Dia 3
Resolvemos
alugar um carro para conhecer o Parque Nacional Tierra del Fuego, para ter mais
tempo e liberdade. Com o Lipe não é muito legal ficar presos aos horários e
roteiros de uma excursão.
Eu
não gosto de excursões porque sempre se perde tempo com bobagens, esperando
retardatários que não cumprem os horários, e nunca temos tempo suficiente para
ver (e fotografar) as coisas com calma. Com o pequeno viajante junto, gosto
menos ainda.
"Las Malvinas son Argentinas"
as máquinas ficam limpando as estradas o tempo todo
Além
disso, é bom lembrar que as excursões ao Parque Nacional (passeios guiados)
custam 270 pesos por pessoa, enquanto que o aluguel de um carro custa 530
pesos, ou seja, sendo duas pessoas o aluguel de automóvel já compensa e nos dá
nossa preciosa liberdade (e tempo).
Além
disso, por ser zona petrolífera, no sul da Argentina a gasolina é dada de
barata! A única desvantagem é que a gente perde de ouvir o que o guia da
excursão contaria sobre o local (mas ainda assim prefiro a autonomia de um
carro alugado)...
nós fomos lá conhecer a estação ferroviária do "tren del fin del mundo",
mas não deu vontade de fazer o passeio
(achei que seria meio chato para o Felipe...)
Os
aluguéis de carro aqui são caros e difíceis. Liguei da pousada para 3 locadoras
e apenas uma delas, a Localiza, tinha um Corsa disponível, por carérrimos 530
pesos/dia.
Atenção:
cuide se o carro tem "cravos" nos pneus, é difícil andar pela
Patagônia no inverno sem eles. Na verdade, o bom é que tenha "cravos"
nos 4 pneus e mais correntes no porta-malas, para usar em caso de emergência!
Pegamos
nosso Corsinha na Localiza e partimos em direção ao Parque Nacional. Nevava
demais, aliás, começou a nevar na noite anterior, quando chegamos em Ushuaia, e
não parou mais!
entrada do Parque Nacional
O
Parque Nacional Tierra del Fuego fica em direção ao Chile, a oeste (à esquerda
de quem olha o mapa), a gente anda lá dentro pela Ruta Nacional 3 - aliás, é lá que a
RN3 termina, dentro do parque, na fronteira com o Chile! Os argentinos dizem
que é a estrada mais austral do continente americano, mas com certeza os
chilenos devem ter algo diferente a dizer!!!
Para
o lado oposto, à direita de quem olha o mapa (leste), estão os "centros
invernales", lugares onde você pode fazer os passeios de trenó com
cachorros, andar em motos de neve, cross country ski, esquiar, caminhar com
"raquetas" de neve, enfim, qualquer coisa que tenha a ver com neve!
mapa de Ushuaia
Os centros invernales ficam entre 17 e 26km do centro de Ushuaia e são vários
(Tierra Mayor, Nunatak, Altos del Valle, Cerro Castor...). Se você paga o
transfer de 100 pesos (ida e volta) desde o centro da cidade até qualquer um
deles, pode pegar um transporte gratuito entre eles e conhecer todos! É uma boa
pedida, e nós fizemos isso num outro dia (conto mais adiante).
Se
continuar por essa estrada, após passar pelos "centros invernales",
você estará indo para as cidades ao norte.
Mas
nós seguimos para o sul, em direção ao parque, que fica a 13km do centro da
cidade. Outra vantagem de vir no inverno: nessa época, a entrada é gratuita.
Na
portaria, o "guarda parques" nos mencionou apenas 2
"precauciones": dirigir com muito cuidado e não alimentar os
"zorros". Ah, e uma terceira: se tivéssemos problemas, não adiantava
chamá-lo que ele não poderia nos ajudar kkkkkk...
Os
"zorros" são uma mistura de cachorro com raposa, parecem huskies
siberianos amarelados, muito lindos...mas mordem! Cuidado!! Vimos vários deles
andando pelo parque, na beira da estrada...
Da
portaria do parque até o final da RN3 são 24km, e foi esse o trajeto que
fizemos, por 2 motivos: devido à nevasca que caía, era a única estrada que
estava aberta (onde as máquinas haviam passado), e também porque este caminho é
o mais "turístico", passando pela Laguna Negra, Castorera e indo até
a Baía Lapataia, onde a estrada do fim do mundo termina.
Além
desta estrada principal, existem várias outras secundárias, e muitas trilhas,
que em outras épocas do ano devem ser a glória dos caminhantes, mas no inverno
está tudo interditado, atolado de neve!
O
Parque Nacional Tierra del Fuego que nós conhecemos é muito diferente daquele que a
maioria das pessoas (que vêm no verão) conhecem: todo branquinho! O Felipe se
divertiu muito: andávamos um pouco e parávamos um pouco, pra ele brincar na
neve!!! Pelo que eu vi por enquanto, a única vantagem de vir no verão, no meu
entender, é ver os pinguins...vir pra Terra do Fogo e não ver esse cenário
branquinho?!? Alguém aí explica qual é a graça? Deve ser as cores lindas do parque no verão...
Pelo
que eu concluí, a melhor maneira de ir com crianças é com veículo próprio. Em
segundo lugar, com um passeio guiado. Acho que deve ser muito ruim ir com
crianças com o que eles chamam de transfer, que é um ônibus que te deixa lá e
vai te buscar num horário predeterminado, porque as caminhadas entre uma e
outra atrações são muito longas para se fazer com crianças.
Se
você tem sua própria condução, você estaciona o carro e caminha 5min até a
Castorera (bosque destruído pelos castores trazidos - por burrice - para a
Terra do Fogo); depois anda mais uns kms de carro, estaciona e caminha 5min até
a Baía Lapataia - fica tudo muito prático e fácil.
começo da trilha (bem curtinha!) que vai até a Castorera
Mesmo
com toda a neve que caía desde a noite anterior, a estrada estava super boa.
4hs
é tempo mais do que suficiente para ver estas atrações principais do parque se
você estiver com o seu próprio meio de transporte, sem depender (da lentidão)
dos outros.
Castorera no Parque Nacional Tierra del Fuego
Baía Lapataia: fim da Ruta Nacional 3
o parque é bem sinalizado e acessível - inclusive tem trilhas, como esta, que vai até os mirantes da Baía Lapataia, para cadeirantes (teoricamente, pelo menos!)
Saímos
de lá e fomos para o lado oposto da cidade, até o Centro Invernal Tierra Mayor,
abaixo de muita neve. O Tierra Mayor tem passeios de moto de neve, cross
country, raquetas, dogsled e até aqueles "tratores" de andar na neve,
como definiu o Lipe (veículos com esteira). Também tem um ótimo restaurante.
Além disso, tem combinações dessas atividades e um passeio noturno famoso
chamado "Hielo & Fuego" que é super bem recomendado.
Queríamos
fazer o passeio de trenó com os cachorros, mas estava nevando demais, e ia ser
super desconfortável, então decidimos ir com a moto de neve (em que a gente usa capacete e não pega neve no rosto), e foi super
divertido! O Lipe curtiu muito!!! E dá tranquilo para ir um casal com uma
criança de 4 anos numa moto só, e o preço é por moto (320 pesos), e não por
pessoa!
passeio de trenó com os huskies
4X4 com "orrugas"
Depois
voltamos para a cidade e passeamos muito de carro, fomos até o outro lado da
Baía Encerrada ver a vista, vimos o Memorial das Malvinas, os prédios
históricos, os museus, igrejas...e ainda fomos nas lojas Scandinavian e
Montagne!
fomos conhecer os prédios históricos no centro da cidade...
do outro lado da Baía Encerrada as vistas são de cartão postal...
Memorial das Malvinas
Jantamos
no Maria Lola Restó, com ótima vista e comida idem: lomo Sureño e massa com
frutos do mar. Tri recomendável!!
Aluguel
de carro na Localiza: 530 pesos/dia
Gasolina:
5,42 litro (andamos 144km em um dia e gastamos 80 pesos! Muito barato!)
Passeio
em moto de neve: 320 pesos (por moto)
Entrada
no Parque Nacional Tierra del Fuego: grátis, no inverno
Janta
no Maria Lola Restó: 300 pesos
www.marialolaresto.com.ar
massa com frutos do mar no Maria Lola Restó: deu água na boca só de lembrar!!!
Dia 4
Fomos
passar o dia no Cerro Castor, com o transfer que a pousada nos recomendou, Dom
Alejo. Todas as empresas que fazem esse transfer cobram o mesmo preço (100
pesos ida e volta) e têm mais ou menos os mesmos horários: ida às 9, 10 e 11hs e volta às 15
ou 17h30min. Foi o que me informaram, e acredito que o preço seja tabelado
mesmo, o que talvez possa variar um pouco são os horários. A van é super
confortável e o caminho até o Cerro Castor é bem bonito - ele fica a 27km da
cidade.
nossa querida Posada del Fin del Mundo
ajudando o papai a tirar a neve do carro (pura diversão!!!)
Entregamos
o carro na Localiza e a van nos pegou lá (eles te buscam e te deixam onde você
pedir) às 10 horas. Voltamos na van das 17h30min. O preço do transfer é o mesmo
se você descer no primeiro centro invernal ou no último (não tem desconto para
quem faz o trajeto mais curto) - normalmente a última parada é no Cerro Castor.
Se você quer ir até o Haruwen, que é o único que fica depois do Castor, tem que
confirmar com o motorista da van se ele vai até lá.
Outra
ótima opção é usar o transporte gratuito que os centros invernales oferecem.
Existem ônibus que transitam entre os centros e passam de hora em hora em cada
um deles, de graça! Eles distribuem um panfleto com os horários que os buses
chegam e saem de cada centro, então é super fácil de se organizar e passar o
dia todo passeando, se divertindo e conhecendo cada um deles!
Dá para pegar o
transfer do seu hotel (100 pesos) até o Cerro Castor e de lá ir voltando
pingando de centro em centro - num você faz esqui-bunda, no outro faz o passeio
de trenó com cachorros, no outro anda de snowcat, e assim se vai o dia!
prédios da base do Cerro Castor
O
Cerro Castor é menor do que eu imaginava. Para quem conhece o Cerro Bayo, em
Villa La Angostura, tem um pouco mais de infra. Menos infra que Chapelco, pelo
que eu vi. São poucos prédios na base, com poucas lojas e 3 opções de lugares
para comer: uma lancheria/bar, um restaurante mais arrumadinho e um mais chique
(e caro) com pratos de cordero.
Na
montanha tem outros restaurantes, mas só sobe quem está de esquis, e a comida é
básica e cara, segundo o Peg.
Eu
não esquiei, porque fiquei apenas na base, ensinando os primeiros passos pro
Lipe, mas o Peg fez snowboard e gostou. Claro que não se compara com o tamanho
do Catedral em Bariloche, mas tem uns fora de pista divertidos. Um comentário
que eu ouvi de várias pessoas lá (muitos brasileiros!!!!) é que as pistas onde
as equipes europeias treinam ficam destruídas, puro gelo, com uns buracões
(quem olha a montanha de frente vê os sulcos azuis que eles deixam nas pistas,
pena que a minha snapshot não tem zoom pra essa foto...).
Um
parêntesis: vimos dezenas de atletas olímpicos europeus no Cerro Castor (e no
centro da cidade, nas lojas e nos restaurantes também!), porque as seleções da
França, Eslováquia, Suíça, Finlândia...vêm todas treinar aqui, que não tem
muita altitude (como em Valle Nevado, por exemplo), as condições da neve são
boas (parecidas com as deles), as pistas também, a temporada vai de junho a
setembro e imagino que o governo argentino deva ter algum tipo de acordo de
subsídio...
atletas olímpicos europeus
Nevou
muito o dia todo, e uma ventania impressionante. Quando batia forte o vento
dava whiteout, branqueava tudo! O Peg disse que viu um cara de snowboard num
fora de pista atolado até o peito na neve kkkk...
Eu
comprei óculos de neve pro Felipe - dos baratinhos, já que logo deixa de servir
(145 pesos) e aluguei esquis e botas para ele (115 pesos/dia), enquanto o Peg
subia (reclamando que os meios de elevação estavam quase todos fechados devido
à nevasca), e fomos nos divertir nos pequenos declives ali da base - dizem que
4 anos é a idade ideal para começar a aprender.
esquis de aluguel
os primeiros passos do pequeno esquiador da família
Nesse
ponto, achei o Cerro Castor fraco para principiantes. Não tem um snow kids na
base, então quem quer aprender tem que calçar os esquis, pagar o passe de um
dia e subir montanha acima de teleférico. Isso é ok para quem tem uma mínima
noção, sabe parar de pé, desembarcar do teleférico esquiando e tal. Para quem
nunca calçou esquis antes, é tombo certo, e até arriscado.
Até
hoje lembro da minha primeira experiência com esquis, aos 17 anos, em Connecticut:
o inconsequente do George me levou pro summit (ponto mais alto da montanha) e
desci Wachusset Mountain de bunda!
Para
quem não sabe nem descalçar os esquis, mesmo em escolinha é muito difícil
desembarcar das cadeirinhas esquiando!
estreando a filmadora nova (Go Pro Hero 3)!
Além
disso, tem o fator preço: quem quer apenas brincar na neve, ou ensinar uma
criança (meu caso) não quer ter que pagar o passe de dia inteiro, que dá
direito a todos os meios de elevação, para ficar só na zona verde, que é o
playground da montanha, entende?
Por
isso, é muito bom quando os centros de esqui têm snow kids na base, porque daí
você paga só uma taxa baratinha para a criança ficar ali usando os lifts de
roldana e o adulto pode ficar ali ensinando a criança de graça! Nesse ponto o
Glaciar Martial é ótimo!
Para
adultos, o Cerro Castor tem bastante pistas pretas e algumas azuis e vermelhas
(as minhas!). A grande vantagem é que não tem filas nos teleféricos como no
Catedral (Bariloche é muvucado demais!), a temporada é longa e a neve é certa!
Quem
eu vi lá foi o André Espínola, esquiador e comentarista de esportes de inverno
do Sport TV. Parece que vai ter um campeonato importante em Ushuaia ano que vem
(esses campeonatos normalmente acontecem no hemisfério norte no nosso verão).
Cerro Castor visto do teleférico
O
Lipe não teve muita paciência para aprender, e o tempo tava ruim demais para
ele, com rajadas de vento e muita neve na carinha! Acabou tão, mas tãooooo
cansado, que enquanto eu tirava as botas dele, dormiu sentado na cadeira
kkkk...
o pequeno esquiador gostou mesmo foi de fazer bonecos de neve!
De
noite, fomos jantar no Tante Sara, restaurante que fica na San Martin (rua
principal), pertinho das lojas mais legais. A comida estava óoooootima: o Peg
pediu uma salada de carne (bem coisa de argentino, até a salada é de carne!) e
eu fui de tex mex - quesadillas de verduras.
Todos
os restaurantes que nós fomos tinham comida ótima, e todos eram arrumadinhos
mas simples - tipo, dá pra ir de abrigão em qualquer um deles sem se sentir
mal.
Aliás,
não se vê ninguém muito chique por aqui - todo mundo anda bem agasalhado, com
roupas apropriadas não só pro frio, mas também para vento, chuva e neve! Isso
significa que aquele seu casaco de pele, além de daninho para o meio ambiente,
não vai funcionar aqui, viu?!?
Sobre
compras, só o que tem para comprar são chocolates, souvenirs e roupas de alto
inverno. Claro que tem os free shops também, mas eu nem entrei, e pelo que ouvi
por aí, os preços não são muito bons não...
Também
vale dizer que, além dos free shops, quem quiser torrar dinheiro pode ir num
dos cassinos - eu vi 2, um na San Martin e outro (que é uma excrescência
horrorosa) de frente pro Canal de Beagle, na frente do Memorial das Malvinas.
Transfer
para o Cerro Castor: 100 pesos ida e volta por pessoa (Felipe free)
Lifts
Cerro Castor: ver no site, pois os preços mudam a cada temporada (Felipe free - até 4 anos)
Aluguel de esquis para crianças: 115 pesos/dia
Refri
lata no Cerro Castor: 22 pesos
Garrafa
de vinho no Cerro Castor: 60 pesos
Óculos
para neve tamanho infantil: 145 pesos
Kinder
Ovo no Cerro Castor: 15 pesos
Pancho
(cachorro quente) no Cerro Castor: 25 pesos
Janta
no Tante Sara com salada de carne e quesadilla: 240
Nos próximos posts, mais sobre a nossa viagem pela Patagônia - fique ligado!
Cotações (no momento da nossa viagem):
R$ 1 = AR$ 3,47 / U$ 1 = R$ 2,42 / U$ 1 = AR$ 8,40
Você também nos encontra aqui:
Veja mais fotografias desta viagem nas nossas redes sociais, em #operaçaofimdomundo2013.
Assista todos os minifilmes da nossa aventura "patagônica" no Facebook ou os filminhos maiores no YouTube.
Para ler mais, todas as nossas postagens sobre a Patagônia estão organizadas aqui.
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