mais turísticos, como a
Turquia, o
Marrocos e a
Indonésia, por exemplo, os turistas não são muito afetados pelo Ramadã, pois os lugares que servem turistas, como hotéis e restaurantes, normalmente não deixam de funcionar durante o Ramadã - a não ser que o proprietário seja MUITO religioso.
De fato, ouvi relatos de vários leitores que viajaram para
Dubai, Marrakesh ou Istambul, por exemplo, no mês sagrado dos muçulmanos, e mal perceberam que era Ramadã, pois o período do jejum não impactou em praticamente nada a viagem deles.
Já no Irã, pelo que eu lia em todos os lugares, como o número de turistas é mínimo, não há demanda suficiente para manter restaurantes funcionando no período de Ramadã durante o dia, quando os muçulmanos são obrigados a jejuar.
Para quem não sabe, eu explico o que aprendi durante a nossa viagem: durante o mês sagrado do Ramadã, os muçulmanos jejuam do nascer ao pôr do sol, não podendo ingerir NADA - eles devem ficar sem beber e nem comer, ou seja, praticar o jejum, entre o nascer e o por do sol.
Os muçulmanos praticantes não podem tomar nem água durante o dia! Ficar sem tomar água no meio do deserto! Num país onde as temperaturas ultrapassam diariamente os 40ºC, pensa!!! Não é fácil!
E o pior é o seguinte: quando o Ramadã cai no inverno, o drama não é tão grande, pois os dias são mais curtos - e, portanto, são MENOS HORAS de jejum entre o nascer o por do sol. Mas, quando o mês sagrado cai no verão, ou mesmo na primavera, como foi neste ano de 2022, os dias são mais longos, o que significa muito MAIS HORAS de jejum obrigatório entre o nascer e o por do sol, e mais: com muito calor!
Entendeu o problema?? O sol nasce super cedo e, a partir dali, você não pode ingerir mais nada até que ele se ponha, e o danado demoraaaaa pra se por!
Jejuar no verão, quando os dias são longos e muito quentes, inclusive tem mais valor do que jejurar no inverno, pois o valor de um ato religioso é proporcional ao volume de esforço empregado e, por isso, as recompensas de Deus aumentam de acordo com o que o muçulmano suporta, segundo a crença islâmica.
Em compensação, pensa como os ânimos não ficam mais acirrados...as pessoas com fome, sede e, consequentemente, mais impacientes, irritadas...😠
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esperando o sol baixar para começar o piquenique na Praça Naqsh-e Jahan em Esfahan |
Voltando um pouquinho...como expliquei acima, os muçulmanos acreditam que, em 610DC, o Anjo Gabriel apareceu ao Profeta Maomé e revelou a ele o Alcorão, o livro sagrado do Islã.
Essa revelação, Laylat Al Qadar - ou, como é conhecida em português, a "Noite do Destino" ou "Noite do Poder" - ocorreu durante o Ramadã, o 9º mês do calendário islâmico. E, por isso, a ideia de jejuar durante esse mês é uma forma de celebrar a revelação do Alcorão para Maomé.
Como expliquei logo no início deste texto, observar o jejum durante o mês sagrado chamado Ramadã é um dos 5 pilares do Islã.
O Ramadã é um mês de renovação da fé para um muçulmano, de abstenção de coisas que são consideradas impuras para o corpo e para a mente, que serve para purificar a mente e intensificar a fé, um mês de piedade, oração e esmolas.
Outras regras do Ramadã dizem que, neste mês, os muçulmanos também não podem ter pensamentos impuros e devem praticar a generosidade e o perdão, evitando fazer sexo e também fumar.
Os muçulmanos acreditam que o jejum faz com que a pessoa seja mais grata por tudo o que recebe de Allah, fortalecendo, assim, sua conexão com o Criador.
O sentido do jejum é justamente controlar as necessidades e as paixões, mas também fazer com que os muçulmanos se coloquem no lugar de quem sofre privações durante o ano todo.
O jejum é obrigatório para todos os muçulmanos, exceto para mulheres grávidas ou em período menstrual, pessoas doentes, viajantes ou idosos.
Os dias de jejum que não tiverem sido cumpridos durante o Ramadã podem ser cumpridos durante o restante do ano, tanto seguidamente quanto em dias avulsos.
E que diferença tudo isso vai fazer na sua viagem ao Irã?
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fiquei preocupada que não fosse conseguir experimentar os famosos doces típicos de Esfahan |
Li que faria muita diferença, porque, mesmo que você não seja muçulmano, os turistas viajando pelo Irã também devem observar as regras do Ramadã em público, sob pena de multa - ou seja, enquanto o sol estiver brilhando no céu, nada de comer ou beber em público!
E, mesmo que você não seja multado, é muita falta de educação sacar a sua garrafinha de água e ficar se deliciando com uma água geladinha na frente de outras pessoas que estão jejuando, entende? Mais do que seguir as regras do Ramadã para não ser multado, é uma questão de educação e respeito com o povo muçulmano local 😉
Durante o mês do Ramadã, teoricamente nem os hotéis ficariam livres de seguir as regras! Foi isso o que eu li em todos os lugares!
Os horários de funcionamento de mercados, museus e muitos restaurantes e pontos turísticos são alterados, e bebidas alcoólicas ficam mais proibidas do que nunca - mesmo em países como o
Catar, onde elas são toleradas, durante o mês de Ramadã bebidas alcoólicas não são comercializadas nem em hotéis de redes internacionais.
Pelo que eu lia em todo lugar, os mercados, por exemplo, não abririam entre o nascer e o por do sol - só abririam à noite, depois que o sol se põe, e depois da refeição que marca a quebra do jejum. Isso porque, quem teria ânimo, ainda mais numa época de tanto calor, para trabalhar num bazar o dia todo sem comer nem beber nada? As pessoas deveriam ficar quietinhas em casa, hibernando, sem gastar as energias, poupando as calorias que não podem ingerir...
Aliás, também li que as regras relativas ao 'dress code' para turistas também são observadas com mais rigor durante o Ramadã - então, se viajar neste período para o Irã, tenha mais cuidado com o que vai vestir lá!
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até mesmo o código de vestimentas islâmicas é observado com mais rigor durante o Ramadã |
Vou contar para vocês aqui mais algumas coisas que eu li antes de viajar ao Irã sobre como é o Ramadã em países muçulmanos, e depois eu conto o que efetivamente encontramos nas nossas andanças pelo país:
Li que os primeiros dias do mês do Ramadã são os mais difíceis, pois todos ainda estão fazendo um super esforço para cumprir à risca o jejum, então as regras são mais inflexíveis nesses primeiros dias e todo mundo fica mais mal-humorado - óbvio, quem não ficaria mal-humorado morrendo de fome e com sede?!
Além disso, o jejum não é só de comida e de bebida, mas, como já mencionei, eles também SUPOSTAMENTE devem fazer jejum de sexo, de cigarros e de "pensamentos impuros" - então imagina o humor como fica?!
Mas, com o passar dos dias, as regras vão se afrouxando um pouco, ninguém aguenta mais fazer jejum o dia todo, os cafés, restaurantes e mercados começam a abrir cada dia um pouquinho mais cedo - afinal, o povo começa a perceber que, se não trabalhar, o dindim não vai entrar, e aí o bolso acaba falando mais alto do que a fé!
Acredito que tudo isso seja verdade, porque chegamos ao Irã já na 2ª quinzena do mês de Ramadã, e as coisas já estavam "de rédeas soltas", como dizemos aqui no RS!
Também li que as pessoas que podem - como os abonados dos
Emirados Árabes, por exemplo - "aproveitam" o período de Ramadã para viajar de férias para países cristãos, para não terem que cumprir o jejum obrigatório nos países muçulmanos.
O mesmo ocorre com estrangeiros que moram em países muçulmanos a trabalho, como, por exemplo, brasileiros que vivem no
Catar ou em
Abu Dhabi: eles aproveitam esse período de Ramadã para tirar férias no exterior, justamente para fugir do jejum obrigatório!
Em famílias e locais mais conservadores, certamente é bem mais difícil encontrar pessoas rompendo abertamente o jejum: a pressão social é tão evidente que, mesmo quem não é obrigado a jejuar (pessoas doentes, mulheres grávidas e menstruadas), acaba comendo e bebendo escondido.
Pessoas diabéticas, por exemplo, ou pessoas que sofrem de úlcera, não podem fazer jejum, por uma questão de saúde - o próprio Islã diz isso. No entanto, a tradição e a pressão social fazem com que, mesmo nesses casos extremos, eles acabem adotando o jejum, pelo menos enquanto estão em público.
E, como se a pressão social não fosse suficiente, em alguns países existem leis que castigam com multas, como já falei, e até com prisão (!!!) quem infringe em público injustificadamente a obrigação do jejum 😜
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pesquisando sobre o assunto, depois da viagem, encontrei várias notícias como esta na internet |
Bom, tudo isso foi o que eu li sobre o Ramadã antes de viajarmos...e eu ficava pensando "mas o Ramadã não era em agosto, como foi durante a nossa viagem para a Indonésia em 2011? Como assim que, em 2022, o período de Ramadã subitamente mudou para o mês de abril???" 😜
Pois é, o período de 30 dias de Ramadã muda a cada ano - e, neste ano de 2022, foi de 2/4 a 2/5.
No ano que vem, o Ramadã provavelmente cairá um pouco mais adiante no ano, pois a troca dos meses é baseada no calendário lunar.
Assim, o início do Ramadã varia a cada ano, porque o calendário lunar islâmico segue as fases da lua.
Todos os anos, muçulmanos do mundo inteiro aguardam o avistamento da lua crescente, que determina o 1º dia oficial do Ramadã, o 9º mês do calendário islâmico e o mês mais sagrado da cultura muçulmana.
O início e o fim do Ramadã hoje em dia são definidos por uma 'comissão de avistamentos lunares' na Arábia Saudita. O mês sagrado começa no dia seguinte ao avistamento da lua crescente, que nem sempre está acessível, pois a sua aparição é bem sutil e dura apenas cerca de 20min. Se a lua não fica visível a olho nu devido à neblina ou às nuvens, são realizados cálculos lunares para prever se ela está no céu.
Então, em 2011, quando estávamos na Indonésia, o Ramadã foi em agosto. Desde então, a cada ano, o mês sagrado foi um pouco mais adiante do que no ano anterior, até que, em 2022, foi justamente em abril, quando estaríamos no Irã!
Imagina o meu susto!?
Quando descobri que nossa viagem ao Irã coincidiria integralmente com o mês do Ramadã, não cheguei a cogitar cancelar a viagem (isso jamais, respeita a minha história!!!), mas honestamente achei que passaríamos fome no país, e recheei as nossas malas com Paçoquinhas e outros belisquetes.
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quem tem medo de passar fome no jejum de Ramadã cancela a viagem??? nãooooooo, recheia a mala de Paçoquinhas!! |
Pois foi só chegar ao Irã que, ainda no 1º dia de viagem pelo país, já percebi que a nossa mala de comidas voltaria praticamente intacta!
Estivemos no Irã por 2 semanas durante o mês sagrado dos muçulmanos, e tivemos a real experiência de como é viajar por um país de religião oficial Islâmica na época do Ramadã!
Posso garantir a vocês que aquele papo de jejum de Ramadã é história para muçulmano contar, porque comida definitivamente é o que não faltou na nossa viagem ao Irã, mesmo durante o mês sagrado dos muçulmanos!
Até pelo contrário, como vocês podem ver pelas fotos abaixo...
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notem que o Peg está comendo um baita doce em público, em plena luz do dia, durante o mês sagrado do Ramadã, em Shiraz, no Irã - isso, claro, porque estávamos na frente de uma sorveteria e havia um monte de locais fazendo o mesmo! |
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doces sendo vendidos à luz do dia |
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um delicioso jantar de quebra de jejum em Shiraz |
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almoço em restaurante típico de Yazd |
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bolinhos tradicionais de Yazd sendo vendidos durante o suposto jejum do Ramadã |
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docinho da tarde com vista para a Ponte Tabiat em Teerã |
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'lanchinho' do Peg na capital iraniana em pleno Ramadã! |
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e o Shawarma não para de rodar nunca! |
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em Teerã, a famosa rua de comidas 30th Tir Street Foods não fecha nunca |
Vou explicar melhor:
Durante o Ramadã, as refeições acabam se tornando oportunidades para os muçulmanos se reunirem com outras pessoas da comunidade para grandes comilanças, seja para dar início às horas diárias de jejum para para encerrar o jejum nosso de cada dia.
O Suhur é uma refeição feita de madrugada, geralmente por volta das 4hs, ou seja, antes da oração do Fajr, que é a 1ª oração do dia, quando então começa o jejum diário.
O Iftar, por sua vez, é a refeição da noite, que quebra o jejum do Ramadã, uma celebração especial, em que sempre é servida uma baita comilança! O 'Iftar' começa assim que a oração do pôr do sol, Maghrib, termina, normalmente por volta das 19h30min.
O habitual é que, no mês do Ramadã, mesmo as famílias que acabam não fazendo mais refeições juntas, pela correria do trabalho e do dia a dia, voltem a se reunir em volta da mesa para a quebra do jejum, como fazemos aqui no Brasil em períodos festivos como a Semana Santa e o Natal, por exemplo.
Como o Profeta Maomé quebrou o seu jejum com tâmaras e um copo d'água, muitos muçulmanos comem tâmaras tanto no Suhur quanto no Iftar. Alimento muito comum no Oriente Médio, a tâmara é rica em nutrientes, tem fácil digestão e fornece o necessário açúcar ao organismo após um longo dia de jejum.
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olha as tâmaras ali no café da manhã do nosso hotel em Shiraz - durante o Ramadã, os turistas no Irã aproveitam para comer bem nos cafés da manhã dos hotéis, para se 'garantir' caso não encontrem restaurantes abertos para o almoço, mas os hotéis sempre servem o café até mais tarde - nenhum turista acorda as 4hs da manhã para o Suhur! |
Além dessas 2 grandes refeições diárias durante o mês sagrado, após o último dia do Ramadã, os muçulmanos ainda celebram o seu fim com o Eid al-Fitr - que é um “festival de quebra de jejum”.
Esse festival, como já comentei acima, começa com orações comunitárias ao amanhecer - em Esfahan, vimos eles preparando tudo ao ar livre, pelas ruas da cidade, para o grande evento. Estudantes de uma madrassa carregavam centenas de tapetes e iam espalhando os tapetes persas pelas ruas, como contei antes.
Durante 3 dias de festa, os muçulmanos se reúnem para orar, comer, trocar presentes, fazer grandes piqueniques em família e entre amigos e prestar homenagens aos parentes falecidos.
Por tudo isso, posso afirmar que, apesar do jejum "obrigatório" durante as horas de luz solar, acredito que os iranianos comem tanto ou MAIS no período do Ramadã do que no restante do ano!
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começando a preparar o terreno para as celebrações do Eid al-Fitr, festival que marca o fim do Ramadã |
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onde quer que olhássemos, havia uma família "piquinicando" - mal esperavam o sol baixar e já começavam a comilança! |
Enfim, para nós, viajantes, o Ramadã muito pouco influenciou na nossa viagem!
A par de alguns feriados religiosos a mais, que acabaram nos impossibilitando de visitar alguns lugares que gostaríamos de ter visitado em Teerã, como o museu que existe no local da Antiga Embaixada Americana, e de um restaurante que encontramos fechado durante o dia - o Namakdan Mansion - o fato de viajarmos ao Irã durante o Ramadã não interferiu nem atrapalhou em mais nada (que eu lembre agora) na nossa viagem!
A verdade é que não passamos fome em nenhum momento (óbvio que voltei de viagem com alguns quilinhos a mais, como sempre!) e, para comer durante o dia, não precisamos desrespeitar em nenhum momento nenhum muçulmano.
Surpreendentemente, a verdade é que encontramos no Irã um monte de restaurantes abertos durante o dia - basta ver aqui neste post todos os restaurantes em que ALMOÇAMOS na nossa viagem ao Irã:
Quanto custa viajar para o Irã
E, além dos restaurantes, haviam lojas de doces, mercados, cafés...muitos deles funcionando normalmente durante o dia! Ficamos muito surpresos!
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o único restaurante no Irã que encontramos fechado durante o dia no Ramadã foi o Namakdan Mansion, em Esfahan |
Já na nossa 1ª saída para passear em Shiraz, em menos de 10min andando pela rua, paramos no Mahdi Faludeh, uma loja de doces e sorvetes que estava aberta e cheia de clientes se empanturrando de 'faludeh' (doce típico da região) bem no ponto mais central da cidade, na frente do Forte Arg-e Karim Khan, na Praça Shohada!
Paramos, pedimos nossos doces e um sorvete persa de açafrão (bastani) para experimentar, e sentamos no meio da rua para comê-los, em plena luz do dia, junto com dezenas de iranianos que faziam o mesmo!
No dia seguinte, passeando pelo Bazar Vakil, encontramos aberta a famosa Seray-e Mehr Teahouse, casa de chá situada no meio do mercado e muito frequentada por locais - e ali almoçamos.
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experimentando faludeh e o sorvete persa de açafrão durante o Ramadã em Shiraz |
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almoçando na Seray-e Mehr Teahouse no bazar de Shiraz |
Aliás, lembram que contei lá em cima sobre a incrível hospitalidade com que éramos recebidos nas mesquitas e mausoléus islâmicos revestidos de espelhos venezianos que visitamos no Irã?
Pois não é que, em uma delas - a Imamzadeh-ye Ali Ebn-e Hamze - tivemos direito a uma recepção especial regada a chá e bombons??
Eu e o Peg ficamos nos olhando sem entender nada, e sem saber o que fazer, quando o iraniano que nos recebeu na tumba islâmica começou a nos oferecer chá e bombons no meio da tarde!!! Negamos 3 vezes, como manda a etiqueta iraniana do Taarof (depois eu explico melhor sobre isso), mas ele seguia insistindo veementemente que tomássemos o chá e comêssemos os doces, até que decidimos aceitar e ele ficou bem feliz!
Até hoje eu não consegui entender como é que um muçulmano, que trabalha num mausoléu islâmico, praticamente nos obrigou a quebrar o jejum no meio da tarde em pleno Ramadã!
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neste mausoléu islâmico fomos praticamente 'coagidos' por um muçulmano a quebrar o jejum do Ramadã no meio da tarde! |
Os restaurantes dos hotéis também funcionavam normalmente, assim como os mercadinhos, onde conseguíamos comprar bebidas e lanchinhos para comer "escondidos".
Leia mais:
Mas porque comer escondido se, pelo que estou contando, era fácil encontrar lugares onde podíamos comer tranquilos durante o dia em pleno Ramadã?
Explico: em todos os lugares - como lojas de doces, restaurantes e cafés - onde havia iranianos comendo e bebendo, nós comíamos e bebíamos tranquilamente também. Mas, em alguns lugares, como em Persépolis, por exemplo, não víamos ninguém tomando água e, caminhando por horas debaixo de um sol infernal, a sede era insuportável, então nos escondíamos num cantinho e tomávamos água bem disfarçadamente quando precisávamos, para não ofender ninguém.
É aquilo que eu já escrevi lá em cima: nem era por uma questão de termos medo de sermos multados - acredito que eles não multariam um turista por tomar água em Persépolis durante o Ramadã - era mais por uma questão de respeito aos locais, mesmo!
Vocês não concordam que seria uma baita falta de consideração e de educação sacar a sua garrafinha de água e ficar bebendo na frente de outras pessoas que estão jejuando?
Em outros lugares turísticos, quando estávamos passeando e não havia ninguém comendo ou bebendo por perto, nós também nos abstínhamos de comer e beber em público. Nesses casos, matávamos a fome e a sede no carro!
Várias vezes fizemos lanchinhos, tomávamos café ou comíamos sorvete "escondidinhos" dentro do nosso carro alugado! Uma vez inclusive choramos de rir ao perceber que estávamos fazendo um "lanchinho" escondidos em um cemitério histórico em Esfahan!!!
Leia mais aqui: Alugar carro no Irã: tudo que você precisa saber para viajar de carro pelo país
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o excelente restaurante do hotel em que nos hospedamos em Shiraz servia almoço normalmente durante o Ramadã |
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lanchinho escondido no carro durante o Ramadã no Irã |
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teve até lanchinho de Ramadã escondidos no cemitério!😝 (muitos episódios da viagem que eu esqueço de fotografar estão devidamente documentados lá nos stories) |
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eu em Persépolis sem poder tomar água naquele calorão ia ficar tão feliz quanto esse animal mítico que vimos por lá! |
Ou seja: além de não ser nada difícil encontrar lugares para comer durante o dia, ainda tínhamos a possibilidade de desfrutar de banquetes deliciosos de quebra de jejum - o Iftar - à noite! Não foi por nada que ganhei vários quilos durante a nossa viagem de 2 semanas ao Irã no período de Ramadã 😝
Então, quando me perguntam se não era melhor ter esperado para viajar em outra época, se é melhor evitar viajar para o Irã durante o Ramadã, a minha resposta pessoal é NÃO!
Mesmo com as desvantagens que já mencionei - como o fato de termos encontrado um museu e um restaurante fechados, por exemplo, além de vários feriados - descobrimos muitas VANTAGENS de viajar pelo Irã durante o mês sagrado do Ramadã:
1º, as maravilhosas refeições de quebra de jejum - vimos até uma nutricionista na televisão iraniana alertando as pessoas para evitarem tantas comilanças noturnas e ingerirem menos doces e mais verduras e frutas kkkkk;
2º, a oportunidade única de presenciar 'in loco' festas religiosas que só acontecem nesta época do ano;
3º, a chance de ver centenas de pessoas quebrando o jejum em piqueniques pelos parques e praças públicas;
4º, as mesquitas lotadas de fiéis;
5º, as noites super agitadas, inclusive com mesquitas abertas até bem mais tarde, assim como restaurantes e cafés, já que todo mundo sai de casa e aproveita muito mais as noites nesta época do ano; etc.
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viajar pelo Irã durante o Ramadã é certeza de poder desfrutar de banquetes deliciosos de quebra de jejum |
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praças e parques cheios de iranianos quebrando o jejum em piqueniques durante o mês do Ramadã |
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todo o comércio fica aberto até tarde da noite, pois os iranianos aproveitam muito mais as noites durante o mês de Ramadã |
Tivemos a oportunidade de assistir em Meybod até uma tal Marcha do Dia dos Quds, evento anual realizado na última sexta-feira do Ramadã, que teve início no Irã em 1979, para apoiar Palestinos e se opor a Israel e ao Sionismo.
Vou contar mais sobre este evento em outro post, mas posso dizer que foi interessantíssimo presenciar esses eventos especiais para entender melhor a cultura do país.
Para quem achava que ir ao Irã em pleno Ramadã pudesse ser uma roubada, me enganei redondamente: no fim das contas, foi uma época incrível para poder presenciar e aprender mais sobre todos esses costumes e tradições tão diferentes dos nossos🙏
Eu sei que provavelmente experimentamos um Irã muito diferente do 'normal' viajando neste período, e que, justamente por ter ido nessa época, não tenho parâmetros confiáveis para comparar e dizer o que é mais ou menos legal - viajar ao Irã no Ramadã ou evitar o Ramadã - aí é escolha pessoal de cada um.
Como eu ADORO ter experiências diferentes, não trocaria a viagem que fizemos por nada!
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a Marcha do Dia dos Quds é um evento que só presencia quem viaja ao Irã durante o Ramadã |
Sessão coletiva de auto-flagelo
Vimos até uma sessão coletiva de auto-flagelo na praça central de Shiraz!!
Sim, isso mesmo que vocês leram: vínhamos passeando tranquilamente pela Praça Shohada quando, de repente, eu gelei: havia uns 10 ou 12 homens ali performando um ritual chocante - se autoflagelando com palha de aço 😱
Os homens, todos vestidos de preto, batiam com a palha de aço no peito - depois, pesquisando, descobrimos que se tratava de um ritual religioso que marca o dia do martírio brutal de Ali (lembram que falei dele acima?), que acontece exatamente no 21º dia do mês de Ramadã (ele foi covardemente atacado com uma espada envenenada por um fanático).
Fiquei tão chocada com aquilo que nem pensei em filmar/fotografar!
Por esse simples fato, de eu ter esquecido (ou talvez me sentido muito constrangida) de fotografar - logo eu - que fotografo TUDO, dá para vocês terem uma ideia do quão surreal foi aquilo.
Certamente uma cena que nunca na vida vou esquecer - e que não teria tido a oportunidade de presenciar viajando ao Irã em outras épocas do ano que não o período de Ramadã!
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o período de Ramadã é, de fato, uma época única e memorável para se viajar ao Irã, se você gosta de experimentar costumes diferentes |
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só lembrei de verificar no calendário quando seria o período de Ramadã neste ano depois que já estávamos com as passagens compradas! |
Ritual do Namaz e o Alcorão
Viajando por países de maioria muçulmana, vocês sempre vão encontrar um Alcorão (o livro sagrado dos muçulmanos) nos quartos de hotéis, assim como uma indicação do lado para onde está voltada a cidade de Meca, já que os fiéis ao Islamismo sempre devem orar voltados na direção de Meca.
Isso é tão ou mais comum quanto encontrar uma Bíblia numa gaveta de quarto de hotel aqui no Brasil.
O Alcorão e o Hádice são os textos religiosos sagrados do Islã.
O Alcorão tem 114 capítulos e é considerado a palavra vinda diretamente de Alá.
Aliás, vocês sabiam que existem milhões de pessoas ao redor do mundo (hoje em dia) que sabem o Alcorão inteiro de memória!? Sendo que o livro sagrado do Islamismo possui 6.600 versículos e mais de 70 mil palavras!
Soube de histórias impressionantes de uma menina egípcia de apenas 5 anos que memorizou o Alcorão, histórias de presos em Dubai que decoram o Alcorão para ganhar redução em suas penas...os muçulmanos acreditam inclusive que as pessoas que memorizam o Alcorão terão um status elevado no paraíso.
Há até um aplicativo de celular - o Easy Quran Memorizer - para ajudar quem quizer memorizar o livro sagrado!
O Hádice, por sua vez, é um outro livro sagrado para os muçulmanos, que tem os relatos dos companheiros de Maomé sobre a sua filosofia e suas obras, complementando o Alcorão.
Mas, no Irã, por ser um país de maioria xiita, como já expliquei, além do Alcorão e da indicação de Meca, vocês também vão acabar conhecendo, especialmente nos hotéis onde se hospedarem, outros objetos utilizados nas orações dos muçulmanos: peças de tecido e uma espécie de pedrinha de argila oriunda do Santuário de Ali Hussein em Karbala, no Iraque - santuário que é uma das mais antigas mesquitas do mundo e um local sagrado do Islamismo Xiita.
A oração islâmica é chamada de Salat. Em Persa, é chamada de Namaz, e é feita 5 vezes ao dia. Esse pequeno tablete de argila se chama Turbah, ou Mohr, e é usado durante o ritual do Salat para simbolizar a terra - durante as orações, os muçulmanos colocam a testa sobre a pedrinha, estando, assim, em contato com a terra sagrada de Karbala. E a pedrinha nunca é colocada diretamente no chão, mas sobre o tapete.
Explicando melhor: enquanto os muçulmanos sunitas utilizam apenas um tapete e uma bússola para orar, os xiitas usam também essa espécie de selo de argila, que simboliza a cidade sagrada dos xiitas (Karbala, onde ocorreu o martírio do Imã Hussein).
Achei que valia a pena falar disso aqui - agora, quando vocês encontrarem essa pedrinha e um tecido tipo um lenço nos quartos de hotéis onde se hospedarem no Irã (ou em qualquer parte do Oriente Médio), já sabem do que se trata 😜
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objetos utilizados nas orações dos muçulmanos xiitas |
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Alcorão com tradução em inglês |
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Alcorão com tradução em espanhol |
Ritual de despedida
Eu já tinha visto esse ritual muçulmano em outras ocasiões, e até na série no Netflix O Grande Guerreiro Otomano, pois os personangens desta série sempre praticavam esse ritual quando se despediam - mas nunca tinham feito isso para nós, e acabamos saindo do @iranmehrhotel em Shiraz com o coração apertado e lágrimas nos olhos depois desta despedida emocionante que prepararam para nós.
Tradicionalmente, para se despedir de alguém, os muçulmanos fazem com que a pessoa que está indo embora passe debaixo de um Alcorão, para garantir que Allah cuide da sua viagem, do seu caminho, e, depois que tu passas debaixo do livro sagrado do Islã, eles jogam água no chão por onde tu vais passar, para limpar o teu caminho ❤️
Essa moça querida, que trabalha na recepção do IranMehr Boutique Hotel, nos contou que esse é um costume muçulmano em que todos acreditam e observam no Irã, até mesmo as gerações mais jovens.
Eu achei tãoooo bonito que fiquei até emocionada!
Quem já ganhou uma despedida assim em um hotel?
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saímos do Iranmehr Hotel em Shiraz com o coração apertado e lágrimas nos olhos depois de uma despedida emocionante que eles prepararam para nós
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Chador, Hijab, Burca
Para que vocês possam entender melhor a questão das regras de vestimenta islâmicas, vou ter que escrever um post específico sobre esse assunto - e sobre o 'dress code' iraniano, porque tenho muito a dizer sobre isso, e é um tema que interessa a todo mundo que vai viajar ao Irã - ainda mais com tudo o que vem acontecendo no país nas últimas semanas!
Num outro post, como expliquei acima, prometo escrever mais sobre a questão da maquiagem (carregadíssima) que as iranianas usam, as cirurgias plásticas, sobre a temida e horrorosa "Polícia Moral" (que, espero, tenha fim em breve, com todas as manifestações que estão ocorrendo no Irã atualmente), dentre tantas outras curiosidades iranianas interessantes de saber para quem viaja ao país - ou não.
Por ora, o que é necessário lembrar aqui é que, além de todas as regras sobre as vestimentas islâmicas, você precisa ter em mente que, para visitar mesquitas e santuários, quase que certamente você terá que tirar os sapatos - então não use aquela meia com um furo no dedão 😜
E, para as mulheres, na maioria das tumbas, mausoléus e santuários, temos que usar o Chador, aquele pano enorme em que a gente se enrola, deixando apenas o rosto à mostra - nas mulheres que sabem usá-lo, é claro. No meu caso, parecia um lençol disforme enrolado, que quase me fez tropeçar 13 vezes.
Em todos os lugares onde é necessário usar o chador, eles emprestam gratuitamente para a gente na entrada, e sempre tem lá alguma mulher para te ajudar a vestir o troço. Não se preocupe: eles são sempre limpinhos e cheirosinhos - acho que são realmente lavados a cada vez que são usados, nunca peguei um chador que estivesse sujo ou fedorento.
Já nas mesquitas, às vezes o simples Hijab (lenço para cobrir a cabeça e os cabelos) é suficiente, não precisa usar o Chador sempre. Se for necessário vestir o Chador, eles certamente vão te avisar - virão correndo com um na mão para te vestir - então não se preocupe!
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eles sempre avisam "por favor, entre na mesquita com a vestimenta islâmica" |
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na Mesquita Vakil em Shiraz, o Hijab era suficiente |
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já na Pink Mosque, era obrigatório vestir o Chador para entrar |
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sempre que for necessário vestir um Chador para entrar em algum edifício religioso no Irã, haverá um aviso, então não precisa ter receio de cometer gafes - é só prestar atenção no que está rolando ao seu redor - lembrando que, no Irã, as regras de vestimenta para turistas são as mesmas que para os iranianos |
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além de todas as regras sobre as vestimentas islâmicas, tenha em mente que, para visitar mesquitas e santuários, quase que certamente você terá que tirar os sapatos |
Todo Persa é muçulmano?
Uma última questão que ainda confunde algumas pessoas: todo Persa é muçulmano??
A resposta é NÃO, gente! Nem todos os Persas são muçulmanos.
Explicando melhor:
Muçulmano é aquele que segue a religião Islâmica, assim como aquele que segue a religião Católica é chamado de Católico, ou aquele que segue o Budismo é Budista!
Persas são os integrantes de um grupo étnico, o nome que é dado a quem nasce na Pérsia (Irã), assim como quem nasce na Ásia é Asiático, quem nasce na Europa é Europeu ou quem nasce em um país árabe é Árabe!
Então fica óbvio que nem todo Persa é muçulmano: basta que a pessoa tenha nascido no Irã mas siga outra religião que não o Islã! Vários Persas seguem outras religiões!
Como falei antes, o Irã é um país de maioria Xiita - mais de 90% dos iranianos são Muçulmanos Xiitas, enquanto que pouco mais de 5% são Muçulmanos Sunitas, e apenas 1% se dividem entre Zoroastras, Cristãos ou Judeus. É pouco, realmente, mas, mesmo assim, é uma prova de que há um certo grau de tolerância religiosa no país, mesmo se tratando de uma República Islâmica, ou seja, de um país que tem como religião oficial o Islã.
As 3 minorias religiosas reconhecidas pela Constituição do Irã são o Zoroastrismo, o Judaísmo e o Catolicismo.
Religião é uma escolha, uma questão de fé! Local de nascimento - feliz ou infelizmente - a gente não escolhe, né!
Embora o Irã (= Pérsia) seja um país de religião oficial muçulmana, existem iranianos que escolhem outras religiões, que podem ser praticadas legalmente no país - inclusive o Judaísmo!
Aliás, você sabia que o Irã tem a 2ª maior comunidade judaica do Oriente Médio, só ficando atrás, é óbvio, de Israel?
São quase 9 mil judeus vivendo oficialmente no Irã - embora digam que os números extraoficiais chegam a 30 mil judeus no país. Existem perto de 100 sinagogas no Irã, entre Teerã, Shiraz, Yazd, Esfahan e outras cidades, e o Parlamento do Irã tem uma vaga garantida para um representante judeu!
Em Esfahan, vimos um judeu ortodoxo passando por nós na rua, e tenho que confessar que quase não acreditei naquela cena - depois que fui pesquisar sobre judeus vivendo no Irã e descobri tudo isso que estou contando pra vocês!
Nós mesmos visitamos um Templo do Fogo Zoroastra (religião que era majoritária no Irã antes da conquista Islâmica) e 3 igrejas Católicas no Irã - uma delas, em Esfahan, lindíssima e muito famosa!
Oficialmente, existem cerca de 22 mil católicos vivendo no Irã, mas provavelmente os números extraoficiais também sejam maiores.
Leia também: Zoroastrismo: o que você precisa saber sobre essa religião
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Templo do Fogo Zoroastra em Yazd, no Irã |
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aguardando a abertura da Catedral de Saint Sarkis em Teerã, a maior igreja da capital iraniana |
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em Jolfa, o Bairro Armênio de Esfahan, visitamos a Catedral Vank |
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a Igreja Hovsep Arematatsi é um dos principais pontos turísticos de Esfahan, no Irã, e vai te deixar boquiaberto |
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