A Tuíra Paim Paganella fez o Tour du Mont Blanc em junho de 2022, e aqui ela conta pra gente como foi fazer a trilha de 170Km pela França, Itália e Suíça, conhecida como uma das trilhas mais bonitas do mundo.
Há anos eu tenho vontade de fazer a trilha conhecida como Tour du Mont Blanc, que circunda o Monte Branco, a montanha mais alta dos Alpes (e da União Europeia), com 4.808m de altitude.
Leio tudo que me cai nas mãos sobre ela e até já escrevi sobre essa trilha aqui no blog, no post As 10 melhores trilhas do mundo: lista de sonhos de trekking.
Nos últimos tempos tenho acompanhado mais e mais pessoas conhecidas fazerem essa trilha, que é sem dúvida uma das mais bonitas do mundo, e sinto que esse sonho está cada vez mais próximo - especialmente agora, que tirei a Trilha ao Acampamento Base do Everest do meu caminho 😜
Nesse exato momento tenho uma amiga lá fazendo a trilha (@silmarangon) e outra amiga virtual que acabou de voltar, e pedi a ela que - pelamordeDeus - escrevesse um relato para publicarmos aqui no blog - fiquei super feliz que tu aceitou, Tuíra!
Com a palavra, para nos contar tudo sobre a sua aventura no Tour du Mont Blanc - com direito até a pedido de casamento! - Tuíra Paim Paganella:
o Tour du Mont Blanc circunda o Monte Branco, montanha mais alta dos Alpes |
Como é o Tour du Mont Blanc
Fiquei sabendo acerca da existência do Tour du Mont Blanc por meio do livro do Elias Luiz, do Portal Extremos, "Tour du Mont Blanc, em busca de Emelie".
A leitura é super agradável e me fez ficar impressionada com as fotografias e com vontade de saber mais.
Em pesquisas na internet, deparei-me com os relatos do Wilson Iwazawa e da Priscila Matias, que muito contribuíram para planejar minha viagem e que indico leitura.
Ainda, fiz a leitura do livro "Trekking The Tour of Mont Blanc - Complete two-way hiking guidebook and map booklet" de Kev Reynolds.
livro do Elias Luiz, do Portal Extremos, "Tour du Mont Blanc, em busca de Emelie" |
eu, Claudia, também já li o guia do Kev Reynolds, que a Tuíra recomenda (ganhei de presente da Marcela @tripsandroadtrips, outra amiga virtual que também já fez a trilha) |
Feitas as análises iniciais, apresentei o roteiro ao meu então namorado, que topou a aventura e, inclusive, me pediu em casamento no 1º dia da trilha, nas proximidades do Lac Blanc, o que deixou a viagem ainda mais especial.
Pois bem, o TMB (Tour du Mont Blanc) é um roteiro de aproximadamente 170Km (a distância pode variar a depender da utilização ou não de variantes) ao redor do maciço do Mont Blanc - cruza-se as fronteiras da França, da Suíça e da Itália.
Como o percurso é circular, pode-se começar de qualquer ponto, bem como é possível fazê-lo em sentido horário ou anti-horário.
Das pesquisas que efetuei, e depois constatei ao vivo, o sentido anti-horário é o mais popular. Nele, as subidas são mais puxadas, as descidas mais "tranquilas" (não se engane, isso não é sinônimo de fácil).
Já no sentido horário, que fizemos, o contrário é verdadeiro - por não ser o sentido mais popular, em muitas vezes demoramos várias horas até nos depararmos com outras pessoas.
no TMB, o percurso é circular, pode-se começar de qualquer ponto, bem como é possível fazê-lo em sentido horário ou anti-horário |
Começamos a planejar o TMB em janeiro deste ano, sendo que optamos por contratar a agência francesa Altitude MontBlanc, que encontramos por meio dos relatos da Priscila Matias supracitados e que estava com valores mais em conta - com a conversão da época gastamos cerca de 6 mil reais por pessoa - hospedagem em quarto duplo privado, café da manhã e jantar inclusos.
Fizemos, portanto, o tour autoguiado. Isto é, a agência ficou responsável apenas pela contratação dos albergues e fornecimento de mapas.
Ainda que tenhamos começado a planejar ainda em janeiro, os albergues já estavam praticamente lotados, sendo que conseguimos vagas apenas para o início da temporada: metade de junho em diante.
Essa informação é importante, pois, no início da temporada, é possível que ainda haja grande concentração de neve e algumas variantes não sejam passíveis de utilização.
No nosso caso, tínhamos optado por fazer o caminho tradicional, com a opção de utilizar variante no penúltimo dia apenas, o que não foi possível em razão do mau tempo, conforme relatarei abaixo.
Nesse contexto, faço um pequeno parênteses: os textos costumam relatar que as variantes, embora exijam mais preparo e apresentem maior dificuldade, são os caminhos mais bonitos. De minha parte, que fiz o caminho tradicional, digo: as paisagens aqui também são sensacionais.
Quanto à neve, não tivemos problemas, nos trechos em que encontramos, não houve dificuldade de passagem, tampouco foi necessária a utilização de crampons - embora tenhamos levado por precaução, já que era início de temporada.
Ainda, com relação à preparação, líamos relatos que informavam que, em que pese o TMB fosse considerado "leve" por alguns, em verdade, não o era.
As trilhas são bem demarcadas, mas o percurso exige bom preparo físico.
Assim, nos preparamos com musculação frequente e treinos utilizando mochila nas costas para acostumar o corpo.
Quanto às roupas, em boa parte do tempo, utilizamos apenas camisas de trilha com filtro UV para proteção solar. Jaqueta anorak (corta-vento impermeável) também foi super importante, principalmente para as "Cols", que são as partes altas das montanhas, em que o vento é bastante forte. Roupas de frio mais pesadas usamos apenas nos abrigos, nas noites, e no último dia da nossa trilha.
Feita essa introdução, passarei aos relatos diários da nossa trilha.
começamos o TMB no centro de Chamonix |
Roteiro Tour du Mont Blanc
1º Dia: Chamonix - Lac Blanc - Le Tour: 14Km
Saímos do centro de Chamonix.
A trilha propriamente dita começa em Les Praz de Chamonix, um bairro 2Km distante da cidade e para o qual há a opção de ônibus municipal para quem tiver interesse. Nós até pensamos em pegá-lo, já que sabíamos que a subida do dia seria pesada, mas, em razão da demora, começamos a pé mesmo.
Neste 1º dia, as paisagens são incríveis.
Há a visão do Mont Blanc logo de cara. O Lac Blanc é incrível. A paisagem é composta pelo complexo de montanhas, neve, pouca vegetação. Também foi possível a visualização de um Íbex - uma espécie de cabra das montanhas.
Paramos em um albergue do pequeno vilarejo de Le Tour.
Lac Blanc |
2º Dia: Le Tour - Col de Balme - Trient: 15Km
Atravessamos a fronteira da França para a Suíça e passamos por uma mega descida no meio de uma floresta de coníferas.
3º Dia: Bovine - Champex-Lac: 15Km
Passamos pela famosa e linda Col de la Forclaz e terminamos na charmosa Champex-Lac.
4º Dia: Dia de descanso
Deixamos como dia de descanso e conhecemos mais de Champex-Lac e seu lindo lago.
Este dia de descanso foi importante, pois os 3 primeiros dias tiveram descidas bastante íngremes e cansativas (para mim, as descidas são sempre piores que as subidas).
5º Dia: Swiss Val Ferret - La Fouly: 17Km
La Fouly |
6º Dia: Grand Col Ferret - Val Ferret Italien: 17Km
Cruzamos as fronteiras entre Suíça e Itália, novamente com paisagens montanhescas.
7º Dia: Mont de la Saxe - Courmayeur: 18Km
vista de Courmayeur lá embaixo |
8º Dia: Dia de descanso em Courmayeur
Deixamos previamente mais um day off para conhecer Courmayeur.
Em termos de turismo, charmosa cidade para se conhecer.
Para fins de trilha, concluímos que este dia de descanso não era necessário. O corpo já estava acostumado com a trilha e distâncias, além de as descidas não estarem tão mais íngremes neste momento. De todo modo, foi boa a parada para conhecer a cidade.
9º Dia: Col de La Seigne - Les Mottets: 23Km
Voltamos para terras francesas.
Este foi o único dia em que ficamos hospedados em um albergue alpino. Isto é, albergue no meio da trilha, não em cidade. Único local que ficamos sem sinal de internet por mais de um dia.
Ficamos neste albergue para ter a opção de, no dia seguinte, utilizar ou não a variante de Col des Fours, que dizem ser muito bonita.
10º Dia: Les Mottets - Col du Bonhomme - 20Km
O dia começou bastante nublado. Havia recomendações de não utilizar a variante de Col des Fours caso houvesse mau tempo. Assim, optamos por continuar a rota tradicional.
Passamos por Les Chapieux, ponto extremo sul da trilha, e continuamos subindo para Col du Bonhomme.
A ideia era terminar aquele dia em Les Contamines e terminar o TMB no dia seguinte com os quilômetros finais em Les Houches.
Todavia, enquanto subíamos para a Col du Bonhomme, uma chuva forte começou. Nos dias anteriores, tínhamos pego o que chamamos de "chuva de verão", forte no início, mas nada que a anorak e capa de chuva da mochila não resolvesse, sendo que logo passava. Por esta razão, continuamos. Ao longe, avistávamos a Col du Bonhomme, onde poderíamos nos resguardar até que a chuva passasse.
No entanto, a chuva se transformou em uma tempestade cheia de vento, raios e neblina, que fechou em muito a visibilidade.
A Col du Bonhomme já não era mais visível.
A temperatura também baixou drasticamente e, pela 1ª vez na trilha, utilizamos as jaquetas de inverno, luvas, anorak e gorros para enfrentar frio, chuva e condições adversas. Como não tínhamos mais certeza da distância, bem como do perigo que estava se apresentando ao continuar, tomamos a difícil decisão de voltar.
Retornamos 3hs de caminhada, ainda embaixo de chuva, até a cidade de Les Chapieux e demos por encerrado o TMB.
De acordo com os mapas, deve ter faltado cerca de 17Km para encerrar o percurso. Quem sabe numa próxima voltaremos para encerrar o caminho.
Ainda assim, foi uma experiência incrível! A superação, o contato com a natureza selvagem, as paisagens, tudo fez com que tenha se tornado uma viagem inesquecível.
Uma das trilhas mais bonitas que já fiz!
Leia também
Planejando o Tour du Mont Blanc - relato da Priscila Matias
Trilhando o Tour du Mont Blanc - relato da Priscila Matias
Tour du Mont Blanc - relato do Wilson IwazawaTour du Mont Blanc - relato do Paulo Miranda
As 10 melhores trilhas do mundo: lista de sonhos de trekking
Dicas para fazer o TMB com crianças (em inglês): The Ultimate Self Guided Tour du Mont Blanc Guide
Oi Felipe, tudo bom? Vou realizar o TMB na semana que vez, segunda quinzena de junho/2023. Se puder me ajudar com duas duvidas ficarei muito grata. 1º é possível acampar próximo ao LAGO CHECROUIT, ou antes dele? 2º sabe me dizer se os teleféricos (o de les Houches e o que desse para courmayeur) são muito caros $? Obrigada.
ResponderExcluirBuena información con excelentes fotos. Gracias por compartir
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